Questões de Concurso Para procurador

Foram encontradas 15.376 questões

Resolva questões gratuitamente!

Junte-se a mais de 4 milhões de concurseiros!

Q2377965 Português
A questão se refere ao texto abaixo:


A MERITOCRACIA É UMA ARMADILHA


           Em suas origens, a meritocracia fez sentido: com ela se lançava por terra o sistema aristocrático que dominou a maior parte da histó ria da humanidade, com privilégios herdados de geração em geração. Agora ela perpetua mitos e a desigualdade


                É possı́vel que se você chegou a certa posição socioeconômica, conseguiu reconhecimento social, um bom salário e um patrimônio considerável, o que conhecemos como sucesso, pense que foi exclusivamente por seus próprios méritos. Más notı́cias: também é muito possı́vel que não tenha sido assim. No percurso vital de cada um o esforço conta, como é natural, mas o esforço sozinho é mais um fator onde também é preciso considerar outros que escapam ao nosso controle e vontade: o berço, a sorte e o talento. A vida é uma loteria, já cantava Marisol, e também tem muito de herança e de contatos.

       Um sistema em que cada um consiga aquilo que merece graças ao trabalho duro se chama meritocracia. Soa bem, e muitas vezes nos dizem que vivemos em uma, e que, pelo menos, isso seria desejável. Mas vários especialistas consultados para esta reportagem alertam: a meritocracia não existe em nossas sociedades e não está claro que sua existência nos trará virtude. Nas últimas décadas a brecha entre os vencedores e os perdedores aumentou, gerando sociedades mais polarizadas e desiguais em rendimentos e riqueza. A conceitualização do sucesso também mudou: “Os que chegaram no topo acreditam que seu sucesso é obra sua, evidência de seu mérito superior, e que os que ficam para trás merecem seu destino da mesma forma”, diz o filósofo da Universidade Harvard Michael Sandel, prêmio Princesa de Astúrias de Ciências Sociais 2018 e autor do livro A Tirania do Mérito (Editora Civilização Braisleira, 2020). A realidade é que as coisas não são tão simples e a igualdade de oportunidades não existe. “Desde o começo do século se detecta um funcionamento pior de nosso elevador social”, diz o relató rio Espanha 2050 elaborado pelo Governo de Pedro Sánchez. “Na Espanha, nascer em famı́lias de baixa renda condiciona as oportunidades de educação e desenvolvimento profissional em maior medida do que em outros paı́ses europeus”. 

        “O talento e o esforço produzem pouco na ausência de um entorno social bem desenvolvido”, diz o economista da Universidade Cornell Robert H. Frank, autor do livro Success and Luck: Good Fortune and the Myth of Meritocracy (Sucesso e sorte: Boa Fortuna e o Mito da Meritocracia), que também aponta um dos feitos perniciosos da meritocracia: “As pessoas que minimizam a contribuição ao seu sucesso de um entorno propı́cio estão menos dispostas a apoiar os investimento públicos necessários para manter esse entorno”. Nesse sentido, a meritocracia pode corroer as polı́ticas sociais, o Estado de bem-estar, idealizados, justamente, para equilibrar o terreno social e diminuir as desigualdades. O imposto de sucessão, outra forma de reequilibrar a sociedade limando as heranças, é frequentemente ridicularizado (às vezes, por defensores habituais da meritocracia). Se legitimamos uma sociedade onde os poucos que ganham levam tudo, se isso parece justo e natural, se deslegitima a redistribuição da riqueza e a justiça social. “A ideia de meritocracia é utilizada para que um sistema social profundamente desigual pareça justo quando não o é”, diz a soció loga da Universidade de Londres Jo Littler, autora de Against Meritocracy: Culture, Power and Myths of Mobility (Contra a meritocracia: cultura, poder e mitos da mobilidade).

           Mas ainda que a meritocracia existisse, talvez não fosse desejável: “É corrosiva ao bem comum”, diz o filósofo Michael Sandel, “oferece a todos a oportunidade de subir pela escada do sucesso sem notar que os degraus da escadaria podem estar cada vez mais separados. E assume que a sociedade é uma corrida com vencedores e perdedores”. Segundo o filósofo, essa forma de pensar cria elites arrogantes e classes populares humilhadas e ressentidas, a quem disseram que não são suficientemente boas. Por isso, segundo Sandel, fenômenos de reação contra as elites como o populismo de Trump e o Brexit. Porque esse é o reverso tenebroso da meritocracia: se você não fez sucesso você não tem valor, é tudo culpa sua. 

