Questões de Vestibular
Sobre análise sintática em português
Foram encontradas 479 questões
Para que a julguemos boa, é necessário e suficiente que ela contribua para que a obra lítero-musical de que faz parte seja boa.
No período em destaque, a oração Para que a julguemos boa indica, em relação à oração principal,
Texto 2
A obra D. Guidinha do Poço conta a história de D. Margarida Reginaldo de Sousa Barros — conhecida como Guida ou Guidinha —, herdeira do Capitão-Mor Reginaldo Venceslau. Depois da morte do pai, ela se casa com o Major Joaquim Damião de Barros, o Major Quim, dezesseis anos mais velho do que ela. Embora tivessem casa na vila, fixaram residência na fazenda Poço da Moita, herdade de Margarida. Depois de alguns anos de casados, Margarida se apaixona por Secundino, jovem praciano, sobrinho do marido. Quando o Major Quim descobre a traição, pede o divórcio, que Guida não aceita. O Major deixa-a na fazenda e vai morar na casa da Vila. A mulher, então, contrata um capanga de nome Naiú para matar o marido. O caboclo faz o serviço, mas, quando é preso, revela que fora D. Margarida a mandante do homicídio.
O capítulo que você lerá é o último da obra, quando se dá a prisão de D. Guidinha do Poço.
Manuel de Oliveira Paiva. Dona Guidinha do Poço.
p. 125-126. Texto adaptado.
Reflita sobre o excerto transcrito: “A saia de montaria, de bretanha, arfava ao vento, produzindo uma irritação estranha aquele pano branco na alma enlutada da população. Guida olhava a turba com admiração, que ao povo parecia petulância e, por vê-la açoitar o cavalo, diziam que ela acenava com o chicote para ele...” (linhas 87-93).
I. O período transcrito poderia ter a seguinte estrutura: A saia de montaria, de bretanha, arfava ao vento, produzindo aquele pano branco uma irritação estranha na alma enlutada da população.
II. O verbo dizer, no plural, “diziam”, concorda ideologicamente com “povo”, isto é, concorda com a ideia de plural dessa palavra, não com a sua forma.
III. A oração “por vê-la açoitar o cavalo” tem o valor semântico de condição.
Está correto o que se diz somente em
Texto 1
O texto 1 desta prova é da autoria do intelectual cearense Gustavo Barroso, que nasceu em Fortaleza, no ano de 1888 e morreu no Rio de Janeiro, em 1959. Professor, jornalista, ensaísta, romancista, foi membro da Academia Brasileira de Letras. A obra À margem da história do Ceará, em dois volumes, foi seu último trabalho. É uma reunião de setenta e seis artigos e crônicas que falam exclusivamente sobre a história do Ceará entre 1608 e 1959. O texto transcrito abaixo foi extraído do segundo volume e, como vocês poderão ver, é um artigo sobre a obra do também cearense Manuel de Oliveira Paiva, Dona Guidinha do Poço. Servindo-se de uma pesquisa feita pelo historiador Ismael Pordeus, Gustavo Barroso fala do romance de Oliveira Paiva, mais especificamente, das relações entre essa obra literária e a verdade histórica que ela transfigura.
Gustavo Barroso. À margem da história do
Ceará. v. 2, 3 ed. p. 347-350. Texto adaptado.
Pondere sobre as relações sintáticas do seguinte período: “Vivia, no entanto, tão desassossegado, receando qualquer atentado por parte da esposa, cujo caráter conhecia, que pedira garantias de vida às autoridades e andava pelas ruas sob a guarda do destacamento policial” (linhas 45-50). Escreva V para a assertiva verdadeira e F para a assertiva falsa.
( ) O período, como um todo, relaciona-se com o período anterior, fazendo-lhe restrição ao conteúdo, o que se destaca pelo uso da conjunção no entanto. Relaciona-se também com o período posterior, o qual lhe faz oposição explicitada pela conjunção mas, que os liga.
( ) A oração “Vivia, no entanto, tão desassossegado” relaciona-se com o conjunto de orações coordenadas entre si: “que pedira garantias de vida às autoridades e andava pelas ruas sob a guarda do destacamento policial”. Essas orações introduzem, em relação à primeira, a ideia de consequência.
( ) A oração “cujo caráter conhecia” relaciona-se unicamente com a anterior, “receando qualquer atentado por parte da esposa”, à qual se liga por meio do pronome relativo cujo. Pode, inclusive, ser retirada do enunciado, sem prejuízo de seu conteúdo. Essa retirada, entretanto, enfraquece a enunciação.
