Texto 7
Intertextualidade e polifonia
O conceito de polifonia é mais amplo que o de intertextualidade.
Enquanto nesta faz-se necessária a presença
de um intertexto, cuja fonte é explicitamente
mencionada ou não, o conceito de polifonia, tal como
elaborado por Ducrot (1980, 1984), a partir da obra de
Bakhtin (1929), em que este denomina de polifônico
o romance de Dostoievski, exige apenas que se representem,
encenem (no sentido teatral), em dado texto,
perspectivas ou pontos de vista de enunciadores
(reais ou virtuais) diferentes.
Ducrot, ao apresentar a teoria polifônica da enunciação, postula a existência, em cada texto/enunciado,
de mais de um enunciador, que representam perspectivas,
pontos de vista diferentes, sendo uma delas
aquela a que o locutor adere em seu discurso. Isto é,
no discurso de um locutor, encenam-se, representam
-se pontos de vista diversos.
Segundo Ducrot, são os seguintes os principais índices
de polifonia: negação; marcadores de pressuposição;
determinados operadores argumentativos; futuro do
pretérito com valor de metáfora temporal; operadores
concessivos; operadores conclusivos; aspas; e expressões
do tipo parece que, segundo X; entre outros.
Tanto a polifonia como a intertextualidade são atestações cabais da presença do outro em nossos discursos,
do dialogismo tal como postulado por Bakhtin e da
incontornável argumentatividade inerente aos jogos
de linguagem.
KOCH, Ingedore G. Villaça; BENTES, Anna Christina; CAVALCANTE,
Mônica Magalhães. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo:
Cortez, 2007. p.79-83 [Adaptado]