         O que fazer? A desigualdade, que encontra justificativa nas ideias meritocráticas é, junto com a mudança climática, uma das maiores ameaças à estabilidade do sistema, como dizem muitas vozes até mesmo do próprio coração do capitalismo: leva à polarização social, ao auge dos totalitarismos e ao descrédito popular das democracias liberais. Mas “o cı́rculo vicioso que inflou a crescente desigualdade meritocrática pode ser substituı́do por um cı́rculo virtuoso que assegure a igualdade democrática para todos”, diz Markovits. Para minimizar essa desigualdade é fundamental conseguir uma educação pública eficiente que chegue a todas as camadas da sociedade, assim como a diminuição do desemprego e o desaparecimento dos empregos precários, em uma época em que a aceleração tecnológica complica o mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que são propostas rendas básicas para manter a coesão social. Uma ideia que ganha cada vez mais força (por exemplo, nas ideias do presidente norte-americano Joe Biden): “A melhor resposta polı́tica à desigualdade produzida pela sorte é conseguir um maior investimento público, taxando mais os ricos”, conclui o economista Robert H. Frank.

(Adaptado. Autor: Sergio C. Fanjul. Publicado em 18/07/2019.
DisponÍvel em https://brasil.elpais.com/economia/2021-07-18/a-meritocracia-e-uma-armadilha.html)
Na conclusão de seu texto, o autor defende que a desigualdade:
Alternativas
Q2377964 Português
A questão se refere ao texto abaixo:


A MERITOCRACIA É UMA ARMADILHA


           Em suas origens, a meritocracia fez sentido: com ela se lançava por terra o sistema aristocrático que dominou a maior parte da histó ria da humanidade, com privilégios herdados de geração em geração. Agora ela perpetua mitos e a desigualdade


                É possı́vel que se você chegou a certa posição socioeconômica, conseguiu reconhecimento social, um bom salário e um patrimônio considerável, o que conhecemos como sucesso, pense que foi exclusivamente por seus próprios méritos. Más notı́cias: também é muito possı́vel que não tenha sido assim. No percurso vital de cada um o esforço conta, como é natural, mas o esforço sozinho é mais um fator onde também é preciso considerar outros que escapam ao nosso controle e vontade: o berço, a sorte e o talento. A vida é uma loteria, já cantava Marisol, e também tem muito de herança e de contatos.

       Um sistema em que cada um consiga aquilo que merece graças ao trabalho duro se chama meritocracia. Soa bem, e muitas vezes nos dizem que vivemos em uma, e que, pelo menos, isso seria desejável. Mas vários especialistas consultados para esta reportagem alertam: a meritocracia não existe em nossas sociedades e não está claro que sua existência nos trará virtude. Nas últimas décadas a brecha entre os vencedores e os perdedores aumentou, gerando sociedades mais polarizadas e desiguais em rendimentos e riqueza. A conceitualização do sucesso também mudou: “Os que chegaram no topo acreditam que seu sucesso é obra sua, evidência de seu mérito superior, e que os que ficam para trás merecem seu destino da mesma forma”, diz o filósofo da Universidade Harvard Michael Sandel, prêmio Princesa de Astúrias de Ciências Sociais 2018 e autor do livro A Tirania do Mérito (Editora Civilização Braisleira, 2020). A realidade é que as coisas não são tão simples e a igualdade de oportunidades não existe. “Desde o começo do século se detecta um funcionamento pior de nosso elevador social”, diz o relató rio Espanha 2050 elaborado pelo Governo de Pedro Sánchez. “Na Espanha, nascer em famı́lias de baixa renda condiciona as oportunidades de educação e desenvolvimento profissional em maior medida do que em outros paı́ses europeus”. 

