“A leitura deste conto nos permite ver uma experiência radical da modernidade brasileira: uma autora que representa o cotidiano mais simples, aparentemente prosaico, através de imagens poéticas que o adensam e iluminam, mostrando faces inusitadas. A primeira parte da narrativa, do ponto de vista da evolução do enredo, é simples; trata-se de um passeio de bonde de uma dona de casa saciada e aparentemente equilibrada, com um começo, meio e fim constituindo o que poderíamos chamar de trama tradicional. Os filhos crescem sem sobressaltos, o marido a protege, tudo dentro dos papéis esperados pelo mundo da cultura. Mas esta é apenas a parte inicial do conto, a camada superficial que será bruscamente dilacerada na segunda parte do texto; este procedimento [...] de mostrar um mundo coeso, aparentemente linear, para nele introduzir a ruptura e a contradição, constituem [...] uma metáfora da visibilidade do universo humano, construída em graus diverso, por olhares e possibilidades diferenciadas. [...] A outra bela imagem do texto – a do saco de tricô – lembra-nos a figura de Penélope, mas com um encaminhamento moderno: diferentemente da personagem que controla seus fios, montando-os e remontando-os, Ana é surpreendida pela parada brusca do bonde que faz desatarem, metaforicamente, seu tricô e seu ordenamento do mundo. Pela escrita dessa autora, podemos observar que seus escritos funcionam como esse saco de tricô, que se desata, surpreendendo a aparente tranquilidade da personagem, do leitor e da narrativa” (Vera Romariz – Só ou bem acompanhado? Reflexões sobre a literatura e a cultura). Pela caracterização que Vera Romariz faz da obra e da autora, podemos perceber que se trata de __________, ligada ao movimento ________.
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