A questão de número baseia-se no
texto apresentado abaixo.
Não há, com relação a doces, nem com relação a guisados, um gosto que, apenas fisiológico, seja especificamente
universal: do Homem e não de homens situados; da sociedade
humana e não de uma sociedade; de todas as sociedades e
não de umas tantas sociedades. O que Marx impugnou em
Hegel com relação à Idéia – que seria um princípio metafísico
ou uma essência poderia impugnar ao teórico do Paladar que
o considerasse expressão de um princípio apenas fisiológico,
independente de circunstâncias, em vez de expressão, principalmente, de um “princípio social”. Machado acertou. Revelouse um sociólogo dos que opõem à tirania do essencial a
validade do existencial. Pois a verdade parece ser realmente
esta: a das nossas preferências de paladar serem condicionadas, nas suas expressões específicas, pelas sociedades a que
pertencemos, pelas culturas de que participamos, pelas ecologias em que vivemos os anos decisivos da nossa existência.
(Gilberto Freyre, Açúcar. Coleção Canavieira n. 2. Divulgação do
Ministério da Indústria e do Comércio, Instituto do Açúcar e do
Álcool, 1969, p. 44)