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Releia o Texto 1 e leia o Texto 2 para responder às questões de 08 a 10.
Texto 1
Cem cruzeiros a mais
Ao receber certa quantia num guichê do Ministério, verificou que o funcionário lhe havia dado cem cruzeiros a mais. Quis voltar para devolver, mas outras pessoas protestaram: entrasse na fila.
Esperou pacientemente a vez, para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro:
– Tenham paciência, mas está na hora do meu café.
Agora era uma questão de teimosia. Voltou à tarde, para encontrar fila maior – não conseguiu sequer aproximar- se do guichê antes de encerrar-se o expediente.
No dia seguinte era o primeiro da fila:
– Olha aqui: o senhor ontem me deu cem cruzeiros a mais.
– Eu?
Só então reparou que o funcionário era outro.
– Seu colega, então. Um de bigodinho.
– O Mafra.
– Se o nome dele é Mafra, não sei dizer.
– Só pode ter sido o Mafra. Aqui só trabalhamos eu e o Mafra. Não fui eu. Logo...
Ele coçou a cabeça, aborrecido:
– Está bem, foi o Mafra. E daí?
O funcionário lhe explicou com toda urbanidade que não podia responder pela distração do Mafra:
– Isto aqui é uma pagadoria, meu chapa. Não posso receber, só posso pagar. Receber, só na recebedoria. O próximo!
O próximo da fila, já impaciente, empurrou-o com o cotovelo. Amar o próximo como a ti mesmo! Procurou conter-se e se afastou, indeciso. Num súbito impulso de indignação – agora iria até o fim – dirigiu-se à recebedoria.
– O Mafra? Não trabalha aqui, meu amigo, nem nunca trabalhou.
– Eu sei. Ele é da pagadoria. Mas foi quem me deu os cem cruzeiros a mais.
Informaram-lhe que não podiam receber: tratava-se de uma devolução, não era isso mesmo? E não de pagamento. Tinha trazido a guia? Pois então? Onde já se viu pagamento sem guia? Receber mil cruzeiros a troco de quê?
– Mil não: cem. A troco de devolução.
– Troco de devolução. Entenda-se.
– Pois devolvo e acabou- se.
– Só com o chefe. O próximo!
O chefe da seção já tinha saído: só no dia seguinte. No dia seguinte, depois de fazê-lo esperar mais de meia hora, o chefe informou-lhe que deveria redigir um ofício historiando o fato e devolvendo o dinheiro.
– Já que o senhor faz tanta questão de devolver.
– Questão absoluta.
– Louvo o seu escrúpulo.
– Mas o nosso amigo ali do guichê disse que era só entregar ao senhor – suspirou ele. – Quem disse isso?
– Um homem de óculos naquela seção do lado de lá. Recebedoria, parece.
– O Araújo. Ele disse isso, é? Pois olhe: volte lá e diga-lhe para deixar de ser besta. Pode dizer que fui eu que falei. O Araújo sempre se metendo a entendido!
– Mas e o ofício? Não tenho nada com essa briga, vamos fazer logo o ofício.
– Impossível: tem de dar entrada no protocolo.
Saindo dali, em vez de ir ao protocolo, ou ao Araújo para dizer-lhe que deixasse de ser besta, o honesto cidadão dirigiu- se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por cima do vidro e foi-se embora.
SABINO, Fernando. Disponível em: < http://www.velhosamigos.com.br/Colaboradores /Diversos/fernandosabino2.html >. Acesso em: 13 abr. 2015.
Nos Textos 1 e 2, a palavra “Próximo!” auxilia na produção do
Releia o Texto 1 e leia o Texto 2 para responder às questões de 08 a 10.
Texto 1
Cem cruzeiros a mais
Ao receber certa quantia num guichê do Ministério, verificou que o funcionário lhe havia dado cem cruzeiros a mais. Quis voltar para devolver, mas outras pessoas protestaram: entrasse na fila.
Esperou pacientemente a vez, para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro:
– Tenham paciência, mas está na hora do meu café.
