Leia o texto, para responder à questão.
“Viver é envelhecer, nada mais.” Hoje, a frase simples
com que a intelectual francesa Simone de Beauvoir (1908-
1986) resumiu a vida e o envelhecimento poderia ter outra
expressão. Se viver é envelhecer, como diz ela, envelhecer,
atualmente, significa viver, e muito. Nos últimos vinte anos,
o ritmo de descobertas, terapias e caminhos abertos para
estender o tempo da vida humana foi incomparavelmente
mais acelerado do que em qualquer outra época da história.
O resultado é que, excetuando-se o período da pandemia
de Covid-19, no qual a expectativa de vida caiu em decorrência das mortes causadas pela doença, a previsão é de
que homens e mulheres vivam a cada ano um pouquinho
mais. Só no Brasil, de 1940 até 2020 a média de vida aumentou 31 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
Para uma espécie que no começo da existência apresentava tempo médio de vida de 20 e poucos anos, é
um deslumbre testemunhar exemplos como os da rainha
Elizabeth II, do Reino Unido, e do presidente Joe Biden,
dos Estados Unidos. Elizabeth é a monarca que por mais
tempo ocupa o trono britânico nos mais de quatro séculos
da monarquia no Reino Unido – setenta anos no poder. Biden
fará 80 anos, no papel do mais velho presidente a ocupar a
Casa Branca. A contar o fôlego demonstrado pela ciência,
as próximas décadas trarão outras mostras fabulosas
do avançar do homem em direção a uma vida longeva e
saudável.
É sempre interessante, insista-se, seguir Simone de
Beauvoir, que abriu a discussão que poucos ousavam
pôr em cena. Inspirada na senilidade do marido, o filósofo
Jean-Paul Sartre (1905-1980), a pensadora trata o assunto
do ponto de vista cultural, jogando luz à desumanização e ao
tratamento oferecido comumente aos idosos nas sociedades
ocidentais, que perpassa o desprezo e a infantilização. Ela
propõe mudanças para desmistificar a ideia de que envelhecer é o processo pelo qual a individualidade se dissipa como
nuvem após a tempestade, restando no lugar de um indivíduo
apenas uma máquina desgastada mantida em operação por
meio de acertos aqui e ali.
(Cilene Pereira e Simone Banes, Na direção do tempo.
Veja, 12-01-2022. Adaptado.)