Leia o texto a seguir.
Respeitável público...!
Um filme que tocou bem dentro da alma. A meu ver, a ambiguidade da
palavra no título (Palhaço) ficou bem nítida. Ao sair do cinema, depois de vê-lo, não foi fácil. O julgamento está bem explícito em todo o enredo, assim
como é nossa sociedade em si. Mais julgamos do que utilizamos do
discernimento nos diversos afluentes do destino. Esse rio em que
percorremos chamado vida nos leva a correntezas contra qual parece que
não há como lutar. Aquele que tenta ir contra a correnteza acaba se
afogando na desilusão e no arrependimento. Será mesmo?
A Filha do Palhaço é um drama dirigido por Pedro Diógenes que conta
a história de Joana (Lis Stutter), uma jovem de apenas 14 anos que não
conhece seu pai Renato (Demick Lopes) muito bem por ter crescido longe
dele. Então, ela vai passar uma semana na companhia dele, um humorista
que se apresenta em diversos ambientes interpretando a personagem
Silvanelly e, nessa semana fatídica, eles aprenderão a lidar um com o outro.
Conhecendo suas intimidades e personalidades, o tempo que passam juntos
também serve para estreitar laços e resolver questões pendentes.
Nunca deixaremos de ser o que somos por simplesmente seguirmos o
percurso de um Rio que é o nosso. Os personagens de "A menina e o
palhaço" nos deixam algo que jamais será engolido por quaisquer
redemoinhos: o amor. Este se manifesta na mais plena e terna compreensão
do entender o outro na sua mais marginalizada relação com o seu ser. Quem
sabe, talvez, ao tentarmos entender o outro, consigamos entender os nossos
próprios fantasmas.
Não que eu tenha me comparado ao protagonista; no entanto, o enredo
e toda a sua percepção no olhar de cada personagem me fizeram olhar todo o conflito como um espelho, em que o reflexo de cada destino se faz de
acordo com cada visão.
Portanto, o que poderia ser considerado uma culpa a abrir uma ferida
dentro da gente vem com uma possibilidade de cicatrização, transformando o
sangue que jorra da chaga em pequenas gotas, prestes a secar, pois as
cicatrizes são verdadeiros manuais para um grande aprendizado nesta
vereda chamada destino. Uma película comovente e convincente que serve
como um divã, sendo a tela o analista, e o espectador, o privilegiado por ter
esse diálogo tão profundo com o seu eu.
(MENDONÇA, Tulius)