Agora era uma questão de teimosia. Voltou à tarde, para encontrar fila maior – não conseguiu sequer aproximar- se do guichê antes de encerrar-se o expediente.
No dia seguinte era o primeiro da fila:
– Olha aqui: o senhor ontem me deu cem cruzeiros a mais.
– Eu?
Só então reparou que o funcionário era outro.
– Seu colega, então. Um de bigodinho.
– O Mafra.
– Se o nome dele é Mafra, não sei dizer.
– Só pode ter sido o Mafra. Aqui só trabalhamos eu e o Mafra. Não fui eu. Logo...
Ele coçou a cabeça, aborrecido:
– Está bem, foi o Mafra. E daí?
O funcionário lhe explicou com toda urbanidade que não podia responder pela distração do Mafra:
– Isto aqui é uma pagadoria, meu chapa. Não posso receber, só posso pagar. Receber, só na recebedoria. O próximo!
O próximo da fila, já impaciente, empurrou-o com o cotovelo. Amar o próximo como a ti mesmo! Procurou conter-se e se afastou, indeciso. Num súbito impulso de indignação – agora iria até o fim – dirigiu-se à recebedoria.
– O Mafra? Não trabalha aqui, meu amigo, nem nunca trabalhou.
– Eu sei. Ele é da pagadoria. Mas foi quem me deu os cem cruzeiros a mais.
Informaram-lhe que não podiam receber: tratava-se de uma devolução, não era isso mesmo? E não de pagamento. Tinha trazido a guia? Pois então? Onde já se viu pagamento sem guia? Receber mil cruzeiros a troco de quê?
– Mil não: cem. A troco de devolução.
– Troco de devolução. Entenda-se.
– Pois devolvo e acabou- se.
– Só com o chefe. O próximo!
O chefe da seção já tinha saído: só no dia seguinte. No dia seguinte, depois de fazê-lo esperar mais de meia hora, o chefe informou-lhe que deveria redigir um ofício historiando o fato e devolvendo o dinheiro.
– Já que o senhor faz tanta questão de devolver.
– Questão absoluta.
– Louvo o seu escrúpulo.
– Mas o nosso amigo ali do guichê disse que era só entregar ao senhor – suspirou ele. – Quem disse isso?
– Um homem de óculos naquela seção do lado de lá. Recebedoria, parece.
– O Araújo. Ele disse isso, é? Pois olhe: volte lá e diga-lhe para deixar de ser besta. Pode dizer que fui eu que falei. O Araújo sempre se metendo a entendido!
– Mas e o ofício? Não tenho nada com essa briga, vamos fazer logo o ofício.
– Impossível: tem de dar entrada no protocolo.
Saindo dali, em vez de ir ao protocolo, ou ao Araújo para dizer-lhe que deixasse de ser besta, o honesto cidadão dirigiu- se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por cima do vidro e foi-se embora.
SABINO, Fernando. Disponível em: < http://www.velhosamigos.com.br/Colaboradores /Diversos/fernandosabino2.html >. Acesso em: 13 abr. 2015.
A palavra “Próximo!” é empregada nos Textos 1 e 2 significando que
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Texto 1
Cem cruzeiros a mais
Ao receber certa quantia num guichê do Ministério, verificou que o funcionário lhe havia dado cem cruzeiros a mais. Quis voltar para devolver, mas outras pessoas protestaram: entrasse na fila.
Esperou pacientemente a vez, para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro:
– Tenham paciência, mas está na hora do meu café.
Agora era uma questão de teimosia. Voltou à tarde, para encontrar fila maior – não conseguiu sequer aproximar-se do guichê antes de encerrar-se o expediente.
No dia seguinte era o primeiro da fila:
– Olha aqui: o senhor ontem me deu cem cruzeiros a mais.
– Eu?
Só então reparou que o funcionário era outro.
– Seu colega, então. Um de bigodinho.
– O Mafra.
– Se o nome dele é Mafra, não sei dizer.
– Só pode ter sido o Mafra. Aqui só trabalhamos eu e o Mafra. Não fui eu. Logo...
