A fuga da autoridade adulta
Eu estava falando em uma conferência em Nova Iorque
durante o verão de 2016 quando descobri o termo “adultar”.
Tomava um drinque em um bar quando vi um jovem na casa
dos 30 usando uma camiseta que dizia “Chega de adultar por
hoje”. Depois, entrevistei uma mulher cuja camiseta transmitia uma mensagem simples: “Adultar é cruel!”.
Caso você não esteja familiarizado com a palavra, adaptada do inglês “adulting”, adultar é definido como “a prática de
se comportar do modo característico de um adulto responsável, especialmente na realização de tarefas mundanas, mas
necessárias”. A palavra é usada para transmitir uma conotação negativa em relação às responsabilidades associadas
à vida adulta. E sugere que, dada a oportunidade, qualquer
mulher ou homem sensato na casa dos 30 preferiria não
adultar, e evitar o papel de um adulto.
A tendência de retratar a vida adulta como uma conquista
excepcionalmente difícil que precisa ser ensinada coexiste
com uma sensação palpável de desencanto com o status
de adulto. Em tudo além do nome a vida adulta se tornou
desestabilizada, a ponto de ter se tornado alvo de escárnio
e, para muitos, uma identidade indesejada. Não surpreende
que adultar seja uma atividade que muitos indivíduos biologicamente maduros só estejam preparados para desempenhar
em tempo parcial.
O corolário da idealização do adultamento em regime
parcial é o desmantelamento da autoridade adulta. O impacto
corrosivo da perda da autoridade adulta no desenvolvimento dos jovens foi uma grande preocupação para a filósofa
política Hannah Arendt. Escrevendo nos anos 1950, Arendt
chamou atenção para o “colapso gradual da única forma de
autoridade” que existiu em “todas as sociedades conhecidas
historicamente: a autoridade dos pais sobre filhos, dos professores sobre os alunos e, em geral, dos mais velhos sobre os
mais novos”. Setenta anos depois, a desautorização da vida
adulta se tornou amplamente celebrada na cultura popular
ocidental. Em vez de se preocupar com as consequências da
erosão da autoridade adulta, esse desenvolvimento é visto
como positivo por partes da mídia, que acreditam que pessoas crescidas têm muito pouco a ensinar às crianças.
(Frank Furedi, revistaoeste.com. 24.07.2020. Adaptado)