Leia o texto abaixo para responder à questão.
Uma das descobertas mais importantes de uma vida
dedicada ao conhecimento é tomar consciência de que nós,
seres humanos, somos limitados e que, justamente em
decorrência dessa condição, precisamos produzir conhecimento
junto com os outros. É, pois, do reconhecimento dos nossos
limites que nasce a busca por um saber genuíno construído em
comunidade de diálogo. Talvez o mais importante princípio ético
da filosofia seja o exigente e difícil ato de humildade.
Quando eu era criança, inquietava-me ao imaginar se um
dia eu teria a possibilidade de conhecer tudo. Na época não tinha
Google. Conhecer dava muito trabalho, literalmente falando.
Lembro-me do peso e do fascínio de uma coleção da editora Abril
Cultural chamada Tudo – Dicionário Enciclopédico Ilustrado. A
lição mais importante tirada desse generoso livro de milhares de
páginas fora a de que todos os seres humanos estão fadados ao
fracasso em um dia conhecer tudo.
Nossa condição humana impõe-nos uma barreira
intransponível diante de tudo. O que é bastante frustrante, visto
que ansiamos pela totalidade mesmo sabendo que jamais
poderemos alcançá-la.
Nicolau de Cusa, o grande filósofo alemão do século 15,
chamou a isso de douta ignorância. Isto é: saber dos limites do
nosso próprio saber. Diz ele que a douta ignorância significa “a
condição para uma reflexão antropológica radicada na finitude e
aberta à infinitude que saiba fazer do outro não um objeto de
posse ou um sujeito que nos é possível dominar pelo poder do
discurso, mas o que transforme em autêntico interlocutor de uma
relação que é disposição para o ‘tu’ sob a forma de encontro e de
recíproca vinculação ao mundo que é de todos”.
Notem a beleza das palavras: como sabemos dos nossos
limites, então devemos tratar os outros como autênticos
interlocutores de uma relação do tipo eu-tu. Pois o conhecimento
se constrói em comunidade de diálogos e não em relações de
poder. Meu fascínio com as enciclopédias, que hoje consigo
traduzir em palavras, partia desse dado social do conhecimento.
Nunca era um exercício de autossuficiência.
(www.gazetadopovo.com.br).