Escrita terapêutica consiste em escrever
livremente sobre pensamentos, sentimentos e
situações, estimulando a criatividade e resolução
de conflitos. Fazer listas de supermercado,
anotar as tarefas da semana, colocar no papel
os prós e contras diante de uma situação
embaraçosa. Escrever pode tornar a rotina mais
simples, otimizar processos de trabalho e ajudar
a resolver problemas que parecem um grande
quebra-cabeça.
A lista de benefícios é longa e ainda
conta com mais um item: o terapêutico. A escrita
também pode ser utilizada como método
complementar que permite ampliar a qualidade
de vida de pacientes em tratamento contra o
câncer, doenças cardiovasculares ou
neurodegenerativas. Experiências difíceis
transformadas em linguagem falada ou escrita
podem aliviar os sentimentos angustiantes de
quem está passando pela difícil vivência de uma
doença grave.
“A escrita terapêutica consiste em
escrever livremente sobre seus pensamentos,
sentimentos e situações. Não existe uma forma
única correta, e o processo deve ser natural e
do melhor jeito que possa expressar seus
conteúdos. A prática estimula a criatividade, no
sentido de resolução dos nossos conflitos e
problemas. O processo de escrever sobre
nossos conteúdos possibilita nos organizarmos,
entendermos e nos aceitarmos melhor, além de
trazer alívio minimizando sentimentos e
emoções desconfortáveis”, afirma o psicólogo
clínico Ricardo Milito, diretor científico do
Instituto Bem do Estar.
O especialista afirma que a escrita
terapêutica contribui para o processo de
autoconhecimento, que pode abrir caminho para
mudanças no estilo de vida e melhorias para a
saúde mental.
“Uma das melhores maneiras de praticar o
autoconhecimento é escrever sobre suas
emoções, pensamentos e indagações, colocar
para fora seus problemas e sentimentos
disfuncionais e também suas reflexões sobre a
vida. Quando escrevemos o que pensamos,
sentimos e como agimos fica mais fácil termos
consciência e avaliarmos tudo isso”, diz.
Escritos ao longo do tratamento de
doenças potencialmente fatais, três diários de
pacientes e familiares que conseguiram se
recuperar compõem o livro “Diário de uma
angústia”, da editora Máquina de Livros, lançado
neste mês.
Os relatos são do jornalista Mauro
Ventura, que teve um acidente vascular cerebral
(AVC) aos 31 anos, da também jornalista Luciana Medeiros, que fez transplante de
medula, e do médico e psiquiatra Fernando
Boigues, que acompanhou a filha enfrentando
um tumor cerebral aos 26 anos.
Os autores afirmam que a ideia do livro
surgiu em 2018, durante um evento na área de
saúde no qual Mauro Ventura falou sobre a
experiência do AVC, ao lado do pai, o jornalista
Zuenir Ventura. Ao comentar que havia escrito
um diário durante sua internação, um dos
médicos presentes, Fernando Boigues, contou
que havia feito o mesmo, mas durante
a internação da sua filha Fernanda. A partir
desse encontro, Mauro convidou para o livro
Luciana Medeiros, que também havia escrito um
diário durante o transplante de medula para
tratar um linfoma de Manto.
Embora semelhantes no formato e no
propósito, os diários foram originalmente
escritos em suportes diferentes: de Fernando,
num caderno escolar, de Luciana, num blog, e
de Mauro, em papéis soltos. Na primeira parte
do livro, encontram-se os três relatos – “O livro
da Nanda” (Fernando Boigues), “Diário do
Manto” (Luciana Medeiros) e “Notas de uma
mente em desalinho” (Mauro Ventura) – e a
apresentação de Andrew Solomon, autor de
best-sellers mundiais como “O demônio do meio-dia – Uma anatomia da depressão” e “Longe da
árvore”.
“Este livro se propõe a explicar como
recuperar uma mente saudável quando seu
corpo decepcionou você. É um guia para o seu
espírito, que mostra como lidar com a lacuna
traiçoeira entre um corpo sob ataque e uma
mente triunfante. E uma mente triunfante muitas
vezes serve não apenas para se curar, mas
também para ajudar o corpo que ela ocupa”,
escreve Solomon na apresentação do livro.
Na segunda parte, a obra traz
depoimentos de oito profissionais de saúde
sobre a importância da comunicação com os
pacientes e a humanização da medicina. São
relatos de Margareth Dalcolmo (pneumologista),
Christian Dunker (psicanalista), Lorraine Veran
(médica clínica e paliativista), Luiz Roberto
Londres (cardiologista) Margaret Waddington
Binder (psicanalista e psicossomaticista), Mauro
Fantini (biomédico, professor e palhaço), Ivan
Santana (neurocirurgião) e Chrystina Barros
(especialista em gestão de saúde).
“Na prática médica, quem dá o
diagnóstico não somos nós, é o doente; é o que
ele nos narra”, afirma em seu depoimento a
pneumologista Margareth Dalcolmo,
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de
Janeiro. À CNN, a pesquisadora em gestão de
saúde Chrystina Barros conta que descobriu
um câncer de mama durante a pandemia de
Covid-19. “Tive a felicidade de contribuir com
esse projeto para além do meu papel enquanto
profissional, contando um pouquinho da minha vivência enquanto paciente de, no meio da
pandemia, descobrir um câncer de mama. O que
para alguns pode ser uma ironia do destino, por
que eu trabalhei por mais de sete anos com
oncologia, recebi como um presente por que eu
pude navegar por toda a minha linha de cuidado,
ter toda a assistência de uma outra perspectiva,
ao mesmo tempo que mais facilitada”, afirma.
Chrystina afirma que, apesar dos relatos
marcantes presentes na obra, a mensagem
principal dos autores é de esperança. “Eu sabia
o que estava acontecendo e isso tudo, sem
dúvida nenhuma, me impulsionou para buscar
saber sobre felicidade, que é exatamente o
outro ponto depois que a gente vive angústias e
sofrimentos, é exatamente a emoção que a
gente busca e que espera ter no saldo da vida.
É um livro que expõe em muito do sentimento,
da fragilidade e dos papeis que a gente pode ter
enquanto paciente, família e profissional, mas
todos nós em nossa humanidade. Essa é a
grande contribuição para falarmos de angústia,
mas deixando uma mensagem positiva”,
completa.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/entenda-como-a-escritapode-ajudar-no-processo-de-tratamento-de-doencas/