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Q2525445 Português
Vizinha

Vizinha,
me dá um pouco da tua sopa
me deixa partilhar o azeite
e as batatas da tua ceia
estou tão triste.

A esta hora da noite
vocês são ao redor da mesa
uma família
e o vapor da sopa embaça os óculos do homem
e as crianças riem.

Sei muito bem das tuas dificuldades
que o dinheiro é pouco e a paixão já se acabou
porém, vizinha,
tua sopa cheira bem, teus filhos estão crescendo,
tens um canário e rosas
e não sabes de nada;
abre a porta, vizinha, e me admite no seio
dessa coisa que um dia eu supus acabada
que eu detesto e desejo
e não compreendo.

Por favor, por favor,
deixa-me entrar, vizinha.
Estou tão triste.


(Renata Pallottini. Cerejas, meu amor... São Paulo:
Ed. Massao Ohno, 1982. Adaptado).

No trecho do poema ─ Sei muito bem das tuas dificuldades/que o dinheiro é pouco e a paixão se acabou/ porém, vizinha, tua sopa cheira bem... ─, as palavras destacadas estabelecem, na ordem em que se apresentam, relação de sentido de
Alternativas
Q2525444 Português
Vizinha

Vizinha,
me dá um pouco da tua sopa
me deixa partilhar o azeite
e as batatas da tua ceia
estou tão triste.

A esta hora da noite
vocês são ao redor da mesa
uma família
e o vapor da sopa embaça os óculos do homem
e as crianças riem.

Sei muito bem das tuas dificuldades
que o dinheiro é pouco e a paixão já se acabou
porém, vizinha,
tua sopa cheira bem, teus filhos estão crescendo,
tens um canário e rosas
e não sabes de nada;
abre a porta, vizinha, e me admite no seio
dessa coisa que um dia eu supus acabada
que eu detesto e desejo
e não compreendo.

Por favor, por favor,
deixa-me entrar, vizinha.
Estou tão triste.


(Renata Pallottini. Cerejas, meu amor... São Paulo:
Ed. Massao Ohno, 1982. Adaptado).

A partir da leitura do poema, é correto afirmar que
Alternativas
Q2525443 Português
Assinale a alternativa em que o emprego do acento indicativo de crase obedece à norma-padrão da língua portuguesa.
Alternativas
Q2525442 Português
Assinale a alternativa em que a pontuação está de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
Alternativas
Q2525441 Português
Comida que conforta


    Pode ser o fim de um romance, as saudades de uma pessoa querida, uma melancolia sem razão aparente, uma crise ou a simples despedida de uma gripe. O fato é que, sentindo uma mistura de tristeza e desamparo, vem, do nada, aquela vontade de tomar a sopa que a mãe fazia, saborear o bolo de cenoura que se levava de lanche para a escola ou comer aquela barra de chocolate que há tanto tempo não fazia mais parte de uma dieta.

    Esses alimentos que a alma, mais do que o corpo, parece exigir em dados momentos é a chamada comida que conforta. São pratos, iguarias ou guloseimas que trazem aconchego e bem-estar emocional. Às vezes, evocam memórias preciosas, outras vezes nos presenteiam com um sabor que anda faltando em nossas vidas. A canja de galinha que anima o doente, a taça transbordante de sorvete que nos faz esquecer, ainda que momentaneamente, as decepções da vida. E a deliciosa combinação de pão com mortadela e guaraná que nos leva de volta à infância – tudo isso é comida que conforta, comida carregada de sentimentos.

    As massas são comidas que confortam clássicas, assim como os pães: alguém consegue ficar triste diante de um pãozinho fresquinho com manteiga ou uma travessa de espaguete com molho de manjericão e tomate fresco? E é bom lembrar: comida que conforta que se preze não economiza em carboidrato, gordura, açúcar e calorias. Comida que conforta tem que ser gostosa e o que é gostoso sempre vem acompanhado de calorias. Por isso conforta, nutre a alma. Mistura sabor de verdade com memórias e sentimentos.