        “O talento e o esforço produzem pouco na ausência de um entorno social bem desenvolvido”, diz o economista da Universidade Cornell Robert H. Frank, autor do livro Success and Luck: Good Fortune and the Myth of Meritocracy (Sucesso e sorte: Boa Fortuna e o Mito da Meritocracia), que também aponta um dos feitos perniciosos da meritocracia: “As pessoas que minimizam a contribuição ao seu sucesso de um entorno propı́cio estão menos dispostas a apoiar os investimento públicos necessários para manter esse entorno”. Nesse sentido, a meritocracia pode corroer as polı́ticas sociais, o Estado de bem-estar, idealizados, justamente, para equilibrar o terreno social e diminuir as desigualdades. O imposto de sucessão, outra forma de reequilibrar a sociedade limando as heranças, é frequentemente ridicularizado (às vezes, por defensores habituais da meritocracia). Se legitimamos uma sociedade onde os poucos que ganham levam tudo, se isso parece justo e natural, se deslegitima a redistribuição da riqueza e a justiça social. “A ideia de meritocracia é utilizada para que um sistema social profundamente desigual pareça justo quando não o é”, diz a soció loga da Universidade de Londres Jo Littler, autora de Against Meritocracy: Culture, Power and Myths of Mobility (Contra a meritocracia: cultura, poder e mitos da mobilidade).

           Mas ainda que a meritocracia existisse, talvez não fosse desejável: “É corrosiva ao bem comum”, diz o filósofo Michael Sandel, “oferece a todos a oportunidade de subir pela escada do sucesso sem notar que os degraus da escadaria podem estar cada vez mais separados. E assume que a sociedade é uma corrida com vencedores e perdedores”. Segundo o filósofo, essa forma de pensar cria elites arrogantes e classes populares humilhadas e ressentidas, a quem disseram que não são suficientemente boas. Por isso, segundo Sandel, fenômenos de reação contra as elites como o populismo de Trump e o Brexit. Porque esse é o reverso tenebroso da meritocracia: se você não fez sucesso você não tem valor, é tudo culpa sua. 

         O que fazer? A desigualdade, que encontra justificativa nas ideias meritocráticas é, junto com a mudança climática, uma das maiores ameaças à estabilidade do sistema, como dizem muitas vozes até mesmo do próprio coração do capitalismo: leva à polarização social, ao auge dos totalitarismos e ao descrédito popular das democracias liberais. Mas “o cı́rculo vicioso que inflou a crescente desigualdade meritocrática pode ser substituı́do por um cı́rculo virtuoso que assegure a igualdade democrática para todos”, diz Markovits. Para minimizar essa desigualdade é fundamental conseguir uma educação pública eficiente que chegue a todas as camadas da sociedade, assim como a diminuição do desemprego e o desaparecimento dos empregos precários, em uma época em que a aceleração tecnológica complica o mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que são propostas rendas básicas para manter a coesão social. Uma ideia que ganha cada vez mais força (por exemplo, nas ideias do presidente norte-americano Joe Biden): “A melhor resposta polı́tica à desigualdade produzida pela sorte é conseguir um maior investimento público, taxando mais os ricos”, conclui o economista Robert H. Frank.

(Adaptado. Autor: Sergio C. Fanjul. Publicado em 18/07/2019.
DisponÍvel em https://brasil.elpais.com/economia/2021-07-18/a-meritocracia-e-uma-armadilha.html)
Segundo o filósofo Michael Sandel:
Alternativas
Q2377963 Português
A questão se refere ao texto abaixo:


A MERITOCRACIA É UMA ARMADILHA


           Em suas origens, a meritocracia fez sentido: com ela se lançava por terra o sistema aristocrático que dominou a maior parte da histó ria da humanidade, com privilégios herdados de geração em geração. Agora ela perpetua mitos e a desigualdade


                É possı́vel que se você chegou a certa posição socioeconômica, conseguiu reconhecimento social, um bom salário e um patrimônio considerável, o que conhecemos como sucesso, pense que foi exclusivamente por seus próprios méritos. Más notı́cias: também é muito possı́vel que não tenha sido assim. No percurso vital de cada um o esforço conta, como é natural, mas o esforço sozinho é mais um fator onde também é preciso considerar outros que escapam ao nosso controle e vontade: o berço, a sorte e o talento. A vida é uma loteria, já cantava Marisol, e também tem muito de herança e de contatos.