( ) A oração “receando qualquer atentado por parte da esposa”, liga-se, ainda, à primeira oração, “Vivia, no entanto, tão desassossegado”, e introduz uma ideia de concessão.
( ) A primeira oração, “Vivia, no entanto, tão desassossegado” é a oração principal das orações que com ela se relacionam e para ela funcionam como termo sintático. Por outro lado, a oração “receando qualquer atentado por parte da esposa” é oração principal para a oração “cujo caráter conhecia”, que lhe serve como termo sintático, adjunto adnominal.
A sequência correta, de cima para baixo, é:
Texto 1
O texto 1 desta prova é da autoria do intelectual cearense Gustavo Barroso, que nasceu em Fortaleza, no ano de 1888 e morreu no Rio de Janeiro, em 1959. Professor, jornalista, ensaísta, romancista, foi membro da Academia Brasileira de Letras. A obra À margem da história do Ceará, em dois volumes, foi seu último trabalho. É uma reunião de setenta e seis artigos e crônicas que falam exclusivamente sobre a história do Ceará entre 1608 e 1959. O texto transcrito abaixo foi extraído do segundo volume e, como vocês poderão ver, é um artigo sobre a obra do também cearense Manuel de Oliveira Paiva, Dona Guidinha do Poço. Servindo-se de uma pesquisa feita pelo historiador Ismael Pordeus, Gustavo Barroso fala do romance de Oliveira Paiva, mais especificamente, das relações entre essa obra literária e a verdade histórica que ela transfigura.
Gustavo Barroso. À margem da história do
Ceará. v. 2, 3 ed. p. 347-350. Texto adaptado.
Considere o seguinte extrato transcrito do texto: “o romance narra simplesmente, com nomes e topônimos diversos, o crime cometido pela velha Lessa a mulher que matou o marido da molecada fortalezense de há mais de meio século.” (linhas 31- 36). O excerto traz uma ambiguidade causada pela construção sintática: “a mulher que matou o marido da molecada fortalezense de há mais de um século” (linhas 34-36).
Observe o que se comenta sobre o extrato e assinale a opção INCORRETA.
Texto 1
O texto 1 desta prova é da autoria do intelectual cearense Gustavo Barroso, que nasceu em Fortaleza, no ano de 1888 e morreu no Rio de Janeiro, em 1959. Professor, jornalista, ensaísta, romancista, foi membro da Academia Brasileira de Letras. A obra À margem da história do Ceará, em dois volumes, foi seu último trabalho. É uma reunião de setenta e seis artigos e crônicas que falam exclusivamente sobre a história do Ceará entre 1608 e 1959. O texto transcrito abaixo foi extraído do segundo volume e, como vocês poderão ver, é um artigo sobre a obra do também cearense Manuel de Oliveira Paiva, Dona Guidinha do Poço. Servindo-se de uma pesquisa feita pelo historiador Ismael Pordeus, Gustavo Barroso fala do romance de Oliveira Paiva, mais especificamente, das relações entre essa obra literária e a verdade histórica que ela transfigura.
Gustavo Barroso. À margem da história do
Ceará. v. 2, 3 ed. p. 347-350. Texto adaptado.
Observe o que se diz sobre o período seguinte: “Na última década do século passado, entre os tipos populares da cidade de Fortaleza, capital do Ceará, minha terra natal, andava uma velha desgrenhada, farrapenta e suja, que a molecada perseguia com chufas, a que ela replicava com os piores doestos deste mundo.” (linhas 1-7).
I. A preposição “entre”, em “entre os tipos populares de Fortaleza”, poderia ser substituída por “em meio a”.
II. Em “capital do Ceará, minha terra natal”, há dois apostos. Podemos entender que os dois explicitam “cidade de Fortaleza”, ou que o segundo explicita “capital do Ceará”. No segundo caso, teremos um aposto dentro de outro aposto.
III. Dentro do contexto, poderíamos substituir o artigo indefinido uma, em “uma velha desgrenhada”, pelo artigo definido a.