(Leila Ferreira. Viver não dói. São Paulo: Globo, 2013. Adaptado)
Assinale a alternativa em que há palavras ou expressões empregadas com sentido figurado.
Alternativas
Q2525439 Português
Comida que conforta


    Pode ser o fim de um romance, as saudades de uma pessoa querida, uma melancolia sem razão aparente, uma crise ou a simples despedida de uma gripe. O fato é que, sentindo uma mistura de tristeza e desamparo, vem, do nada, aquela vontade de tomar a sopa que a mãe fazia, saborear o bolo de cenoura que se levava de lanche para a escola ou comer aquela barra de chocolate que há tanto tempo não fazia mais parte de uma dieta.

    Esses alimentos que a alma, mais do que o corpo, parece exigir em dados momentos é a chamada comida que conforta. São pratos, iguarias ou guloseimas que trazem aconchego e bem-estar emocional. Às vezes, evocam memórias preciosas, outras vezes nos presenteiam com um sabor que anda faltando em nossas vidas. A canja de galinha que anima o doente, a taça transbordante de sorvete que nos faz esquecer, ainda que momentaneamente, as decepções da vida. E a deliciosa combinação de pão com mortadela e guaraná que nos leva de volta à infância – tudo isso é comida que conforta, comida carregada de sentimentos.

    As massas são comidas que confortam clássicas, assim como os pães: alguém consegue ficar triste diante de um pãozinho fresquinho com manteiga ou uma travessa de espaguete com molho de manjericão e tomate fresco? E é bom lembrar: comida que conforta que se preze não economiza em carboidrato, gordura, açúcar e calorias. Comida que conforta tem que ser gostosa e o que é gostoso sempre vem acompanhado de calorias. Por isso conforta, nutre a alma. Mistura sabor de verdade com memórias e sentimentos.


(Leila Ferreira. Viver não dói. São Paulo: Globo, 2013. Adaptado)
Na frase do segundo parágrafo ─ Às vezes, evocam memórias preciosas...─, as palavras destacadas podem ser substituídas, sem alteração de sentido, por
Alternativas
Q2525438 Português
Comida que conforta


    Pode ser o fim de um romance, as saudades de uma pessoa querida, uma melancolia sem razão aparente, uma crise ou a simples despedida de uma gripe. O fato é que, sentindo uma mistura de tristeza e desamparo, vem, do nada, aquela vontade de tomar a sopa que a mãe fazia, saborear o bolo de cenoura que se levava de lanche para a escola ou comer aquela barra de chocolate que há tanto tempo não fazia mais parte de uma dieta.

    Esses alimentos que a alma, mais do que o corpo, parece exigir em dados momentos é a chamada comida que conforta. São pratos, iguarias ou guloseimas que trazem aconchego e bem-estar emocional. Às vezes, evocam memórias preciosas, outras vezes nos presenteiam com um sabor que anda faltando em nossas vidas. A canja de galinha que anima o doente, a taça transbordante de sorvete que nos faz esquecer, ainda que momentaneamente, as decepções da vida. E a deliciosa combinação de pão com mortadela e guaraná que nos leva de volta à infância – tudo isso é comida que conforta, comida carregada de sentimentos.

    As massas são comidas que confortam clássicas, assim como os pães: alguém consegue ficar triste diante de um pãozinho fresquinho com manteiga ou uma travessa de espaguete com molho de manjericão e tomate fresco? E é bom lembrar: comida que conforta que se preze não economiza em carboidrato, gordura, açúcar e calorias. Comida que conforta tem que ser gostosa e o que é gostoso sempre vem acompanhado de calorias. Por isso conforta, nutre a alma. Mistura sabor de verdade com memórias e sentimentos.


(Leila Ferreira. Viver não dói. São Paulo: Globo, 2013. Adaptado)
Conforme o último parágrafo, a comida que conforta não combina com 
Alternativas
Q2525437 Português
Comida que conforta


    Pode ser o fim de um romance, as saudades de uma pessoa querida, uma melancolia sem razão aparente, uma crise ou a simples despedida de uma gripe. O fato é que, sentindo uma mistura de tristeza e desamparo, vem, do nada, aquela vontade de tomar a sopa que a mãe fazia, saborear o bolo de cenoura que se levava de lanche para a escola ou comer aquela barra de chocolate que há tanto tempo não fazia mais parte de uma dieta.

