Para responder à questão, leia um trecho do romance Vermelho amargo, em que o narrador se refere à falecida mãe.
Se a chuva chovia mansa o dia inteiro, o amor da mãe se
revelava com mais delicadeza. O tempo definia as receitas.
Na beira do fogão ela refogava o arroz. O cheiro de alho frito
acordava o ar e impacientava o apetite. A couve, ela cortava
mais fina que a ponta de agulha que borda mares em ponto
cheio. Depois, mexia o angu para casar com a carne moída,
salpicada de salsinha, conversando com o caldo de feijão.
Tudo denunciava o seu amor. Nós, meninos, comíamos devagar, tomando sentido para cada gosto. Ela desconfiava que
matar nossa fome era como nos pedir para viver. A comida
descia leve como o andar do gato da minha irmã.
Exige-se longo tempo e paciência para enterrar uma
ausência. Aquele que se foi ocupa todos os vazios.
(Bartolomeu Campos de Queirós. Vermelho amargo. Cosac Naify, 2011.)