Leia o texto para responder à questão.
Coisas são só coisas
Uma das criadoras do movimento Simplicidade Voluntária, Vicki Robin, critica rigorosamente o consumismo desenfreado e afirma: “Estamos vivendo a doença do muito.” Quem
tem suas necessidades básicas asseguradas e pode consumir além do que precisa é o que mais sofre dessa doença.
Segundo Vicki, nos países mais ricos, as pessoas com
acesso ao consumo estão viciadas no excesso. Vão comprando. E vão acumulando. Num dia é um travesseiro;
no outro, o sapato que vai sair uma única vez do armário.
Surgem depois a roupa de marca, o azeite importado, o carro
do ano, o eletrodoméstico mais moderno – e mais um armário
na casa para acomodar o que se compra.
O que leva muita gente a consumir é a falta de contato
com as próprias coisas. A pessoa se esquece do que tem e,
com a sensação de não ter, acaba comprando mais. Estímulos não faltam: nunca houve tanta oferta e tanta facilidade
para pagar. Outro aspecto que interfere muito é o uso cada
vez menor do dinheiro vivo como forma de pagamento, o que
contribui para estimular compras desnecessárias. Ao pagar
com cartões, a pessoa não sente que está gastando.
Na base do consumo exagerado está a insatisfação permanente do ser humano, a sensação de que sempre falta
algo. Queremos o que não temos, mas, assim que passamos
a ter, aquilo já não nos interessa mais.
Ao refletirmos profundamente a respeito do consumismo,
podemos entender que é muito mais importante investir nos
relacionamentos pessoais – amigos, filhos, colegas de trabalho – pois são eles que nos enriquecem verdadeiramente.
Porque a relação com o consumismo é clara: quanto mais
pobre for nossa vida interior, mais sentiremos necessidade
de ter coisas.
(Leila Ferreira. A arte de ser leve. São Paulo: Globo, 2010. Adaptado)