    Esses alimentos que a alma, mais do que o corpo, parece exigir em dados momentos é a chamada comida que conforta. São pratos, iguarias ou guloseimas que trazem aconchego e bem-estar emocional. Às vezes, evocam memórias preciosas, outras vezes nos presenteiam com um sabor que anda faltando em nossas vidas. A canja de galinha que anima o doente, a taça transbordante de sorvete que nos faz esquecer, ainda que momentaneamente, as decepções da vida. E a deliciosa combinação de pão com mortadela e guaraná que nos leva de volta à infância – tudo isso é comida que conforta, comida carregada de sentimentos.

    As massas são comidas que confortam clássicas, assim como os pães: alguém consegue ficar triste diante de um pãozinho fresquinho com manteiga ou uma travessa de espaguete com molho de manjericão e tomate fresco? E é bom lembrar: comida que conforta que se preze não economiza em carboidrato, gordura, açúcar e calorias. Comida que conforta tem que ser gostosa e o que é gostoso sempre vem acompanhado de calorias. Por isso conforta, nutre a alma. Mistura sabor de verdade com memórias e sentimentos.


(Leila Ferreira. Viver não dói. São Paulo: Globo, 2013. Adaptado)
Segundo informações do texto, comida que conforta é o alimento que se relaciona
Alternativas
Q2525395 Português
Trabalho voluntário



(Disponível em: https://naacao.com.br/voluntariado-o-que-e-e-por-que-e-tao-importante/ – texto adaptado especialmente para esta prova).
No trecho abaixo, retirado do texto, os sinais de pontuação destacados são chamados, respectivamente, de:
“Realizar trabalho voluntário também traz muitos benefícios relacionados à satisfação pessoal para o próprio voluntário, comoImagem associada para resolução da questão comoImagem associada para resolução da questão”.
Alternativas
Q2525260 Português
Um peso, duas medidas

Mãe tem que dar conta sozinha, pai precisa de apoio. Ele nem precisou pedir ajuda, a ajuda apareceu Bebel

Soares | 02/06/2024

    Janaína chegou com a filha de 8 anos naquela cidadezinha rural, que fica a 280 quilômetros de Belo Horizonte. O pai dela estava preso por tráfico, e Janaína não tinha família nem amigos. A moça conheceu Danilo, que já morava naquela cidade há uns cinco anos, e eles acabaram se casando.
   Janaína engravidou, e Danilo as levou para morar longe da cidade. O local ficava a uns oito quilômetros de distância do Centro, uma casinha isolada, num local ermo, com acesso por estrada de terra, sem sinal de celular. Ele era abusivo, a humilhava e a privava de tudo.
    Danilo foi trabalhar como segurança na cidade vizinha, passava a semana lá e, nos fins de semana, ia ver a esposa e as meninas, sempre indo embora e as deixando com poucos recursos. Janaína desenvolveu alcoolismo, bebia cachaça e deixava a filha mais nova sob os cuidados da mais velha. Depois passou a vender bebidas em casa, e a preocupação com a segurança das crianças passou a ser pauta no serviço social da cidade, especialmente em relação a abusos sexuais. As meninas ficaram abandonadas, até que o Conselho Tutelar interveio e ameaçou tirar a guarda das meninas.
    Foi nesse momento que Janaína pediu ajuda: ela queria parar de beber, e não conseguiria fazer isso sozinha. Desde 1967, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o alcoolismo uma doença e é recomendado que autoridades o encarem como uma questão de saúde pública. No entanto, essa mãe, que pedia socorro para se livrar do vício, foi negligenciada. Mesmo pedindo ajuda, era ignorada.
   Quando o marido aparecia, ele a humilhava, dizia que ela o envergonhava, não ajudava e continuava passando as semanas na cidade onde trabalhava, deixando-a sozinha com as crianças e com seu vício.
      Anos depois, a mãe começou a ter crises de dor abdominal, indo ao posto de saúde. Ela precisava ser encaminhada para o hospital referência da cidade, mas se negava, não tinha com quem deixar as crianças. Nessas idas ao posto, ela confidenciava às profissionais que queria mudar. Que queria se arrumar, se cuidar, escovar o cabelo, fazer as unhas, mas não tinha forças para isso.
     As dores abdominais voltavam, ela era encaminhada com urgência para o hospital, mas não ia, não tinha ninguém para ficar com as meninas, mesmo numa emergência tão séria. Não tinha nenhuma rede de apoio. Não podia contar com ninguém, nem com o próprio marido.
    Na última crise, Janaína faleceu. Ela tinha 35 anos e foi levada por uma pancreatite numa manhã de domingo. Estava sozinha, nem o marido a acompanhava. Ela era uma mulher linda, saudável, jovem. Sucumbiu ao etilismo por abandono, pela solidão. Tantas vezes pediu ajuda, e a ajuda nunca veio. Nunca conseguiu uma rede de apoio, nem quando precisava cuidar da própria saúde. Não pôde se tratar ________ precisava ficar com as filhas. Perdeu a vida. Saiu da sua terra para morrer sozinha, numa terra que não era dela, onde ela era invisibilizada.
    Depois de tudo isso, a população se sensibilizou com o pai – sim, ela teve que dar conta sozinha, mas o pobre Danilo, não. “Tadinho do Danilo, coitado... Viúvo, vai precisar de uma grande rede de apoio, já que agora está sozinho com as filhas e precisa trabalhar.”
     Um peso, duas medidas. Mãe tem que dar conta sozinha, pai precisa de apoio. Ele nem precisou pedir ajuda, a ajuda apareceu. Mulheres, mães, se solidarizaram com a situação do pai solo, como se ele fosse a vítima e Janaína tivesse morrido como uma vilã. Como se ela tivesse escolhido o abandono.