       Um sistema em que cada um consiga aquilo que merece graças ao trabalho duro se chama meritocracia. Soa bem, e muitas vezes nos dizem que vivemos em uma, e que, pelo menos, isso seria desejável. Mas vários especialistas consultados para esta reportagem alertam: a meritocracia não existe em nossas sociedades e não está claro que sua existência nos trará virtude. Nas últimas décadas a brecha entre os vencedores e os perdedores aumentou, gerando sociedades mais polarizadas e desiguais em rendimentos e riqueza. A conceitualização do sucesso também mudou: “Os que chegaram no topo acreditam que seu sucesso é obra sua, evidência de seu mérito superior, e que os que ficam para trás merecem seu destino da mesma forma”, diz o filósofo da Universidade Harvard Michael Sandel, prêmio Princesa de Astúrias de Ciências Sociais 2018 e autor do livro A Tirania do Mérito (Editora Civilização Braisleira, 2020). A realidade é que as coisas não são tão simples e a igualdade de oportunidades não existe. “Desde o começo do século se detecta um funcionamento pior de nosso elevador social”, diz o relató rio Espanha 2050 elaborado pelo Governo de Pedro Sánchez. “Na Espanha, nascer em famı́lias de baixa renda condiciona as oportunidades de educação e desenvolvimento profissional em maior medida do que em outros paı́ses europeus”. 

        “O talento e o esforço produzem pouco na ausência de um entorno social bem desenvolvido”, diz o economista da Universidade Cornell Robert H. Frank, autor do livro Success and Luck: Good Fortune and the Myth of Meritocracy (Sucesso e sorte: Boa Fortuna e o Mito da Meritocracia), que também aponta um dos feitos perniciosos da meritocracia: “As pessoas que minimizam a contribuição ao seu sucesso de um entorno propı́cio estão menos dispostas a apoiar os investimento públicos necessários para manter esse entorno”. Nesse sentido, a meritocracia pode corroer as polı́ticas sociais, o Estado de bem-estar, idealizados, justamente, para equilibrar o terreno social e diminuir as desigualdades. O imposto de sucessão, outra forma de reequilibrar a sociedade limando as heranças, é frequentemente ridicularizado (às vezes, por defensores habituais da meritocracia). Se legitimamos uma sociedade onde os poucos que ganham levam tudo, se isso parece justo e natural, se deslegitima a redistribuição da riqueza e a justiça social. “A ideia de meritocracia é utilizada para que um sistema social profundamente desigual pareça justo quando não o é”, diz a soció loga da Universidade de Londres Jo Littler, autora de Against Meritocracy: Culture, Power and Myths of Mobility (Contra a meritocracia: cultura, poder e mitos da mobilidade).

           Mas ainda que a meritocracia existisse, talvez não fosse desejável: “É corrosiva ao bem comum”, diz o filósofo Michael Sandel, “oferece a todos a oportunidade de subir pela escada do sucesso sem notar que os degraus da escadaria podem estar cada vez mais separados. E assume que a sociedade é uma corrida com vencedores e perdedores”. Segundo o filósofo, essa forma de pensar cria elites arrogantes e classes populares humilhadas e ressentidas, a quem disseram que não são suficientemente boas. Por isso, segundo Sandel, fenômenos de reação contra as elites como o populismo de Trump e o Brexit. Porque esse é o reverso tenebroso da meritocracia: se você não fez sucesso você não tem valor, é tudo culpa sua. 

         O que fazer? A desigualdade, que encontra justificativa nas ideias meritocráticas é, junto com a mudança climática, uma das maiores ameaças à estabilidade do sistema, como dizem muitas vozes até mesmo do próprio coração do capitalismo: leva à polarização social, ao auge dos totalitarismos e ao descrédito popular das democracias liberais. Mas “o cı́rculo vicioso que inflou a crescente desigualdade meritocrática pode ser substituı́do por um cı́rculo virtuoso que assegure a igualdade democrática para todos”, diz Markovits. Para minimizar essa desigualdade é fundamental conseguir uma educação pública eficiente que chegue a todas as camadas da sociedade, assim como a diminuição do desemprego e o desaparecimento dos empregos precários, em uma época em que a aceleração tecnológica complica o mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que são propostas rendas básicas para manter a coesão social. Uma ideia que ganha cada vez mais força (por exemplo, nas ideias do presidente norte-americano Joe Biden): “A melhor resposta polı́tica à desigualdade produzida pela sorte é conseguir um maior investimento público, taxando mais os ricos”, conclui o economista Robert H. Frank.