Está correto o que se diz em
Texto 1
O texto 1 desta prova é da autoria do intelectual cearense Gustavo Barroso, que nasceu em Fortaleza, no ano de 1888 e morreu no Rio de Janeiro, em 1959. Professor, jornalista, ensaísta, romancista, foi membro da Academia Brasileira de Letras. A obra À margem da história do Ceará, em dois volumes, foi seu último trabalho. É uma reunião de setenta e seis artigos e crônicas que falam exclusivamente sobre a história do Ceará entre 1608 e 1959. O texto transcrito abaixo foi extraído do segundo volume e, como vocês poderão ver, é um artigo sobre a obra do também cearense Manuel de Oliveira Paiva, Dona Guidinha do Poço. Servindo-se de uma pesquisa feita pelo historiador Ismael Pordeus, Gustavo Barroso fala do romance de Oliveira Paiva, mais especificamente, das relações entre essa obra literária e a verdade histórica que ela transfigura.
Gustavo Barroso. À margem da história do
Ceará. v. 2, 3 ed. p. 347-350. Texto adaptado.
Reflita sobre os enunciados transcritos e o que se diz sobre eles.
I. “estava eu de supor que contemplava na mendiga semitrôpega a figura central duma tragédia real e dum romance destinado a certa celebridade literária” (linhas 18-22). A construção sintática “estava eu de supor” não é comum no português brasileiro contemporâneo. Atualmente, evitaríamos esse torneio sintático e o reduziríamos: (Eu) estava supondo ou (Eu) supunha.
II. “O que até recentemente se não sabia sobre este livro notável é que não passa de uma história romanceada com a maior fidelidade possível aos elementos humanos, sociais e paisagísticos da realidade.” (linhas 26-30) A posição do pronome oblíquo átono em “até recentemente se não sabia sobre este livro notável” recebe o nome de apossínclise e está em desuso no português brasileiro contemporâneo. Nesse caso, se usaria a próclise: até recentemente não se sabia sobre este livro notável.
III. “Sua figura acurvada e encanecida me impressionava” (linhas16-17); “sem bulha nem matinada, dela se afastou” (linhas 41-42). Nesses casos, o enunciador emprega a próclise. No português do Brasil, atualmente, há preferência pela ênclise, assim sendo, hoje, esses enunciados teriam a seguinte estrutura: Sua figura acurvada e encanecida impressionava-me; sem bulha nem matinada, dela afastou-se.
Está correto o que se diz em
Considere as seguintes afirmações.
I - A oração ter uma amiga experiente (l. 16) desempenha a função sintática de objeto direto.
II - A expressão seus olhos (l. 34) desempenha a função sintática de sujeito.
III- A expressão as personalidades (l. 57) desempenha a função sintática de objeto direto.
Quais estão corretas?
TEXTO 3
A tirinha em tela foi publicada às vésperas do dia internacional da mulher deste ano de 2019. A referência à data está expressa na placa que a menina carrega: “8M” (8 de março).
Nos enunciados “A LUTA”, “HÁ LUTA” e “À LUTA”, observam-se três
TEXTO 1
NOS ANOS 1940, MULHERES FORAM PRESAS POR JOGAR FUTEBOL NAS RUAS DE BELO HORIZONTE
Renan Damasceno /Estado de Minas
Página original do Diário da Tarde (Foto: Arquivo EM)
Em 1940, mulher jogando futebol em Belo Horizonte era caso de polícia. “Mulheres jogavam futebol à noite, no fim da linha de Lourdes”, chamava a atenção o Diário da Tarde de 20/4/1940. “O guarda prendeu as jogadoras e o seu treinador. Uma conseguiu escapar e trancar-se em casa”. O caso parece pitoresco, não fosse trágico, e revela um pouco sobre o preconceito dos primeiros registros de mulheres jogando futebol na capital mineira encontrados nos arquivos dos Diários Associados.
Disponível em: https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/interior/ 2019/03/22/noticia_interior,574010/nos-anos-1940-mulheres-foram-presas-por-jogar-futebol-nas-ruas-de-bel.
shtml?fbclid=IwAR3S-N0oyIuAcC-U6vICoxuxSKonZYQ9p1 iMmDNHIqQvgPWDGB-Kb2_a__E?utm_
source=whatsapp&utm_medium=social
No contexto deste post, o slogan de campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos (“Faça a América
grande de novo!”) e a imagem destacando a etiqueta de procedência de uma peça de gravata de coleção assinada
pelo mesmo Donald Trump (“Made in China”/”Hecho en China” = Feito na China) expressam uma relação de:
Até no luto temos de assumir novas posturas: sofrer vai ficando fora de moda. (Linha 21)
No trecho em destaque, após os dois pontos, temos:
Leia o trecho do livro A dança do universo, do físico brasileiro
Marcelo Gleiser, para responder a questão.