(Texto baseado no relato de uma amiga que acompanhou a história. Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos envolvidos.)

SOARES, Bebel. Um peso, duas medidas. Estado de Minas, 02 de junho de 2024. Disponível em: https://www.em.com.br/colunistas/bebelsoares/2024/06/6869183-um-peso-duasmedidas.html. Acesso em: 02 jun. 2024. Adaptado.
Em qual dos trechos abaixo a conjunção “e” grifada veicula um sentido de adversidade para além da adição?
Alternativas
Q2525114 Português
Tempo

     Filtrava-se como se pudesse se esquivar da fúria do tempo. A fúria das horas. A fúria que aflora nas horas de solidão. Era inócua aos seus medos. Mas determinada diante dos seus objetivos.
     Costumava caminhar, e às vezes, percebendo ou não, deixava restos do que ficou e do que sonhava para trás. Pensava, inerte: e se eu voltar? Voltaria, se pudesse? Voltaria, se quisesse? Podia e, vez ou outra, queria. Mas o que ganharia? Não se constroem castelos com pedaços do que ficou. Do que se jogou, justamente por julgar, num momento de inspiração, um peso morto.
     Mas o medo do fim teve fim. Findou-se numa tarde em que o sol se apagou. Num lapso, faltou-lhe ar. Estranhamente, não um sorriso. O mundo veio abaixo. Mas ela não. Nem ela, nem sua pele, nem seus objetivos. O mundo em pó. E ela, só. Mas não tão só. Olhou ao redor. Figuras emergindo das cinzas escuras. Viu-se naqueles rostos. Naqueles olhos confiantes. Naqueles sorrisos de alívio. Pela primeira vez, não se sentiu ameaçada. A ameaça e o tempo não mais andavam de mãos dadas. Desatada, ela conseguiu enfim encarar o futuro.
     Naquele dia, fez as pazes com o tempo.

(MARTINZ, Juliano. Tempo. Corrosiva – crônicas corrosivas e gestos de amor, 2010.)
As palavras a seguir foram retiradas do texto; assinale a alternativa INCORRETA quanto à separação silábica. 
Alternativas
Q2525113 Português
Tempo