Ele coçou a cabeça, aborrecido:
– Está bem, foi o Mafra. E daí?
O funcionário lhe explicou com toda urbanidade que não podia responder pela distração do Mafra:
– Isto aqui é uma pagadoria, meu chapa. Não posso receber, só posso pagar. Receber, só na recebedoria. O próximo!
O próximo da fila, já impaciente, empurrou-o com o cotovelo. Amar o próximo como a ti mesmo! Procurou conter-se e se afastou, indeciso. Num súbito impulso de indignação – agora iria até o fim – dirigiu-se à recebedoria.
– O Mafra? Não trabalha aqui, meu amigo, nem nunca trabalhou.
– Eu sei. Ele é da pagadoria. Mas foi quem me deu os cem cruzeiros a mais.
Informaram-lhe que não podiam receber: tratava-se de uma devolução, não era isso mesmo? E não de pagamento. Tinha trazido a guia? Pois então? Onde já se viu pagamento sem guia? Receber mil cruzeiros a troco de quê?
– Mil não: cem. A troco de devolução.
– Troco de devolução. Entenda-se.
– Pois devolvo e acabou-se.
– Só com o chefe. O próximo!
O chefe da seção já tinha saído: só no dia seguinte. No dia seguinte, depois de fazê-lo esperar mais de meia hora, o chefe informou-lhe que deveria redigir um ofício historiando o fato e devolvendo o dinheiro.
– Já que o senhor faz tanta questão de devolver.
– Questão absoluta.
– Louvo o seu escrúpulo.
– Mas o nosso amigo ali do guichê disse que era só entregar ao senhor – suspirou ele. – Quem disse isso?
– Um homem de óculos naquela seção do lado de lá. Recebedoria, parece.
– O Araújo. Ele disse isso, é? Pois olhe: volte lá e diga-lhe para deixar de ser besta. Pode dizer que fui eu que falei. O Araújo sempre se metendo a entendido!
– Mas e o ofício? Não tenho nada com essa briga, vamos fazer logo o ofício.
– Impossível: tem de dar entrada no protocolo.
Saindo dali, em vez de ir ao protocolo, ou ao Araújo para dizer-lhe que deixasse de ser besta, o honesto cidadão dirigiu- se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por cima do vidro e foi-se embora.
SABINO, Fernando. Disponível em: < http://www.velhosamigos.com.br/Colaboradores /Diversos/fernandosabino2.html >. Acesso em: 13 abr. 2015.
A linguagem utilizada na construção do texto caracteriza-se por
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Texto 1
Cem cruzeiros a mais
Ao receber certa quantia num guichê do Ministério, verificou que o funcionário lhe havia dado cem cruzeiros a mais. Quis voltar para devolver, mas outras pessoas protestaram: entrasse na fila.
Esperou pacientemente a vez, para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro:
– Tenham paciência, mas está na hora do meu café.
Agora era uma questão de teimosia. Voltou à tarde, para encontrar fila maior – não conseguiu sequer aproximar-se do guichê antes de encerrar-se o expediente.
No dia seguinte era o primeiro da fila:
– Olha aqui: o senhor ontem me deu cem cruzeiros a mais.
– Eu?
Só então reparou que o funcionário era outro.
– Seu colega, então. Um de bigodinho.
– O Mafra.
– Se o nome dele é Mafra, não sei dizer.
– Só pode ter sido o Mafra. Aqui só trabalhamos eu e o Mafra. Não fui eu. Logo...
Ele coçou a cabeça, aborrecido:
– Está bem, foi o Mafra. E daí?
O funcionário lhe explicou com toda urbanidade que não podia responder pela distração do Mafra:
– Isto aqui é uma pagadoria, meu chapa. Não posso receber, só posso pagar. Receber, só na recebedoria. O próximo!
O próximo da fila, já impaciente, empurrou-o com o cotovelo. Amar o próximo como a ti mesmo! Procurou conter-se e se afastou, indeciso. Num súbito impulso de indignação – agora iria até o fim – dirigiu-se à recebedoria.