Algumas pessoas tornam-se heróis contra sua própria
vontade. Mesmo que elas tenham ideias realmente (ou potencialmente) revolucionárias, muitas vezes não as reconhecem como tais, ou não acreditam no seu próprio potencial.
Divididas entre enfrentar sua insegurança expondo suas
ideias à opinião dos outros, ou manter-se na defensiva, elas
preferem a segunda opção. O mundo está cheio de poemas
e teorias escondidos no porão.
Copérnico é, talvez, o mais famoso desses relutantes heróis da história da ciência. Ele foi o homem que colocou o Sol de volta no centro do Universo, ao mesmo tempo fazendo de tudo para que suas ideias não fossem difundidas, possivelmente com medo de críticas ou perseguição religiosa. Foi quem colocou o Sol de volta no centro do Universo, motivado por razões erradas. Insatisfeito com a falha do modelo de Ptolomeu, que aplicava o dogma platônico do movimento circular uniforme aos corpos celestes, Copérnico propôs que o equante fosse abandonado e que o Sol passasse a ocupar o centro do cosmo. Ao tentar fazer com que o Universo se adaptasse às ideias platônicas, ele retornou aos pitagóricos, ressuscitando a doutrina do fogo central, que levou ao modelo heliocêntrico de Aristarco dezoito séculos antes.
Seu pensamento reflete o desejo de reformular as ideias cosmológicas de seu tempo apenas para voltar ainda mais no passado; Copérnico era, sem dúvida, um revolucionário conservador. Ele jamais poderia ter imaginado que, ao olhar para o passado, estaria criando uma nova visão cósmica, que abriria novas portas para o futuro. Tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Copérnico decerto teria odiado a revolução que involuntariamente causou.
Entre 1510 e 1514, compôs um pequeno trabalho resumindo suas ideias, intitulado Commentariolus (Pequeno comentário). Embora na época fosse relativamente fácil publicar um manuscrito, Copérnico decidiu não publicar seu texto, enviando apenas algumas cópias para uma audiência seleta. Ele acreditava piamente no ideal pitagórico de discrição; apenas aqueles que eram iniciados nas complicações da matemática aplicada à astronomia tinham permissão para compartilhar sua sabedoria. Certamente essa posição elitista era muito peculiar, vinda de alguém que fora educado durante anos dentro da tradição humanista italiana. Será que Copérnico estava tentando sentir o clima intelectual da época, para ter uma ideia do quão “perigosas” eram suas ideias? Será que ele não acreditava muito nas suas próprias ideias e, portanto, queria evitar qualquer tipo de crítica? Ou será que ele estava tão imerso nos ideais pitagóricos que realmente não tinha o menor interesse em tornar populares suas ideias? As razões que possam justificar a atitude de Copérnico são, até hoje, um ponto de discussão entre os especialistas.
(A dança do universo, 2006. Adaptado.)
“Tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Copérnico decerto teria odiado a revolução que involuntariamente causou.” (3o parágrafo)
Em relação ao trecho que o sucede, o trecho sublinhado tem
sentido de
Facebook testa reconhecimento facial para usuários que perderam suas senhas
O Facebook começou a testar nessa semana um recurso de reconhecimento facial para autenticar seus usuários. A ideia da empresa é usar essa identificação biométrica somente quando a pessoa estiver sem acesso normal a seu perfil. Ou seja, quando a senha for esquecida ou a conta for hackeada por alguém.
A rede social explica que não deve haver preocupações com privacidade, já que essa identificação biométrica não será utilizada com frequência nem terá outros meios de uso além da recuperação de senha. Em um comunicado oficial ao TECHCRUNCH, a empresa confirmou o teste: “Estamos testando uma nova ferramenta para pessoas que queiram verificar posse de uma conta com rapidez e simplicidade durante o processo de recuperação de senha. Essa função opcional estará disponível apenas em aparelhos que você já utiliza para fazer login no Facebook. É um passo a mais, junto com a autenticação de dois fatores via SMS, que estamos dando para nos certificarmos que os usuários corretos possam confirmar suas identidades”, diz o texto.
Acredita-se que, se a função se provar confiável contra hackers, o Facebook pode adotá-la de forma definitiva na rede social e começar a utilizá-la regularmente para reaver contas perdidas. Ainda não se sabe, entretanto, quando isso pode acontecer nem se vai gerar alguma polêmica, como foi o caso do reconhecimento facial para marcação de pessoas em fotos.
