Minhas maturidade
Circunspecção, siso, prudência.
Mario Prata
É o que o homem pensa durante anos, enquanto envelhece.
Já está perto dos 50 e a pergunta ainda martela. Um dia ele vai
amadurecer.
Quando um homem descobre que não é necessário
escovar os dentes com tanta rapidez, tenha certeza, ele virou
um homem maduro. Só sendo mesmo muito imaturo para
escovar os dentes com tanta pressa.
E o amarrar do sapato pode ser mais tranqüilo, arrumando-se
uma posição menos incômoda, acertando as pontas.
(...)
Não sente culpa de nada. Mas, se sente, sofre como
nunca. Mas já é capaz de assistir à sessão da tarde sem a
culpa a lhe desviar a atenção.
É um homem mais bonito, não resta a menor dúvida.
Homem maduro não bebe, vai à praia.
Não malha: a malhação denota toda a imaturidade de
quem a faz. Curtir o corpo é ligeiramente imaturo.
(...)
Sorri tranqüilo quando pensa que a pressa é coisa daqueles
imaturos.
O homem maduro gosta de mulheres imaturas. Fazer o
quê?
Muda muito de opinião. Essa coisa de ter sempre a mesma
opinião, ele já foi assim.
(...)
Se ninguém segurar, é capaz do homem maduro ficar com
mania de apagar as luzes da casa.
O homem maduro faz palavras cruzadas!
Se você observar bem, ele começa a implicar com horários.
A maturidade faz com que ele não possa mais fazer
algumas coisas. Se pega pensando: sou um homem maduro.
Um homem maduro não pode fazer isso.
O homem maduro começa, pouco a pouco, a se irritar com
as pessoas imaturas.
Depois de um tempo, percebe que está começando é a
sentir inveja dos imaturos.
Será que os imaturos são mais felizes?, pensa, enquanto
começa a escovar os dentes depressa, mais depressa, mais
depressa ainda.
O homem maduro é de uma imaturidade a toda prova.
Meu Deus, o que será de nós, os maduros?
PRATA, Mário. Minhas tudo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda,
2001, pág. 99.