Uma das questões mais debatidas atualmente é como as novas tecnologias, incluindo a robótica e a inteligência artificial, poderão impactar no mercado de trabalho e nas relações profissionais.
Para o advogado e pesquisador Ronaldo Lemos, ainda estamos longe das cenas de filmes de ficção científica. Porém não há dúvidas de que as mudanças estão a caminho.
[...] "Se você olhar economias desenvolvidas como os Estados Unidos, hoje você não tem nenhum sinal de que
isso está acontecendo, ao contrário, os Estados Unidos estão com pleno emprego, e o preço dos salários está
subindo e não diminuindo. Então, do ponto de vista econômico, isso é muito claro que não tem nenhum robô ali
substituindo gente, não tem ninguém desempregado topando trabalhar por menos", completa Ronaldo Lemos.
[...] Autor do best-seller A Guerra das Inteligências, o francês Laurent Alexandre explica que esse não é um
fenômeno novo. E mostra por que a sociedade não precisa temer a evolução tecnológica. "Quando os ferreiros
desapareceram progressivamente com a chegada dos carros, há cem anos, as pessoas não imaginavam que,
no século XXI, criaríamos empregos de programadores de informática, cinegrafistas para a televisão, pilotos de
aviões, cirurgiões, fabricantes de microprocessadores. Hoje vemos com inquietação os empregos que vão
desaparecer, e não vemos ainda a incrível quantidade de profissões que vão aparecer nos próximos cem anos.[...]”
Um estudo divulgado durante o Fórum Econômico Mundial em Tianjian, na China, em setembro, estima que a
automação e a robótica criarão, até 2025, 58 milhões de empregos. O número é resultado de uma conta que
prevê a supressão de 75 milhões de postos de trabalho em áreas como serviços postais, secretariado e de
embalagens; enquanto outros 133 milhões de novos empregos deverão aparecer graças à evolução digital. O
levantamento foi feito com 300 empresas multinacionais presentes em 20 países, que reúnem hoje mais de 15
milhões de empregados.
Um dos palestrantes mais requisitados da França, quando o assunto é a sociedade do futuro, Laurent Alexandre
não acredita no fim do trabalho. "Eu não acredito na morte do trabalho. Você sabe que os imperadores romanos
tinham medo que as máquinas destruíssem o trabalho em Roma há dois mil anos. É um medo que sempre
tivemos porque as pessoas veem a destruição dos postos de trabalho, mas não veem as profissões do futuro".
"Ninguém na época do Napoleão poderia imaginar que haveria aviões e microprocessadores. Eu não sou
otimista, eu sou realista. A tecnologia vai criar oportunidades extraordinárias para as gerações que virão."
A principal diferença agora está na natureza das mudanças. Segundo o coordenador do mestrado em ciências
digitais da SciencePo, em Paris, Benoît Thieulin, até hoje, sempre que há transformações profundas, elas
atingem a parte baixa da pirâmide, onde estão os trabalhadores menos qualificados, enquanto a onda da
digitalização e da robótica afetará o alto escalão.
"A primeira onda de robotização dos anos 1970 e 1980 atingiu inicialmente os operários. E esse movimento
continua, especialmente no mundo industrial, pois ainda não temos empregados domésticos robôs, mesmo que
isso venha a acontecer no futuro, muito provavelmente. Mas a nova onda, atualmente, que é essa da inteligência
artificial, atinge os chamados empregos de colarinho branco. As enfermeiras estão menos ameaçadas, por
exemplo, do que os médicos. São as profissões de análise que podem ser automatizadas. Entre um radiologista
e um computador, que terá acesso a milhares de imagens para poder comparar um osso a milhares de outros,
é evidente que a análise digital será incomparável com aquilo que o radiologista poderá fazer unicamente com
os olhos e o cérebro.”
[...] Até lá, a recomendação para os trabalhadores é que continuem a se aperfeiçoar e não tenham medo de
reaprender, como aconselha Benoît Thieulin. "As pessoas vão reaprender muitas coisas que aprenderam na
escola e a ideia de uma formação continuada vai se tornar uma realidade."
https://g1.globo.com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/2018/10/24- Texto adaptado