A DURA ARTE DE SER PROFESSOR NO BRASIL: PAÍS É LÍDER NO
RANKING DE AGRESSÕES CONTRA DOCENTES
Gisella Meneguelli - Revista GreenMe - 23.10.19
Uma pesquisa feita Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), coloca o Brasil na triste
posição de líder em agressões contra docentes
Foi-se a época de respeito aos professores. Hoje, no Brasil, eles
têm sido inclusive atacados por representantes dos governos,
em um discurso, infelizmente, aceito de forma acrítica por
grande parte da sociedade.
Além das agressões, as condições de trabalho dos docentes,
como, por exemplo, a situação desses profissionais no Rio de
Janeiro, em cujas escolas eles têm de conviver com conflitos
armados € ameaças de estudantes, familiares e de membros
da comunidade.
O estresse a que são submetidos os professores têm
provocado uma onda de afastamento para tratamento de
saúde. Em 2018, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de
Janeiro concedeu 3.055 licenças por transtorno, depressão e
esquizofrenia - número correspondente a 8% do quadro de
professores do município.
O programa da EBC, Radio Nacional Jovem, conversou com o
psicanalista Flávio Calile sobre essa pesquisa da OCDE. Na
opinião dele:
"O professor sofre muito com a violência, com calúnia, com
difamação, até às vezes xingamento. A própria pressão do
ambiente de trabalho é uma violência contra ele. Entre os
alunos mais jovens, nós temos aqueles que xingam o professor,
aluno que pressiona ele por conta de nota. Então, é essa
pressão moral mesmo, essa violência moral que os professores
sofrem em sala de aula. E quando o professor não cede a essas
questões ele acaba sofrendo violência física”.
A diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal
(Sinpro-DF), Rosilene Corrêa, analisa que:
"Nossa profissão é tão desvalorizada que alunos e pais se
acham com pleno direito de nos agredir. O governo precisa
entender que a violência vem de fora para dentro da escola e
isso não muda com militarização".
No Distrito Federal, 97% dos professores da rede pública já
presenciaram algum tipo de violência, sendo que 57% foram
vítimas dela. Segundo o Sinpro-DF, cerca de 40% das agressões
são cometidas pelos próprios alunos e 20%, pelos pais.
Algumas pessoas têm acreditado que o modelo de escola
cívico-militar, proposto pelo governo federal, pode conter a
onda de violência nas escolas. O presidente Jair Bolsonaro
assinou um decreto para criar 216 escolas nesse modelo até
2023.
O chefe da divisão de inovação e medição de progressos em
educação da OCDE, Dirk Van Damme, tem uma outra visão
sobre o resultado da pesquisa: "A escola hoje está mais aberta
à sociedade. Os alunos levam para a aula seus problemas
cotidianos”, disse à BBC Brasil.
Van Damme destaca que a valorização dos profissionais é
fundamental para o desenvolvimento dos sistemas
educacionais. Isso passa por melhores condições de trabalho, melhores salários, melhoria na infraestrutura escolar, plano de
carreira para o magistério, formação continuada.
Dados do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
(CDEs) da Presidência da República, referentes a junho de
2019, mostram que a remuneração média dos professores
brasileiros é de pouco menos de R$ 1,9 mil por mês. Já a média
salarial dos professores dos países da OCDE é de US$ 30 mil
(cerca de R$ 68,2 mil - o equivalente a R$ 5,7 mil por mês), o
triplo do valor pago pelo Brasil.
A OCDE menciona a relação dos países asiáticos com os
professores, o que demonstra o êxito deles na pesquisa, já que
na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice de
violência aos professores é zero.
“Em países asiáticos, os professores possuem uma real
autoridade pedagógica. Alunos e pais de estudantes não
contestam suas decisões ou sanções”, pontua Van Damme.