– O Mafra? Não trabalha aqui, meu amigo, nem nunca trabalhou.
– Eu sei. Ele é da pagadoria. Mas foi quem me deu os cem cruzeiros a mais.
Informaram-lhe que não podiam receber: tratava-se de uma devolução, não era isso mesmo? E não de pagamento. Tinha trazido a guia? Pois então? Onde já se viu pagamento sem guia? Receber mil cruzeiros a troco de quê?
– Mil não: cem. A troco de devolução.
– Troco de devolução. Entenda-se.
– Pois devolvo e acabou-se.
– Só com o chefe. O próximo!
O chefe da seção já tinha saído: só no dia seguinte. No dia seguinte, depois de fazê-lo esperar mais de meia hora, o chefe informou-lhe que deveria redigir um ofício historiando o fato e devolvendo o dinheiro.
– Já que o senhor faz tanta questão de devolver.
– Questão absoluta.
– Louvo o seu escrúpulo.
– Mas o nosso amigo ali do guichê disse que era só entregar ao senhor – suspirou ele. – Quem disse isso?
– Um homem de óculos naquela seção do lado de lá. Recebedoria, parece.
– O Araújo. Ele disse isso, é? Pois olhe: volte lá e diga-lhe para deixar de ser besta. Pode dizer que fui eu que falei. O Araújo sempre se metendo a entendido!
– Mas e o ofício? Não tenho nada com essa briga, vamos fazer logo o ofício.
– Impossível: tem de dar entrada no protocolo.
Saindo dali, em vez de ir ao protocolo, ou ao Araújo para dizer-lhe que deixasse de ser besta, o honesto cidadão dirigiu- se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por cima do vidro e foi-se embora.
SABINO, Fernando. Disponível em: < http://www.velhosamigos.com.br/Colaboradores /Diversos/fernandosabino2.html >. Acesso em: 13 abr. 2015.
Na construção do texto, a conjunção “mas” no trecho “Tenham paciência, mas está na hora do meu café”, estabelece
Leia o Texto 1 para responder às questões de 01 a 07.
Texto 1
Cem cruzeiros a mais
Ao receber certa quantia num guichê do Ministério, verificou que o funcionário lhe havia dado cem cruzeiros a mais. Quis voltar para devolver, mas outras pessoas protestaram: entrasse na fila.
Esperou pacientemente a vez, para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro:
– Tenham paciência, mas está na hora do meu café.
Agora era uma questão de teimosia. Voltou à tarde, para encontrar fila maior – não conseguiu sequer aproximar-se do guichê antes de encerrar-se o expediente.
No dia seguinte era o primeiro da fila:
– Olha aqui: o senhor ontem me deu cem cruzeiros a mais.
– Eu?
Só então reparou que o funcionário era outro.
– Seu colega, então. Um de bigodinho.
– O Mafra.
– Se o nome dele é Mafra, não sei dizer.
– Só pode ter sido o Mafra. Aqui só trabalhamos eu e o Mafra. Não fui eu. Logo...
Ele coçou a cabeça, aborrecido:
– Está bem, foi o Mafra. E daí?
O funcionário lhe explicou com toda urbanidade que não podia responder pela distração do Mafra:
– Isto aqui é uma pagadoria, meu chapa. Não posso receber, só posso pagar. Receber, só na recebedoria. O próximo!
O próximo da fila, já impaciente, empurrou-o com o cotovelo. Amar o próximo como a ti mesmo! Procurou conter-se e se afastou, indeciso. Num súbito impulso de indignação – agora iria até o fim – dirigiu-se à recebedoria.
– O Mafra? Não trabalha aqui, meu amigo, nem nunca trabalhou.
– Eu sei. Ele é da pagadoria. Mas foi quem me deu os cem cruzeiros a mais.
Informaram-lhe que não podiam receber: tratava-se de uma devolução, não era isso mesmo? E não de pagamento. Tinha trazido a guia? Pois então? Onde já se viu pagamento sem guia? Receber mil cruzeiros a troco de quê?
– Mil não: cem. A troco de devolução.
