Creio, logo é!
Quando as informações conflitam com as nossas crenças, reinterpretamos os fatos de acordo com nossas convicções. Se uma previsão falha, em vez de abandonarmos
a crença, buscamos explicações, muitas vezes, irracionais
para justificar ou atenuar o erro e alimentar a crença na previsão. É como desenhar o alvo em torno da flecha e acreditar
na pontaria do arqueiro.
É comum tomarmos decisões baseadas em preferências
inconsistentes, com consequências reais, simplesmente por
rejeitarmos informações e evidências contrárias às nossas
crenças. O autoengano é uma forma de proteger a autoestima e evitar o confronto com a possibilidade de que nossas
certezas estejam erradas.
Quando temos uma opinião positiva sobre uma questão,
buscamos mensagens positivas a respeito de tal fato; quando
a visão é negativa, buscamos mensagens negativas sobre a
questão. De maneira tendenciosa, escolhemos informações
ou desinformações consistentes com as nossas ideologias.
A formação ou modificação de uma opinião envolve reestruturação cognitiva, um processo de aprendizagem. Todos
nós temos alguma dificuldade em reconhecer nossos erros
e reconfigurar nossas ideias. Não é tranquilo desconstruir
concepções antigas, porém reafirmadas, o tempo todo, na
contemporaneidade, por força dos grupos aos quais pertencemos.
Temos a percepção equivocada de que apenas as nossas crenças são úteis ou corretas. Torturamos os fatos e as
evidências contrárias até que eles confessem o que pretendemos.
Mas tudo isso é muito antigo. “Uma vez que o entendimento de um homem se baseia em algo, seja porque é uma
crença já aceita ou porque o agrada, isso atrai tudo a sua
volta para apoiar e concordar com a opinião adotada. Mesmo
que um número maior de evidências contrárias seja encontrado, ele as ignora ou desconsidera, ou faz distinções sutis
para rejeitá-las, preservando a autoridade de suas primeiras
concepções” (Bacon, 1620).
(Mara Lúcia Madureira. Painel de ideias.
Diário da Região, 28.03.2024. Adaptado)