     Filtrava-se como se pudesse se esquivar da fúria do tempo. A fúria das horas. A fúria que aflora nas horas de solidão. Era inócua aos seus medos. Mas determinada diante dos seus objetivos.
     Costumava caminhar, e às vezes, percebendo ou não, deixava restos do que ficou e do que sonhava para trás. Pensava, inerte: e se eu voltar? Voltaria, se pudesse? Voltaria, se quisesse? Podia e, vez ou outra, queria. Mas o que ganharia? Não se constroem castelos com pedaços do que ficou. Do que se jogou, justamente por julgar, num momento de inspiração, um peso morto.
     Mas o medo do fim teve fim. Findou-se numa tarde em que o sol se apagou. Num lapso, faltou-lhe ar. Estranhamente, não um sorriso. O mundo veio abaixo. Mas ela não. Nem ela, nem sua pele, nem seus objetivos. O mundo em pó. E ela, só. Mas não tão só. Olhou ao redor. Figuras emergindo das cinzas escuras. Viu-se naqueles rostos. Naqueles olhos confiantes. Naqueles sorrisos de alívio. Pela primeira vez, não se sentiu ameaçada. A ameaça e o tempo não mais andavam de mãos dadas. Desatada, ela conseguiu enfim encarar o futuro.
     Naquele dia, fez as pazes com o tempo.

(MARTINZ, Juliano. Tempo. Corrosiva – crônicas corrosivas e gestos de amor, 2010.)
No trecho Mas o medo do fim teve fim. Findou-se numa tarde em que o sol se apagou.”, que inicia o 3º§, o autor utiliza o vocábulo “mas”. Sobre esta conjunção, assinale a afirmativa correta.
Alternativas
Q2525111 Português
Tempo

     Filtrava-se como se pudesse se esquivar da fúria do tempo. A fúria das horas. A fúria que aflora nas horas de solidão. Era inócua aos seus medos. Mas determinada diante dos seus objetivos.
     Costumava caminhar, e às vezes, percebendo ou não, deixava restos do que ficou e do que sonhava para trás. Pensava, inerte: e se eu voltar? Voltaria, se pudesse? Voltaria, se quisesse? Podia e, vez ou outra, queria. Mas o que ganharia? Não se constroem castelos com pedaços do que ficou. Do que se jogou, justamente por julgar, num momento de inspiração, um peso morto.
     Mas o medo do fim teve fim. Findou-se numa tarde em que o sol se apagou. Num lapso, faltou-lhe ar. Estranhamente, não um sorriso. O mundo veio abaixo. Mas ela não. Nem ela, nem sua pele, nem seus objetivos. O mundo em pó. E ela, só. Mas não tão só. Olhou ao redor. Figuras emergindo das cinzas escuras. Viu-se naqueles rostos. Naqueles olhos confiantes. Naqueles sorrisos de alívio. Pela primeira vez, não se sentiu ameaçada. A ameaça e o tempo não mais andavam de mãos dadas. Desatada, ela conseguiu enfim encarar o futuro.
     Naquele dia, fez as pazes com o tempo.

(MARTINZ, Juliano. Tempo. Corrosiva – crônicas corrosivas e gestos de amor, 2010.)
O trecho “Naquele dia, fez as pazes com o tempo.” (4º§) nos permite compreender que: 
Alternativas
Q2525109 Português
Tempo

     Filtrava-se como se pudesse se esquivar da fúria do tempo. A fúria das horas. A fúria que aflora nas horas de solidão. Era inócua aos seus medos. Mas determinada diante dos seus objetivos.
     Costumava caminhar, e às vezes, percebendo ou não, deixava restos do que ficou e do que sonhava para trás. Pensava, inerte: e se eu voltar? Voltaria, se pudesse? Voltaria, se quisesse? Podia e, vez ou outra, queria. Mas o que ganharia? Não se constroem castelos com pedaços do que ficou. Do que se jogou, justamente por julgar, num momento de inspiração, um peso morto.
     Mas o medo do fim teve fim. Findou-se numa tarde em que o sol se apagou. Num lapso, faltou-lhe ar. Estranhamente, não um sorriso. O mundo veio abaixo. Mas ela não. Nem ela, nem sua pele, nem seus objetivos. O mundo em pó. E ela, só. Mas não tão só. Olhou ao redor. Figuras emergindo das cinzas escuras. Viu-se naqueles rostos. Naqueles olhos confiantes. Naqueles sorrisos de alívio. Pela primeira vez, não se sentiu ameaçada. A ameaça e o tempo não mais andavam de mãos dadas. Desatada, ela conseguiu enfim encarar o futuro.
     Naquele dia, fez as pazes com o tempo.

