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O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
Estava __________ a _________ da guerra, pois os terroristas _____________ nos erros do passado.
A alternativa que completa corretamente as lacunas é:
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
Preencha as lacunas com as formas adequadas dos verbos entre parênteses.
Se ele ___________ (manter) a palavra e ___________ (vir) na próxima semana, tudo estará resolvido.
Selecione a seqüência correta.
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
Considere as seguintes assertivas:
I. Os professores universitários deveriam reclamar incisivamente dos baixos salários por eles percebidos.
II. As pessoas que não receberam uma educação de qualidade deveriam ser alijadas das discussões acadêmicas.
III. Entre os deveres dos homens de ciências e de letras, está o de participar da vida nacional.
De acordo com o texto:
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)
“Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual”.
No trecho acima transcrito, o autor refere-se:
O DEVER DA IMPOPULARIDADE
Faz algum tempo, participei de uma mesa-redonda, tripulada por grandes figuras de nossas letras e intelectualidade. Na audiência, milhares de pessoas aplaudiam as frases bem esculpidas, as sínteses elegantes e as críticas virulentas. Um belo espetáculo de uso eloqüente da palavra.
Mas fui para casa com um grande desconforto. Essas pessoas estavam traindo os deveres essenciais do intelectual: 1) dizer o que precisa ser dito de acordo com o julgamento próprio e não dizer o que traz aplauso; 2) mostrar o caminho percorrido e não a resposta pronta; 3) não falar sobre o que não entende, pois desvaloriza a própria atividade intelectual. Meus colegas de mesa haviam pecado.
Falar mal do governo traz aplausos? Pois lancemos uma crítica fulminante. Qual é a bola da vez? Perdoemos talvez os políticos que precisam de votos ou que não tiveram tão burilada educação. Mas, se a liberdade de cátedra e a estabilidade funcional dos professores não lhes dão coragem o bastante para dizer o que pensam, para que servirão?
Quantas vezes ouvimos professores de universidades públicas falando em privado contra os desmandos lá observados, mas sem ousar repeti-lo em público. Onde está a ousadia para reclamar dos colegas que não dão aulas ou não cumprem muitas outras regras, sendo seus salários pagos pelo contribuinte? Onde está a responsabilidade social para reclamar em público de quem denigre a reputação da universidade, pela preguiça, indolência ou desperdício? Onde estão nossos cientistas de primeira linha quando se arrastam greves sem inspiração?
Aqueles que, à custa de enormes gastos do contribuinte receberam a mais primorosa educação têm o dever de educar os que não tiveram esse privilégio. Portanto, a frase feita com a resposta não é o que se espera. O que se espera é que mostrem o caminho que os leva a esta ou àquela conclusão. Afinal de contas, em ciência o que valida os resultados são a limpidez da lógica e o uso disciplinado das informações. É sua competência nessa manipulação simbólica e empírica que valida o resultado, não a extensão dos currículos ou o impacto político do que é dito. Não basta dizer que o governo é imbecil ou a oposição ridícula, a política daquele partido cretina ou que a globalização é uma trama diabólica. Repetir essas palavras está ao alcance de qualquer um. É preciso explicar, guiar, mostrar a lógica do raciocínio e as margens de erro contidas nas análises. É mais difícil, mais enfadonho, produz menos frases de efeito e poucas palmas. Mas é o que a sociedade deveria esperar.
A reputação na ciência e nas letras é conseguida à custa de dedicação e disciplina. Não vem do dia para a noite o domínio da profissão. Portanto, ao defrontar-se com um público e morrer de vontade de ser aplaudido, é preciso resistir à tentação de falar com leviandade sobre as ciências dos outros. Quem anda falando do Proer conhece a história dos bancos e do que já aconteceu em clima de pânico? Quem fala em renegar a dívida externa sabe o que aconteceu com todos os que tentaram fazê-lo? Sabem quanto aumentou o spread do juro ao Brasil quando um presidente deu uma única declaração de que não ia pagar a dívida? Melhorar a distribuição de renda? É preciso dizer como. Os não-economistas não podem ser alijados dessas discussões. Mas tampouco podem olimpicamente ignorar o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso é tanto mais grave e imperdoável quando dito por pessoas cuja vida foi dedicada a dominar algum campo do saber e, por pura vaidade, desrespeitam outras áreas que requerem pelo menos tanto esforço para dominar.
Nossos homens de ciências e de letras têm obrigações perante a sociedade. Sua ânsia de ser aplaudidos não pode obliterar esses deveres. Eles têm de criticar, mostrar problemas, participar da vida nacional. Mas o que deve falar é sua consciência, e não a vontade de ganhar palmas. Esperamos deles a coragem dos comunistas que denunciaram o stalinismo ou dos direitistas que denunciaram o macarthismo. O primeiro dever é o da impopularidade.
(Claudio de Moura Castro - Revista Veja, 7 de novembro, 2009)