O que a 'nova Terra' tem de especial?
Na última quarta (24), uma notícia deixou de orelhas em pé
tanto os amantes da ficção científica quanto os da ciência
da vida real: astrônomos do
European Southern
Observatory, um dos maiores observatórios do
mundo,
anunciaram a descoberta de um planeta que pode
ter muitas das condições necessárias ao surgimento e à
evolução da vida. Batizado de Próxima b, ele orbita uma
anã vermelha chamada
Proxima Centauri – e já foi
carinhosamente apelidado de Nova Terra. Entenda por que
e veja o que ele tem de bacana.
1. Ele está na distância perfeita de sua estrela.
O Próxima b está a 7,5 milhões de km de sua estrela-mãe,
a Proxima Centauri. Isso é bem perto: é 5% da distância da
Terra ao Sol. Mercúrio mesmo fica bem mais longe: a 57
milhões de km. Toda essa proximidade pode parecer ruim,
mas está tranquilo, está favorável, para o planeta recém-descoberto: sua estrela é bem mais fria e muito menor do
que o Sol – tem menos de 15% do diâmetro dele (pouco
maior que Júpiter). Isso compensa a proximidade. Isso
significa que, no Próxima b, pode haver água líquida,
o ingrediente básico para a vida.
2. A estrela dele vai viver muito mais do que o Sol.
A Proxima Centauri é uma anã vermelha que pertence à
constelação do Centauro, e que provavelmente tem a
mesma idade que o Sol. Mas as análises dos astrônomos
mostram que a Proxima vai continuar brilhando – e
"alimentando" Próxima b – por alguns bilhões de anos
depois de o nosso sol morrer, o que vai acontecer daqui a
7 bilhões de anos. Ou seja: contando que o planeta seja
mesmo habitável e que, um dia, seja alcançável pelas
nossas naves, poderemos nos mudar para lá, para passar
mais alguns bilhões com um sol para chamar de nosso.
3. O céu no planeta, provavelmente, é vermelho.
Se você chegasse em Próxima b, em vez do familiar céu
azul aqui da Terra, você veria uma imensidão vermelha,
como um pôr do sol eterno. Isso porque a luz da estrela é
avermelhada.
4. Ele está MUITO perto da gente.
Daqui até o Próximo b, é um pulinho (pelo menos, em
termos astronômicos): só 4,2 anos-luz (37 trilhões de km).
Pode parecer bastante, mas os outros planetas
semelhantes à Terra que nós já encontramos ficam
bem mais longe: o Kapteyn b, na constelação de Pictor,
está a quase 13 anos-luz de distância; o Wolf 1061 c, na
constelação do Serpentário, fica a 14 anos-luz; e o GJ 667
c, na constelação de Escorpião, a 22 anos-luz. De fato, a
Proxima Centauri é a estrela que está mais perto do
sistema solar – daí o nome da estrela, e o do planeta,
que ganhou o nome da estrela adicionado da letra "b" – o
"a" seria a própria anã vermelha.
5. Ele é uma Terra com esteroides
A massa do Próxima b é só 30% maior que a nossa. A
princípio, isso não faz sentido. Os modelos científicos mais
avançados de formação de corpos celestes mostram que as
estrelas pequenas, como a Proxima Centauri, só
conseguem comportar planetas minúsculos: bem menores
que o nosso. Os astrônomos ainda não sabem o que
possibilitou o crescimento do Próxima b (...).
6. Pode existir vida por lá.
O planeta está na chamada zona habitável da órbita da
estrela – perto o bastante para que a água presente ali não
congele, e longe o suficiente para que não evapore. Ou
seja: ele pode ter água líquida, o ingrediente essencial para
a vida. Essencial, mas não exclusivo: também é preciso
haver um campo magnético que proteja o planeta da
radiação que vem da estrela – que, no caso do Próxima b, é
GRANDE: ele recebe 400 vezes mais raios X do que a
Terra.
7. Ele não tem dia e noite
Sabe a Lua, que está sempre com a mesma face voltada
para a Terra? Então: com o Próxima b é a mesma coisa. A
configuração da gravidade do planeta e da estrela, somada
à proximidade dos dois, travou um "de frente" para o outro –
não há rotação, só translação. Isso significa que Próxima b
não tem dia e noite, mas também indica que o lado
iluminado deve ter uma temperatura relativamente amena –
que pode variar entre 0°C a 30°C –, enquanto o outro,
sempre no escuro, pode chegar a um frio de -60°C. Mas
isso até que é ok, se a gente considerar que a temperatura
mais fria registrada na Terra foi de -89,2°C, no Polo Sul, e a
mais quente, 54°C. (...)
(Helô D'Angelo. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/oque-a-nova-terra-tem-de-especial Acesso em: 30 ago. 2016.
Adaptado).