– Troco de devolução. Entenda-se.
– Pois devolvo e acabou-se.
– Só com o chefe. O próximo!
O chefe da seção já tinha saído: só no dia seguinte. No dia seguinte, depois de fazê-lo esperar mais de meia hora, o chefe informou-lhe que deveria redigir um ofício historiando o fato e devolvendo o dinheiro.
– Já que o senhor faz tanta questão de devolver.
– Questão absoluta.
– Louvo o seu escrúpulo.
– Mas o nosso amigo ali do guichê disse que era só entregar ao senhor – suspirou ele. – Quem disse isso?
– Um homem de óculos naquela seção do lado de lá. Recebedoria, parece.
– O Araújo. Ele disse isso, é? Pois olhe: volte lá e diga-lhe para deixar de ser besta. Pode dizer que fui eu que falei. O Araújo sempre se metendo a entendido!
– Mas e o ofício? Não tenho nada com essa briga, vamos fazer logo o ofício.
– Impossível: tem de dar entrada no protocolo.
Saindo dali, em vez de ir ao protocolo, ou ao Araújo para dizer-lhe que deixasse de ser besta, o honesto cidadão dirigiu- se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por cima do vidro e foi-se embora.
SABINO, Fernando. Disponível em: < http://www.velhosamigos.com.br/Colaboradores /Diversos/fernandosabino2.html >. Acesso em: 13 abr. 2015.
No trecho: “para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro”, a construção destacada significa que
Leia o Texto 1 para responder às questões de 01 a 07.
Texto 1
Cem cruzeiros a mais
Ao receber certa quantia num guichê do Ministério, verificou que o funcionário lhe havia dado cem cruzeiros a mais. Quis voltar para devolver, mas outras pessoas protestaram: entrasse na fila.
Esperou pacientemente a vez, para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro:
– Tenham paciência, mas está na hora do meu café.
Agora era uma questão de teimosia. Voltou à tarde, para encontrar fila maior – não conseguiu sequer aproximar-se do guichê antes de encerrar-se o expediente.
No dia seguinte era o primeiro da fila:
– Olha aqui: o senhor ontem me deu cem cruzeiros a mais.
– Eu?
Só então reparou que o funcionário era outro.
– Seu colega, então. Um de bigodinho.
– O Mafra.
– Se o nome dele é Mafra, não sei dizer.
– Só pode ter sido o Mafra. Aqui só trabalhamos eu e o Mafra. Não fui eu. Logo...
Ele coçou a cabeça, aborrecido:
– Está bem, foi o Mafra. E daí?
O funcionário lhe explicou com toda urbanidade que não podia responder pela distração do Mafra:
– Isto aqui é uma pagadoria, meu chapa. Não posso receber, só posso pagar. Receber, só na recebedoria. O próximo!
O próximo da fila, já impaciente, empurrou-o com o cotovelo. Amar o próximo como a ti mesmo! Procurou conter-se e se afastou, indeciso. Num súbito impulso de indignação – agora iria até o fim – dirigiu-se à recebedoria.
– O Mafra? Não trabalha aqui, meu amigo, nem nunca trabalhou.
– Eu sei. Ele é da pagadoria. Mas foi quem me deu os cem cruzeiros a mais.
Informaram-lhe que não podiam receber: tratava-se de uma devolução, não era isso mesmo? E não de pagamento. Tinha trazido a guia? Pois então? Onde já se viu pagamento sem guia? Receber mil cruzeiros a troco de quê?
– Mil não: cem. A troco de devolução.
– Troco de devolução. Entenda-se.
– Pois devolvo e acabou-se.
– Só com o chefe. O próximo!
O chefe da seção já tinha saído: só no dia seguinte. No dia seguinte, depois de fazê-lo esperar mais de meia hora, o chefe informou-lhe que deveria redigir um ofício historiando o fato e devolvendo o dinheiro.
– Já que o senhor faz tanta questão de devolver.
– Questão absoluta.
– Louvo o seu escrúpulo.
– Mas o nosso amigo ali do guichê disse que era só entregar ao senhor – suspirou ele. – Quem disse isso?
– Um homem de óculos naquela seção do lado de lá. Recebedoria, parece.
– O Araújo. Ele disse isso, é? Pois olhe: volte lá e diga-lhe para deixar de ser besta. Pode dizer que fui eu que falei. O Araújo sempre se metendo a entendido!
– Mas e o ofício? Não tenho nada com essa briga, vamos fazer logo o ofício.
– Impossível: tem de dar entrada no protocolo.
Saindo dali, em vez de ir ao protocolo, ou ao Araújo para dizer-lhe que deixasse de ser besta, o honesto cidadão dirigiu- se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por cima do vidro e foi-se embora.
SABINO, Fernando. Disponível em: < http://www.velhosamigos.com.br/Colaboradores /Diversos/fernandosabino2.html >. Acesso em: 13 abr. 2015.
Nos diálogos do texto, à pergunta “Receber mil cruzeiros a troco de quê?” é dada a resposta “A troco de devolução”, para causar efeito de humor. Esse efeito decorre
Leia o Texto 1 para responder às questões de 01 a 07.
Texto 1
Cem cruzeiros a mais
Ao receber certa quantia num guichê do Ministério, verificou que o funcionário lhe havia dado cem cruzeiros a mais. Quis voltar para devolver, mas outras pessoas protestaram: entrasse na fila.
Esperou pacientemente a vez, para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro:
– Tenham paciência, mas está na hora do meu café.
Agora era uma questão de teimosia. Voltou à tarde, para encontrar fila maior – não conseguiu sequer aproximar-se do guichê antes de encerrar-se o expediente.
No dia seguinte era o primeiro da fila:
– Olha aqui: o senhor ontem me deu cem cruzeiros a mais.
– Eu?
Só então reparou que o funcionário era outro.
– Seu colega, então. Um de bigodinho.
– O Mafra.
– Se o nome dele é Mafra, não sei dizer.
– Só pode ter sido o Mafra. Aqui só trabalhamos eu e o Mafra. Não fui eu. Logo...
Ele coçou a cabeça, aborrecido:
– Está bem, foi o Mafra. E daí?
O funcionário lhe explicou com toda urbanidade que não podia responder pela distração do Mafra:
– Isto aqui é uma pagadoria, meu chapa. Não posso receber, só posso pagar. Receber, só na recebedoria. O próximo!
O próximo da fila, já impaciente, empurrou-o com o cotovelo. Amar o próximo como a ti mesmo! Procurou conter-se e se afastou, indeciso. Num súbito impulso de indignação – agora iria até o fim – dirigiu-se à recebedoria.
– O Mafra? Não trabalha aqui, meu amigo, nem nunca trabalhou.
– Eu sei. Ele é da pagadoria. Mas foi quem me deu os cem cruzeiros a mais.
Informaram-lhe que não podiam receber: tratava-se de uma devolução, não era isso mesmo? E não de pagamento. Tinha trazido a guia? Pois então? Onde já se viu pagamento sem guia? Receber mil cruzeiros a troco de quê?
– Mil não: cem. A troco de devolução.
– Troco de devolução. Entenda-se.
– Pois devolvo e acabou-se.
– Só com o chefe. O próximo!
O chefe da seção já tinha saído: só no dia seguinte. No dia seguinte, depois de fazê-lo esperar mais de meia hora, o chefe informou-lhe que deveria redigir um ofício historiando o fato e devolvendo o dinheiro.
– Já que o senhor faz tanta questão de devolver.
– Questão absoluta.
– Louvo o seu escrúpulo.
– Mas o nosso amigo ali do guichê disse que era só entregar ao senhor – suspirou ele. – Quem disse isso?
– Um homem de óculos naquela seção do lado de lá. Recebedoria, parece.
– O Araújo. Ele disse isso, é? Pois olhe: volte lá e diga-lhe para deixar de ser besta. Pode dizer que fui eu que falei. O Araújo sempre se metendo a entendido!
– Mas e o ofício? Não tenho nada com essa briga, vamos fazer logo o ofício.