(Adaptado. Autor: Sergio C. Fanjul. Publicado em 18/07/2019.
DisponÍvel em https://brasil.elpais.com/economia/2021-07-18/a-meritocracia-e-uma-armadilha.html)
De acordo com a opinião do autor de “A Tirania do Mérito”:
Alternativas
Q2377962 Português
A questão se refere ao texto abaixo:


A MERITOCRACIA É UMA ARMADILHA


           Em suas origens, a meritocracia fez sentido: com ela se lançava por terra o sistema aristocrático que dominou a maior parte da histó ria da humanidade, com privilégios herdados de geração em geração. Agora ela perpetua mitos e a desigualdade


                É possı́vel que se você chegou a certa posição socioeconômica, conseguiu reconhecimento social, um bom salário e um patrimônio considerável, o que conhecemos como sucesso, pense que foi exclusivamente por seus próprios méritos. Más notı́cias: também é muito possı́vel que não tenha sido assim. No percurso vital de cada um o esforço conta, como é natural, mas o esforço sozinho é mais um fator onde também é preciso considerar outros que escapam ao nosso controle e vontade: o berço, a sorte e o talento. A vida é uma loteria, já cantava Marisol, e também tem muito de herança e de contatos.

       Um sistema em que cada um consiga aquilo que merece graças ao trabalho duro se chama meritocracia. Soa bem, e muitas vezes nos dizem que vivemos em uma, e que, pelo menos, isso seria desejável. Mas vários especialistas consultados para esta reportagem alertam: a meritocracia não existe em nossas sociedades e não está claro que sua existência nos trará virtude. Nas últimas décadas a brecha entre os vencedores e os perdedores aumentou, gerando sociedades mais polarizadas e desiguais em rendimentos e riqueza. A conceitualização do sucesso também mudou: “Os que chegaram no topo acreditam que seu sucesso é obra sua, evidência de seu mérito superior, e que os que ficam para trás merecem seu destino da mesma forma”, diz o filósofo da Universidade Harvard Michael Sandel, prêmio Princesa de Astúrias de Ciências Sociais 2018 e autor do livro A Tirania do Mérito (Editora Civilização Braisleira, 2020). A realidade é que as coisas não são tão simples e a igualdade de oportunidades não existe. “Desde o começo do século se detecta um funcionamento pior de nosso elevador social”, diz o relató rio Espanha 2050 elaborado pelo Governo de Pedro Sánchez. “Na Espanha, nascer em famı́lias de baixa renda condiciona as oportunidades de educação e desenvolvimento profissional em maior medida do que em outros paı́ses europeus”. 

        “O talento e o esforço produzem pouco na ausência de um entorno social bem desenvolvido”, diz o economista da Universidade Cornell Robert H. Frank, autor do livro Success and Luck: Good Fortune and the Myth of Meritocracy (Sucesso e sorte: Boa Fortuna e o Mito da Meritocracia), que também aponta um dos feitos perniciosos da meritocracia: “As pessoas que minimizam a contribuição ao seu sucesso de um entorno propı́cio estão menos dispostas a apoiar os investimento públicos necessários para manter esse entorno”. Nesse sentido, a meritocracia pode corroer as polı́ticas sociais, o Estado de bem-estar, idealizados, justamente, para equilibrar o terreno social e diminuir as desigualdades. O imposto de sucessão, outra forma de reequilibrar a sociedade limando as heranças, é frequentemente ridicularizado (às vezes, por defensores habituais da meritocracia). Se legitimamos uma sociedade onde os poucos que ganham levam tudo, se isso parece justo e natural, se deslegitima a redistribuição da riqueza e a justiça social. “A ideia de meritocracia é utilizada para que um sistema social profundamente desigual pareça justo quando não o é”, diz a soció loga da Universidade de Londres Jo Littler, autora de Against Meritocracy: Culture, Power and Myths of Mobility (Contra a meritocracia: cultura, poder e mitos da mobilidade).

