Texto I
Como uma festa rural virou o fenômeno
global do Halloween
Surgida na Europa, a festividade que deu origem
ao Halloween viajou para o continente americano
com os peregrinos. Nos últimos anos, empreendeu
um novo périplo, que a levou de volta ao Velho
C o n t i n e n t e e a q u a s e t o d o s o s p a í s e s
ocidentalizados, alguns dos quais veem com
preocupação que suas tradições sobre os mortos
sejam deslocadas por esta festividade importada.
Além de seu vínculo com a natureza e a religião, o
Halloween tem um marcado caráter subversivo.
Durante uma noite, os papéis se transtornam, o
monstro – o diferente – abandona seu esconderijo, e
as crianças atemorizam os adultos com a frase “doce
ou travessura”. “O Halloween tem muitas
semelhanças com antigas celebrações europeias
como a Festa dos Loucos, em que, por um dia, os
plebeus se vestiam como reis, e a ordem social se
invertia”, afirma David Skal.
Um receio que, como detalha Skal, em seu livro
sobre o tema, esquece que todas as tradições se
misturam e evoluem, incluindo Halloween. De fato,
elementos que se consideram inerentes a esta festa
são relativamente recentes. É o caso das bruxas,
sempre representadas como idosas grotescas,
vestidas de preto e usando chapéus bicudos. Longe
de proceder da Idade Média ou do Barroco, esse
imaginário tem sua origem na Bruxa do Oeste
interpretada por Margaret Hamilton na versão de O
Mágico de Oz de 1939. Até então, as bruxas do
Halloween eram espevitadas melindrosas com
vestidos coloridos.
“Há pessoas que se queixam da invasão do
Halloween ou da apropriação da cultura mexicana
pelos anglo-saxões. Mas eu vivo no sul da Califórnia,
onde há muita população hispânica, e a maioria das
pessoas parecem gostar que as decorações e ritos do
Dia dos Mortos se misturem às do Halloween. No
entanto, cada comunidade se relaciona com os
mortos de um jeito diferente. Os norte-americanos
através de criações como Drácula e Gasparzinho,
enquanto a cultura latina honra os defuntos com mais
seriedade”, ressaltou Skal.
Eduardo Bravo
(Adaptado de: https://brasil.elpais.com/)
Texto II
A polêmica sobre a apropriação cultural e a
necessidade do debate fora das redes
A globalização, impulsionada neste século pela
i n t e r n e t , v e m p r o p i c i a n d o o f r e n é t i c o
desenvolvimento cultural com a ampliação da
c o m u n i c a ç ã o e n tr e c u l t u r a s d i v e r s a s e ,
c o n s e q u e n t e m e n t e , a d i s s e m i n a ç ã o d e
conhecimentos, ideias e tradições culturais de uma
maneira instantânea, jamais vista. No mesmo
caminho, a cultura industrial extremamente
capitalista patrocina a utilização, em larga escala, de
bens culturais como mercadorias ou mesmo para fins
de entretenimento.
Nesta seara é que comunidades menos
favorecidas alegam apropriação de aspectos de suas
culturas por grupos mais influentes, protestando que
o valor do bem cultural apropriado é desvalorizado de
forma significante, o que causaria prejuízos à
comunidade detentora do bem.
Não se pode olvidar que há recriação de
patrimônio cultural ao longo do tempo, o qual passa
constantemente por atualização ou mesmo
modernização. Inclusive, neste sentido e na
circunstância de recriação de patrimônio, grupos
sociais que não os “proprietários” da bagagem
cultural eventualmente se apropriam de bens
culturais de grupos diversos como elementos de sua
identidade.
De fato, a troca de experiências culturais existe
desde que o mundo é mundo. No entanto, a
problemática surge no momento em que indivíduos
pertencentes a grupos sociais dominantes se utilizam
de particularidades culturais de grupos menos
favorecidos, sem que façam parte do grupo ou
mesmo tenham qualquer entendimento sobre a
cultura, ainda mais considerando que tal bem
apropriado é, na maioria das vezes, sagrado para a
comunidade e explorado, por outra, na moda, como
entretenimento ou para fins comerciais.
É o caso de corporações que se utilizam de
fatores culturais de comunidades tradicionais com
fins comerciais, como a indústria da moda que muitas
vezes se inspira em tendências baseadas em
diferentes culturas encontradas ao longo do
continente, tais como a indígena, folclórica,
nordestina e de povos imigrantes, bem como
agências de turismo, as quais fazem o uso não
autorizado de expressões culturais, tais como danças
e festas, para promoção de viagens.
Luciana Ferreira Bortolozo
(Extraído e adaptado de: www.conjur.com.br/)