Leia o texto abaixo e responda à questão proposta. Poucas coisas são tão difíceis quanto fazer um balanço, estabelecer um ranking. Entre as questões inevitáveis, vejam esta: melhoramos ou pioramos? Se o critério for a renda per capita, ou o resultado de um check-up, em suma, algo que permita resultados objetivos, responder é fácil. Mas perguntemos se aumentou a liberdade no mundo, se nossa sociedade é mais democrática ou não, e tudo se complica. Tento, ainda assim, um balanço das liberdades humanas. Diria que aumentou a liberdade de escolha dos indivíduos, ao longo do último século, mas que ao mesmo tempo se expandiu o controle sobre nós. Parece contraditório, e é mesmo. A liberdade cresceu enormemente no que diz respeito aos caminhos da vida. Muitos dizem que a homossexualidade não é uma opção, porque ninguém escolhe, no silêncio das paixões, a quem vai desejar sexualmente; concordo. Mas seguramente, um século atrás, a homossexualidade não era uma opção. Não estava aberta às pessoas na maior parte do mundo. Os episódios mais tristes que conheço foram de Oscar Wilde e de Piotr Tchaikovsky. Wilde, apaixonado por um rapaz que não valia grande coisa, foi para a cadeia, onde escreveu um livro doloroso, De profundis (1897), praticamente encerrando sua carreira e vida. Já o compositor russo viveu uma tragédia mais dura. Há várias versões sobre sua morte. Uma delas, num filme preto e branco, mostra-o morrendo em dolorosa agonia depois de tomar, inadvertidamente, um copo-d’água contaminado pelo cólera. Pois o filme The music lovers (1970), de Ken Russel, mostra uma história pior. Embora Tchaikovsky fosse extremamente popular na Rússia e no mundo, a descoberta de sua homossexualidade leva seu próprio círculo a lhe impor um dilema: a infâmia ou o suicídio. Ele toma a água contaminada de propósito. Morre, sim, em terrível agonia. Qualquer dessas histórias seria difícil hoje em dia. O mais irônico dos escritores britânicos, o mais romântico dos compositores russos não teriam de esconder sua orientação sexual. Teriam fins de vida mais longos, melhores. A liberdade de você ser quem é: eis o que se ampliou bastante. A vida pessoal se tornou um espaço de maior florescimento. Ao mesmo tempo, contudo, o controle cresceu exponencialmente. Foucault, que faleceu há quase trinta anos, foi quem chamou a atenção para este ponto; mas nem poderia ele imaginar como em poucas décadas aumentariam tanto os controles. Em 1995, Bill Gates celebrava, em seu A estrada do futuro, a possibilidade de se rastrear o trajeto de cada um de nós, onde abasteceu o carro, onde comprou pizza, onde adquiriu o jornal; o poeta José Paulo Paes, na época, disse que esse só podia ser um sonho idiota. Pois quem deseja ser controlado a esse ponto? Isso hoje se tornou rotina, mas com uma agravante: não é o Estado quem nos controla. Empresas o fazem. O Facebook descobre os gostos de seus clientes e vende-os para empresas que nele anunciam. O pior é que não é só isso. Podemos ser controlados em nossas opções políticas, em nosso direito de escolha, em qualquer coisa. Nem sabemos para quem são vendidas as bases de dados em que estamos. Consta que o Facebook aproxima você de quem tem preferências parecidas com as suas; mas isso é uma lástima, porque petistas conviverão com petistas, tucanos com tucanos, vegans com vegans... Perde-se justamente uma das maiores riquezas de nosso tempo, que é experimentar a diversidade. [...] (RIBEIRO, Renato Janine. Rev. Filosofia: nº 80, março de 2013, p. 82.) O termo em destaque funciona como objeto direto da oração em: