Texto CG1A1-I
O conceito de saúde reflete a conjuntura social,
econômica, política e cultural. Ou seja: saúde não representa a
mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da época, do
lugar, da classe social. Dependerá de valores individuais e de
concepções científicas, religiosas, filosóficas. O mesmo, aliás,
pode ser dito das doenças. Aquilo que é considerado doença
varia muito.
Real ou imaginária, a doença é um antigo acompanhante
da espécie humana, como o revelam pesquisas paleontológicas.
Múmias egípcias apresentam sinais de doença (como, por
exemplo, a varíola do faraó Ramsés V). Não admira que, desde
muito cedo, a humanidade se tenha empenhado em enfrentar essa
ameaça, e de várias formas, baseadas em diferentes conceitos do
que vem a ser a doença (e a saúde). Assim, a concepção
mágico-religiosa partia, e parte, do princípio de que a doença
resulta da ação de forças alheias ao organismo que neste se
introduzem por causa do pecado ou de maldição.
A medicina grega representa uma importante inflexão na
maneira de encarar a doença. É verdade que, na mitologia grega,
várias divindades estavam vinculadas à saúde. Os gregos
cultuavam, além da divindade da medicina, Asclepius ou
Aesculapius (que é mencionado como figura histórica no poema
épico Ilíada), duas outras deusas, Higieia, a Saúde, e Panacea, a
Cura. Higieia era uma das manifestações de Athena, a deusa da
razão, e o seu culto, como sugere o nome, representa uma
valorização das práticas higiênicas. Se Panacea representa a ideia
de que tudo pode ser curado — uma crença basicamente mágica
ou religiosa —, deve-se notar que a cura, para os gregos, era
obtida pelo uso de plantas e de métodos naturais, e não apenas
por procedimentos ritualísticos.
Moacyr Scliar. História do conceito de saúde.
In: Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 17, n.º 1, 2007, p. 29-41 (com adaptações).