– Impossível: tem de dar entrada no protocolo.
Saindo dali, em vez de ir ao protocolo, ou ao Araújo para dizer-lhe que deixasse de ser besta, o honesto cidadão dirigiu- se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por cima do vidro e foi-se embora.
SABINO, Fernando. Disponível em: < http://www.velhosamigos.com.br/Colaboradores /Diversos/fernandosabino2.html >. Acesso em: 13 abr. 2015.
O texto traz trechos que apontam para a morosidade do atendimento no Ministério. Essa morosidade se confirma no seguinte trecho:
Leia o Texto 1 para responder às questões de 01 a 07.
Texto 1
Cem cruzeiros a mais
Ao receber certa quantia num guichê do Ministério, verificou que o funcionário lhe havia dado cem cruzeiros a mais. Quis voltar para devolver, mas outras pessoas protestaram: entrasse na fila.
Esperou pacientemente a vez, para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro:
– Tenham paciência, mas está na hora do meu café.
Agora era uma questão de teimosia. Voltou à tarde, para encontrar fila maior – não conseguiu sequer aproximar-se do guichê antes de encerrar-se o expediente.
No dia seguinte era o primeiro da fila:
– Olha aqui: o senhor ontem me deu cem cruzeiros a mais.
– Eu?
Só então reparou que o funcionário era outro.
– Seu colega, então. Um de bigodinho.
– O Mafra.
– Se o nome dele é Mafra, não sei dizer.
– Só pode ter sido o Mafra. Aqui só trabalhamos eu e o Mafra. Não fui eu. Logo...
Ele coçou a cabeça, aborrecido:
– Está bem, foi o Mafra. E daí?
O funcionário lhe explicou com toda urbanidade que não podia responder pela distração do Mafra:
– Isto aqui é uma pagadoria, meu chapa. Não posso receber, só posso pagar. Receber, só na recebedoria. O próximo!
O próximo da fila, já impaciente, empurrou-o com o cotovelo. Amar o próximo como a ti mesmo! Procurou conter-se e se afastou, indeciso. Num súbito impulso de indignação – agora iria até o fim – dirigiu-se à recebedoria.
– O Mafra? Não trabalha aqui, meu amigo, nem nunca trabalhou.
– Eu sei. Ele é da pagadoria. Mas foi quem me deu os cem cruzeiros a mais.
Informaram-lhe que não podiam receber: tratava-se de uma devolução, não era isso mesmo? E não de pagamento. Tinha trazido a guia? Pois então? Onde já se viu pagamento sem guia? Receber mil cruzeiros a troco de quê?
– Mil não: cem. A troco de devolução.
– Troco de devolução. Entenda-se.
– Pois devolvo e acabou-se.
– Só com o chefe. O próximo!
O chefe da seção já tinha saído: só no dia seguinte. No dia seguinte, depois de fazê-lo esperar mais de meia hora, o chefe informou-lhe que deveria redigir um ofício historiando o fato e devolvendo o dinheiro.
– Já que o senhor faz tanta questão de devolver.
– Questão absoluta.
– Louvo o seu escrúpulo.
– Mas o nosso amigo ali do guichê disse que era só entregar ao senhor – suspirou ele. – Quem disse isso?
– Um homem de óculos naquela seção do lado de lá. Recebedoria, parece.
– O Araújo. Ele disse isso, é? Pois olhe: volte lá e diga-lhe para deixar de ser besta. Pode dizer que fui eu que falei. O Araújo sempre se metendo a entendido!
– Mas e o ofício? Não tenho nada com essa briga, vamos fazer logo o ofício.
– Impossível: tem de dar entrada no protocolo.
Saindo dali, em vez de ir ao protocolo, ou ao Araújo para dizer-lhe que deixasse de ser besta, o honesto cidadão dirigiu- se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por cima do vidro e foi-se embora.
SABINO, Fernando. Disponível em: < http://www.velhosamigos.com.br/Colaboradores /Diversos/fernandosabino2.html >. Acesso em: 13 abr. 2015.
