APRENDER COM AS DERROTAS
Marcos Davi Melo
Talvez por estar acompanhando os jogos da Copa do Mundo do Catar
em casa, com a família, incluindo os netos, alguns ainda muito verdinhos, entre
tantas imagens emocionantes nas arenas e seus arredores, uma delas marcou-me muito: a do excelente goleiro da Polônia Wojcech Szczesny (Ufa!!!),
que, depois de defender um pênalti cobrado por Messi, saiu de campo derrotado, necessitando em seguida consolar o filho pequeno, ainda no túnel que
os conduz do gramado para os vestiários. Nesse caso, a derrota veio logo depois da glória.
Quem está preparado para as derrotas? Quem não sofre com elas?
Nélson Rodrigues (sempre ele!) em uma crônica “Freud no futebol”,
escreveu que, nos EUA, todos tinham um psicanalista e que esse profissional
tinha se tornado tão necessário quanto uma namorada. E o sujeito que, por
qualquer razão eventual, deixava de vê-lo, de ouvi-lo, de farejá-lo, ficava incapacitado para os amores, os negócios e as bandalheiras. Nelson reclamava
que o futebol brasileiro tinha tudo, menos um psicanalista: “Cuida-se das integridades das canelas, mas ninguém se lembra de preservar a saúde interior, o delicadíssimo equilíbrio emocional do jogador”. Coincidência ou não, logo
depois da eliminação precoce da nossa seleção da Copa de 1966 na Inglaterra, os psicólogos passaram a ser uma peça essencial nas equipes nacionais.
Pensando nos nossos filhos e netos, diante de uma indesejável, mas
sempre possível derrota na Copa, segundo os psicólogos, quatro coisas podem se aprender em uma partida de futebol, um jogo de xadrez, ou um simples
par ou ímpar, que podem servir para outros momentos da vida: primeiro,
quando se chega ao lugar mais alto do pódio, quantas vezes ele precisou perder para chegar lá? Os fracassos nos ensinam como vencer. Perdemos a Copa
de 50 em casa e vencemos em 58 na Suécia. Sempre há outra chance, Cristiano Ronaldo pode estar no ocaso de sua vitoriosa carreira como jogador, mas
as portas estão abertas para se consagrar como técnico.
Aprender sobre Empatia: sempre que vemos atletas profissionais comemorando uma conquista, percebemos a intensidade com que pulam, gritam
para mostrar que, enfim, conquistaram algo bastante almejado. Mas como se
sente o rival derrotado, vendo tudo aquilo? Nossos filhos e netos podem até
ficar tentados a imitá-los, mas precisamos orientá-los para que tomem cuidado
com as celebrações exageradas, afinal de contas, no outro dia, podemos estar
do outro lado.
Finalmente, não é só ganhar. Jogos e esportes não são só para mostrar quem pode mais, mas para demonstrar amor pela atividade, estimular a
empatia, o trabalho em equipe e o respeito por quem está ao seu lado e pelo
adversário. É fundamental saber perder, por mais duro que seja, embora não
seja fácil lidar com derrotas e fracassos. As derrotas nos ensinam que nem
tudo são glórias. Elas são importantes, porque nos trazem novas visões e
muito aprendizado. Apropriar-se de um fracasso trazendo isso para o lado pessoal faz sofrer mais. Não se devem criar expectativas além do nosso limite e a
derrota acaba sendo previsível. Saber perder é apenas uma prova de maturidade, por isso é impróprio cobrá-la das crianças, mas é indispensável aos adultos saber administrá-la.
Disponível em: https://d.gazetadealagoas.com.br/opiniao/393942/aprender-com-as-derrotasAcesso em: 14 dez. 2022 (Adaptado)