(MARTINZ, Juliano. Tempo. Corrosiva – crônicas corrosivas e gestos de amor, 2010.)
Após a leitura da crônica, é possível afirmar que: 
Alternativas
Q2525067 Português

A cartomante 


     Não havia dúvida que naqueles atrasos e atrapalhações de sua vida alguma influência misteriosa preponderava. Era ele tentar qualquer coisa, logo tudo mudava. Esteve quase para arranjar-se na saúde pública; mas assim que obteve um bom “pistolão”, toda a política mudou. Se jogava no bicho, era sempre o grupo seguinte ou o anterior que dava. Tudo parecia mostrar-lhe que ele não deveria ir para diante. Se não fossem as costuras da mulher, não sabia bem como poderia ter vivido até ali. Há cinco anos que não recebia vintém de seu trabalho. Uma nota de dois mil-réis, se alcançava ter na algibeira por vezes, era obtida com o auxílio de não sabia quantas humilhações, apelando para a generosidade dos amigos.

     Queria fugir, fugir para bem longe, onde a sua miséria atual não tivesse o realce da prosperidade passada; mas, como fugir? Onde havia de buscar dinheiro que o transportasse, a ele, à mulher e aos filhos? Viver assim era terrível! Preso à sua vergonha como a uma calceta, sem que nenhum código e juiz tivessem condenado, que martírio!

     A certeza, porém, de que todas as suas infelicidades vinham de uma influência misteriosa, deu-lhe mais alento. Se era “coisa-feita”, havia de haver por força quem a desfizesse. Acordou mais alegre e se não falou à mulher alegremente era porque ela já havia saído. Pobre de sua mulher! Avelhantada precocemente, trabalhando que nem uma moura, doente, entretanto a sua fragilidade transformava-se em energia para manter o casal.

     Ela saía, virava a cidade, trazia costuras, recebia dinheiro, e aquele angustioso lar ia se arrastando, graças aos esforços da esposa. 
     Bem! As coisas iam mudar! Ele iria a uma cartomante e havia de descobrir o que é que atrasava sua vida.

     Saiu, foi à venda e consultou o jornal. Havia muitos videntes, espíritas, teósofos anunciados; mas simpatizou com uma cartomante, cujo anúncio dizia assim: “Madame Dadá, sonâmbula, extralúcida, deita as cartas e desfaz toda a espécie de feitiçaria, principalmente a africana. Rua, etc.”.
     Não quis procurar outra; era aquela, pois já adquirira a convicção de que aquela sua vida vinha sendo trabalhada pela mandinga de algum preto-mina, a soldo do seu cunhado, Castrioto, que jamais vira com bons olhos o seu casamento com a irmã.

     Arranjou com o primeiro conhecido que encontrou o dinheiro necessário, e correu depressa para a casa de Madame Dadá.

     O mistério ia desfazer-se e o malefício ser cortado. A abastança voltaria a casa; compraria um terno para Zezé, umas botinas para Alice, a filha mais moça; e aquela cruciante vida de cinco anos havia de lhe ficar na memória como passageiro pesadelo.

     Pelo caminho tudo lhe sorria. Era o sol muito claro, e doce, um sol de junho; eram as fisionomias risonhas dos transeuntes; e o mundo que até ali lhe aparecia mau e turvo, repentinamente lhe surgia claro e doce.

     Entrou, esperou um pouco, com o coração a lhe saltar do peito.
     O consulente saiu e ele foi afinal à presença da pitonisa. Era sua mulher.

(Contos completos de Lima Barreto. Por: Lima Barreto. 2010. Adaptado.) 

Considerando as informações do texto, assinale a afirmativa indevida. 
Alternativas
Q2525066 Português

A cartomante 


     Não havia dúvida que naqueles atrasos e atrapalhações de sua vida alguma influência misteriosa preponderava. Era ele tentar qualquer coisa, logo tudo mudava. Esteve quase para arranjar-se na saúde pública; mas assim que obteve um bom “pistolão”, toda a política mudou. Se jogava no bicho, era sempre o grupo seguinte ou o anterior que dava. Tudo parecia mostrar-lhe que ele não deveria ir para diante. Se não fossem as costuras da mulher, não sabia bem como poderia ter vivido até ali. Há cinco anos que não recebia vintém de seu trabalho. Uma nota de dois mil-réis, se alcançava ter na algibeira por vezes, era obtida com o auxílio de não sabia quantas humilhações, apelando para a generosidade dos amigos.

