Texto CG1A1-II
A crescente adoção do conceito de tecnologias sociais
ocorre concomitantemente com o avanço de dois conceitos que
lhe são complementares: economia solidária e capital social. As
graves consequências do capitalismo e da globalização, refletidas
em altos índices de desemprego, aumento de índices de violência
e criminalidade, aprofundamento da pobreza e da degradação
ambiental, não podem ser abordadas por projetos paternalistas e
compensatórios. Ao contrário, requerem estudos aprofundados
sobre um novo tipo de desenvolvimento. O professor Henrique
Rattner pontua que, entre os cientistas sociais que se debruçam
sobre os fracassos do desenvolvimento e suas causas, em todos os
debates travados nos últimos anos, o conceito de capital social
tem ocupado espaço crescente. O capital social, segundo Rattner,
procura trabalhar com a necessidade gregária, o espírito de
cooperação e os valores de apoio mútuo e solidariedade, com
base na “eficiência social coletiva”.
Capital social, segundo o estudioso John Durston, é o
conjunto de normas, instituições e organizações que promovem a
confiança, a ajuda recíproca e a cooperação e que incorporam
benefícios como redução dos custos de transação, produção de
bens públicos e facilitação da constituição de organizações de
gestão de bases efetivas, de atores sociais e de sociedades civis
saudáveis. Sua importância está na busca de estratégias de
superação da pobreza e de integração de setores sociais
excluídos.
No Brasil, nas últimas décadas, tem havido uma
multiplicação de experiências baseadas no conceito de economia
solidária. Diferentemente de iniciativas meramente paliativas,
como respostas emergenciais a situações de pobreza e miséria, há
agora uma interpretação de que essas experiências devam ser
uma base para a reconstrução do tecido social. Como diz o
pesquisador Luis Inácio Gaiger, elas “constituiriam uma ação
geradora de embriões de novas formas de produção e
estimuladora de alternativas de vida econômica e social”.
Ivete Rodrigues e José Carlos Barbieri. A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento da
tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. In: Revista de Administração
Pública – FGV, Rio de Janeiro, 42(6):1069-94, nov./dez. 2008 (com alterações).