A expressão “com toda urbanidade” torna o enunciado irônico. Esse recurso é utilizado no texto para criticar a
Leia o Texto 1 para responder às questões de 01 a 07.
Texto 1
Cem cruzeiros a mais
Ao receber certa quantia num guichê do Ministério, verificou que o funcionário lhe havia dado cem cruzeiros a mais. Quis voltar para devolver, mas outras pessoas protestaram: entrasse na fila.
Esperou pacientemente a vez, para que o funcionário lhe fechasse na cara a janelinha de vidro:
– Tenham paciência, mas está na hora do meu café.
Agora era uma questão de teimosia. Voltou à tarde, para encontrar fila maior – não conseguiu sequer aproximar-se do guichê antes de encerrar-se o expediente.
No dia seguinte era o primeiro da fila:
– Olha aqui: o senhor ontem me deu cem cruzeiros a mais.
– Eu?
Só então reparou que o funcionário era outro.
– Seu colega, então. Um de bigodinho.
– O Mafra.
– Se o nome dele é Mafra, não sei dizer.
– Só pode ter sido o Mafra. Aqui só trabalhamos eu e o Mafra. Não fui eu. Logo...
Ele coçou a cabeça, aborrecido:
– Está bem, foi o Mafra. E daí?
O funcionário lhe explicou com toda urbanidade que não podia responder pela distração do Mafra:
– Isto aqui é uma pagadoria, meu chapa. Não posso receber, só posso pagar. Receber, só na recebedoria. O próximo!
O próximo da fila, já impaciente, empurrou-o com o cotovelo. Amar o próximo como a ti mesmo! Procurou conter-se e se afastou, indeciso. Num súbito impulso de indignação – agora iria até o fim – dirigiu-se à recebedoria.
– O Mafra? Não trabalha aqui, meu amigo, nem nunca trabalhou.
– Eu sei. Ele é da pagadoria. Mas foi quem me deu os cem cruzeiros a mais.
Informaram-lhe que não podiam receber: tratava-se de uma devolução, não era isso mesmo? E não de pagamento. Tinha trazido a guia? Pois então? Onde já se viu pagamento sem guia? Receber mil cruzeiros a troco de quê?
– Mil não: cem. A troco de devolução.
– Troco de devolução. Entenda-se.
– Pois devolvo e acabou-se.
– Só com o chefe. O próximo!
O chefe da seção já tinha saído: só no dia seguinte. No dia seguinte, depois de fazê-lo esperar mais de meia hora, o chefe informou-lhe que deveria redigir um ofício historiando o fato e devolvendo o dinheiro.
– Já que o senhor faz tanta questão de devolver.
– Questão absoluta.
– Louvo o seu escrúpulo.
– Mas o nosso amigo ali do guichê disse que era só entregar ao senhor – suspirou ele. – Quem disse isso?
– Um homem de óculos naquela seção do lado de lá. Recebedoria, parece.
– O Araújo. Ele disse isso, é? Pois olhe: volte lá e diga-lhe para deixar de ser besta. Pode dizer que fui eu que falei. O Araújo sempre se metendo a entendido!
– Mas e o ofício? Não tenho nada com essa briga, vamos fazer logo o ofício.
– Impossível: tem de dar entrada no protocolo.
Saindo dali, em vez de ir ao protocolo, ou ao Araújo para dizer-lhe que deixasse de ser besta, o honesto cidadão dirigiu- se ao guichê onde recebera o dinheiro, fez da nota de cem cruzeiros uma bolinha, atirou-a lá dentro por cima do vidro e foi-se embora.
SABINO, Fernando. Disponível em: < http://www.velhosamigos.com.br/Colaboradores /Diversos/fernandosabino2.html >. Acesso em: 13 abr. 2015.
O Texto 1 é uma crônica e infere-se, a partir do fato do cotidiano narrado, uma crítica à
Refletindo sobre o Zoneamento Ecológico Econômico e seu papel na estrutura interna do planejamento ambiental, Rozely Santos assevera:
Conforme a autora,