     Queria fugir, fugir para bem longe, onde a sua miséria atual não tivesse o realce da prosperidade passada; mas, como fugir? Onde havia de buscar dinheiro que o transportasse, a ele, à mulher e aos filhos? Viver assim era terrível! Preso à sua vergonha como a uma calceta, sem que nenhum código e juiz tivessem condenado, que martírio!

     A certeza, porém, de que todas as suas infelicidades vinham de uma influência misteriosa, deu-lhe mais alento. Se era “coisa-feita”, havia de haver por força quem a desfizesse. Acordou mais alegre e se não falou à mulher alegremente era porque ela já havia saído. Pobre de sua mulher! Avelhantada precocemente, trabalhando que nem uma moura, doente, entretanto a sua fragilidade transformava-se em energia para manter o casal.

     Ela saía, virava a cidade, trazia costuras, recebia dinheiro, e aquele angustioso lar ia se arrastando, graças aos esforços da esposa. 
     Bem! As coisas iam mudar! Ele iria a uma cartomante e havia de descobrir o que é que atrasava sua vida.

     Saiu, foi à venda e consultou o jornal. Havia muitos videntes, espíritas, teósofos anunciados; mas simpatizou com uma cartomante, cujo anúncio dizia assim: “Madame Dadá, sonâmbula, extralúcida, deita as cartas e desfaz toda a espécie de feitiçaria, principalmente a africana. Rua, etc.”.
     Não quis procurar outra; era aquela, pois já adquirira a convicção de que aquela sua vida vinha sendo trabalhada pela mandinga de algum preto-mina, a soldo do seu cunhado, Castrioto, que jamais vira com bons olhos o seu casamento com a irmã.

     Arranjou com o primeiro conhecido que encontrou o dinheiro necessário, e correu depressa para a casa de Madame Dadá.

     O mistério ia desfazer-se e o malefício ser cortado. A abastança voltaria a casa; compraria um terno para Zezé, umas botinas para Alice, a filha mais moça; e aquela cruciante vida de cinco anos havia de lhe ficar na memória como passageiro pesadelo.

     Pelo caminho tudo lhe sorria. Era o sol muito claro, e doce, um sol de junho; eram as fisionomias risonhas dos transeuntes; e o mundo que até ali lhe aparecia mau e turvo, repentinamente lhe surgia claro e doce.

     Entrou, esperou um pouco, com o coração a lhe saltar do peito.
     O consulente saiu e ele foi afinal à presença da pitonisa. Era sua mulher.

(Contos completos de Lima Barreto. Por: Lima Barreto. 2010. Adaptado.) 

A alternativa em que a oração assinalada expressa ideia de conclusão é: 
Alternativas
Q2525057 Português
Julgue o item a seguir. 
A palavra "gente" quando usada na frase "A gente está cansada" comporta-se como um substantivo plural, devido ao uso de um verbo e um adjetivo no plural para concordar com ela. 
Alternativas
Q2525048 Português
Julgue o item a seguir. 
As locuções adverbiais são expressões formadas por duas ou mais palavras que funcionam como um advérbio, podendo expressar circunstâncias variadas como tempo, modo, lugar e intensidade. Um exemplo é a frase "Ele agiu de maneira inesperada", na qual "de maneira inesperada" é uma locução adverbial de modo. 
Alternativas
Q2525045 Português
Julgue o item a seguir. 
Os advérbios de intensidade podem modificar não apenas verbos, mas também adjetivos e outros advérbios, como exemplificado na frase "Ela é extremamente inteligente e fala muito rapidamente". 
Alternativas
Q2525040 Português
Julgue o item a seguir. 
O processo de derivação imprópria ocorre quando uma palavra muda de classe gramatical e sua forma ortográfica é alterada. Por exemplo, a palavra "correr" (verbo) ao ser usada como substantivo na frase "O correr do tempo é inevitável" se transforma em "corrida". 
Alternativas
Respostas
5061: C
5062: A
5063: C
5064: B
5065: D
5066: B
5067: D
5068: B
5069: D
5070: D
5071: D
5072: C
5073: C
5074: C
5075: B
5076: A
5077: E
5078: C
5079: C
5080: E