           Mas ainda que a meritocracia existisse, talvez não fosse desejável: “É corrosiva ao bem comum”, diz o filósofo Michael Sandel, “oferece a todos a oportunidade de subir pela escada do sucesso sem notar que os degraus da escadaria podem estar cada vez mais separados. E assume que a sociedade é uma corrida com vencedores e perdedores”. Segundo o filósofo, essa forma de pensar cria elites arrogantes e classes populares humilhadas e ressentidas, a quem disseram que não são suficientemente boas. Por isso, segundo Sandel, fenômenos de reação contra as elites como o populismo de Trump e o Brexit. Porque esse é o reverso tenebroso da meritocracia: se você não fez sucesso você não tem valor, é tudo culpa sua. 

         O que fazer? A desigualdade, que encontra justificativa nas ideias meritocráticas é, junto com a mudança climática, uma das maiores ameaças à estabilidade do sistema, como dizem muitas vozes até mesmo do próprio coração do capitalismo: leva à polarização social, ao auge dos totalitarismos e ao descrédito popular das democracias liberais. Mas “o cı́rculo vicioso que inflou a crescente desigualdade meritocrática pode ser substituı́do por um cı́rculo virtuoso que assegure a igualdade democrática para todos”, diz Markovits. Para minimizar essa desigualdade é fundamental conseguir uma educação pública eficiente que chegue a todas as camadas da sociedade, assim como a diminuição do desemprego e o desaparecimento dos empregos precários, em uma época em que a aceleração tecnológica complica o mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que são propostas rendas básicas para manter a coesão social. Uma ideia que ganha cada vez mais força (por exemplo, nas ideias do presidente norte-americano Joe Biden): “A melhor resposta polı́tica à desigualdade produzida pela sorte é conseguir um maior investimento público, taxando mais os ricos”, conclui o economista Robert H. Frank.

(Adaptado. Autor: Sergio C. Fanjul. Publicado em 18/07/2019.
DisponÍvel em https://brasil.elpais.com/economia/2021-07-18/a-meritocracia-e-uma-armadilha.html)
Para o autor do texto e especialistas consultados para a reportagem, a meritocracia é:  
Alternativas
Q2377961 Português
A questão se refere ao texto abaixo:


A MERITOCRACIA É UMA ARMADILHA


           Em suas origens, a meritocracia fez sentido: com ela se lançava por terra o sistema aristocrático que dominou a maior parte da histó ria da humanidade, com privilégios herdados de geração em geração. Agora ela perpetua mitos e a desigualdade


                É possı́vel que se você chegou a certa posição socioeconômica, conseguiu reconhecimento social, um bom salário e um patrimônio considerável, o que conhecemos como sucesso, pense que foi exclusivamente por seus próprios méritos. Más notı́cias: também é muito possı́vel que não tenha sido assim. No percurso vital de cada um o esforço conta, como é natural, mas o esforço sozinho é mais um fator onde também é preciso considerar outros que escapam ao nosso controle e vontade: o berço, a sorte e o talento. A vida é uma loteria, já cantava Marisol, e também tem muito de herança e de contatos.

       Um sistema em que cada um consiga aquilo que merece graças ao trabalho duro se chama meritocracia. Soa bem, e muitas vezes nos dizem que vivemos em uma, e que, pelo menos, isso seria desejável. Mas vários especialistas consultados para esta reportagem alertam: a meritocracia não existe em nossas sociedades e não está claro que sua existência nos trará virtude. Nas últimas décadas a brecha entre os vencedores e os perdedores aumentou, gerando sociedades mais polarizadas e desiguais em rendimentos e riqueza. A conceitualização do sucesso também mudou: “Os que chegaram no topo acreditam que seu sucesso é obra sua, evidência de seu mérito superior, e que os que ficam para trás merecem seu destino da mesma forma”, diz o filósofo da Universidade Harvard Michael Sandel, prêmio Princesa de Astúrias de Ciências Sociais 2018 e autor do livro A Tirania do Mérito (Editora Civilização Braisleira, 2020). A realidade é que as coisas não são tão simples e a igualdade de oportunidades não existe. “Desde o começo do século se detecta um funcionamento pior de nosso elevador social”, diz o relató rio Espanha 2050 elaborado pelo Governo de Pedro Sánchez. “Na Espanha, nascer em famı́lias de baixa renda condiciona as oportunidades de educação e desenvolvimento profissional em maior medida do que em outros paı́ses europeus”. 