MÜLLER, Leonardo. Facebook testa reconhecimento facial para usuários que perderam suas senhas. Disponível em: https://www.tecmundo. com.br/redessociais/122549-facebook-testa-reconhecimento-facial-usuarios-perderamsenhas.htm. Acesso em: 30 set. 2017. (Adaptado).
Leia o trecho do livro Abolição, da historiadora brasileira Emília Viotti da Costa.
Durante três séculos (do século XVI ao XVIII) a escravidão foi praticada e aceita sem que as classes dominantes questionassem a legitimidade do cativeiro. Muitos chegavam a justificar a escravidão, argumentando que graças a ela os negros eram retirados da ignorância em que viviam e convertidos ao cristianismo. A conversão libertava os negros do pecado e lhes abria a porta da salvação eterna. Dessa forma, a escravidão podia até ser considerada um benefício para o negro! Para nós, esses argumentos podem parecer cínicos, mas, naquela época, tinham poder de persuasão. A ordem social era considerada expressão dos desígnios da Providência Divina e, portanto, não era questionada. Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos. De acordo com essa teoria, não cabia aos homens modificar a ordem social. Assim, justificada pela religião e sancionada pela Igreja e pelo Estado – representantes de Deus na Terra –, a escravidão não era questionada. A Igreja limitava-se a recomendar paciência aos escravos e benevolência aos senhores.
Não é difícil imaginar os efeitos dessas ideias. Elas permitiam às classes dominantes escravizar os negros sem problemas de consciência. Os poucos indivíduos que no Período Colonial, fugindo à regra, questionaram o tráfico de escravos e lançaram dúvidas sobre a legitimidade da escravidão, foram expulsos da Colônia e o tráfico de escravos continuou sem impedimentos. Apenas os próprios escravos questionavam a legitimidade da instituição, manifestando seu protesto por meio de fugas e insurreições. Encontravam, no entanto, pouca simpatia por parte dos homens livres e enfrentavam violenta repressão.
(A abolição, 2010.)
O trecho destacado exerce a função sintática de
Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987).
Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama:
“Não saia casa 3 outubro abraços”.
O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora, mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa,precipitara-se na agência para expedir a mensagem.
Não havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone, pediu linha,mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o dia. A voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de empregado da casa; insistira:“como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia besouros na linha.Falou rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano1, disse que achava pouco cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou:“Dia 4 nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na portaria, um sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato de duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o mesmo. Desceu na praça da Liberdade e pôs-se a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena distância.Foi saindo de mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma. O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta em riste advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças, havia armas cruzadas nos antos. Nos Correios, a mesma coisa, também na Telefônica. Bondes passavam escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes chispavam. As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu escuro, abafado, chuva próxima.
Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente, não devia ter saído de casa.
(70 historinhas, 2016.)
1 arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da
epopeia Eneida, do escritor Vergílio, referentes ao herói Eneias).
“Deliberou deitar-se, embora a noite apenas começasse.” (4º parágrafo)
Em relação à oração anterior, a oração destacada exprime
ideia de
PORTUGUÊS
Foi na noite de trinta e um, aberta a champanhe na quitinete de Raul, que Saul ergueu a taça e brindou à nossa amizade que nunca vai terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocando a roupa no banheiro, muito bêbado, Saul falou que ia dormir nu. Raul olhou para ele e disse você tem um corpo bonito. Você também, disse Saul, e baixou os olhos. Deitaram ambos nus, um na cama atrás do guarda-roupa, outro no sofá. Quase a noite inteira, um conseguia ver a brasa acesa do cigarro do outro, furando o escuro feito um demônio de olhos incendiados. Pela manhã, Saul foi embora sem se despedir para que Raul não percebesse suas fundas olheiras.
Quando janeiro começou, quase na época de tirarem férias — e tinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção os chamou, perto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi direto ao assunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se a mostrá-las. Pálidos, os dois ouviram expressões como "relação anormal e ostensiva", "desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardião da Moral. Saul baixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo e a outra erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputação-de-nossa-firma ou tenho-que-zelar-pela-moral-dos-meus-funcionários, declarasse frio: os senhores estão despedidos.
Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoço, sem se olharem nos olhos.O sol de verão escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tú Me Acostumbraste, escrita à mão por Raul numa tarde qualquer de agosto e com algumas manchas de café. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio.
Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cima pelos colegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse. Ai-ai! alguém gritou da janela. Mas eles não ouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina.
Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram.
ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. Rio de Janeiro: Agir, 2005.