O ENCONTRO MELANCÓLICO
Sentaram-se, os dois, já arrependidos de terem marcado o
encontro. Esvaziaram os pulmões, num suspiro da
saciedade. Aos dois, faltava a coragem de perguntar: - Por
que isto? Por que não vamos embora de uma vez?
Preferiram ser gentis e tentar. Ele perguntou se ela queria
beber alguma coisa, ou comer alguma coisa. Ela respondeu
um "nada" de quem anseia abreviar a angústia de estarem
juntos. Ambos sentiram calor, ou porque a tarde estivesse
fria, ambos suaram, sem calor, na testa e no pescoço. Que
saudade os trouxera ali? Nenhuma. Vieram, simplesmente,
porque um gostaria de saber, no coração do outro, o
tamanho da falta que estava fazendo. As pessoas são
muito vaidosas e, quando acabam seus romances, têm a
mania de pensar que, de um modo ou de outro, marcaram,
para sempre, a pessoa amada. É uma pretensão tola, esta
de ser inesquecível, na carne ou na alma de quem se
amou. O mundo renova muito a todos nós. Ou, quando
não renova, envelhece, muda-nos sempre, enchendo-nos a
vida de quatro ou cinco belezas novas ou de uma nova dor,
que abrange todo o ser, defendendo-o contra qualquer
recaída na doença de que saímos vivos.
Sentados frente a frente, fumavam e trocavam perguntas,
cujas respostas eram dispensáveis: "Como vai sua irmã?"
"Sua tia viajou, afinal?" "Como estão as aulas de
taquigrafia?" Pediram uma cerveja, para fazer jus à mesa e
à tolerância do garçom. Era uma cerveja amarga, porque o
gosto das cervejas é a gente quem faz, com a doçura, o
tanino ou o amargo que se traz na vida. Ela evitou que ele
lhe acendesse o cigarro. Ele guardou o isqueiro, sem o
menor constrangimento. Depois de tudo isso foi que se
olharam bem nos olhos. Um olhar sem enlevo, sem
mensagem, sem mágoa. Um olhar corajoso, só isso. Como
era estranho, depois de tanto amor, depois de tantas vezes
terem chegado ao trágico, verem-se agora como se fossem
dois parentes. Nem ao menos se odiavam. Como a vida é
sábia, em suas acomodações! Riram-se, cada um de si
mesmo e os dois da vida. Não havia nada a dizer, porque
sabiam de tudo, sem linguagem. A palavra complica muito.
Levantaram-se. Deram-se as mãos nas pontas dos dedos,
foram caminhando e largando-se aos poucos, até que
passou um táxi e ele correu para alcançá-lo. Ao entrar no
carro, ainda olhou para trás e gritou-lhe um "adeus"
qualquer. Que ela não ouviu, porque entrara em uma loja
de bombons. E dali por diante, nada os uniu ou mesmo
separou, no ar, nas pedras e na música da cidade.
Maria, Antônio. O encontro melancólico. Disponível em:
https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/5828/o-encontro-melancolico.
Acesso em: 22 de ago. de 2024.