        “O talento e o esforço produzem pouco na ausência de um entorno social bem desenvolvido”, diz o economista da Universidade Cornell Robert H. Frank, autor do livro Success and Luck: Good Fortune and the Myth of Meritocracy (Sucesso e sorte: Boa Fortuna e o Mito da Meritocracia), que também aponta um dos feitos perniciosos da meritocracia: “As pessoas que minimizam a contribuição ao seu sucesso de um entorno propı́cio estão menos dispostas a apoiar os investimento públicos necessários para manter esse entorno”. Nesse sentido, a meritocracia pode corroer as polı́ticas sociais, o Estado de bem-estar, idealizados, justamente, para equilibrar o terreno social e diminuir as desigualdades. O imposto de sucessão, outra forma de reequilibrar a sociedade limando as heranças, é frequentemente ridicularizado (às vezes, por defensores habituais da meritocracia). Se legitimamos uma sociedade onde os poucos que ganham levam tudo, se isso parece justo e natural, se deslegitima a redistribuição da riqueza e a justiça social. “A ideia de meritocracia é utilizada para que um sistema social profundamente desigual pareça justo quando não o é”, diz a soció loga da Universidade de Londres Jo Littler, autora de Against Meritocracy: Culture, Power and Myths of Mobility (Contra a meritocracia: cultura, poder e mitos da mobilidade).

           Mas ainda que a meritocracia existisse, talvez não fosse desejável: “É corrosiva ao bem comum”, diz o filósofo Michael Sandel, “oferece a todos a oportunidade de subir pela escada do sucesso sem notar que os degraus da escadaria podem estar cada vez mais separados. E assume que a sociedade é uma corrida com vencedores e perdedores”. Segundo o filósofo, essa forma de pensar cria elites arrogantes e classes populares humilhadas e ressentidas, a quem disseram que não são suficientemente boas. Por isso, segundo Sandel, fenômenos de reação contra as elites como o populismo de Trump e o Brexit. Porque esse é o reverso tenebroso da meritocracia: se você não fez sucesso você não tem valor, é tudo culpa sua. 

         O que fazer? A desigualdade, que encontra justificativa nas ideias meritocráticas é, junto com a mudança climática, uma das maiores ameaças à estabilidade do sistema, como dizem muitas vozes até mesmo do próprio coração do capitalismo: leva à polarização social, ao auge dos totalitarismos e ao descrédito popular das democracias liberais. Mas “o cı́rculo vicioso que inflou a crescente desigualdade meritocrática pode ser substituı́do por um cı́rculo virtuoso que assegure a igualdade democrática para todos”, diz Markovits. Para minimizar essa desigualdade é fundamental conseguir uma educação pública eficiente que chegue a todas as camadas da sociedade, assim como a diminuição do desemprego e o desaparecimento dos empregos precários, em uma época em que a aceleração tecnológica complica o mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que são propostas rendas básicas para manter a coesão social. Uma ideia que ganha cada vez mais força (por exemplo, nas ideias do presidente norte-americano Joe Biden): “A melhor resposta polı́tica à desigualdade produzida pela sorte é conseguir um maior investimento público, taxando mais os ricos”, conclui o economista Robert H. Frank.

(Adaptado. Autor: Sergio C. Fanjul. Publicado em 18/07/2019.
DisponÍvel em https://brasil.elpais.com/economia/2021-07-18/a-meritocracia-e-uma-armadilha.html)
Quanto ao texto acima, assinale a alternativa que aponta ideias que coadunam com a opinião do autor do texto:  
Alternativas
Respostas
2476: D
2477: A
2478: B
2479: D
2480: C