Questões de Vestibular
Sobre parônimos e homônimos em português
Foram encontradas 19 questões
A compreensão dessa peça da publicidade nacional exige atenção para:
1) o caráter homonímico de algumas palavras. 2) o peso do contexto na interpretação das palavras. 3) a polissemia e a possibilidade de ambiguidade de certas expressões.
Estão corretas:
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/-
cegueira-noturna->.
Acesso em: 4 ago. 2018.
TEXTO 1
“A política não é lugar pra preto vagabundo feito você!”
(Douglas Belchior)
Tenho plena consciência de que represento uma exceção. Ainda que miscigenado (fosse a pele retinta, bem sei que a vida reservaria ainda mais dificuldades), como homem negro, estudei. Alcancei o banco de uma universidade reconhecida, a PUC- SP, onde me formei em História e alcei o desvalorizado, mas nem por isso menos nobre, status de professor. Trabalhador da rede pública estadual de São Paulo, nada convidativo financeiramente, mas ainda assim, digno.
Conciliar profissão a militância política foi uma opção consciente – outro privilégio para poucos. Trabalho, ganho a vida e pago minhas contas fazendo o que amo: educação, logo, política. A vida que escolhi me levou a pessoas incríveis: lideres políticos, intelectuais, atletas e artistas. Me levou a lugares impensáveis: salas acarpetadas de governos, viagens para debates, palestras e atividades políticas das mais diversas em quase todos os estados brasileiros e até nos EUA. Em todos esses espaços, tanto em momentos de conflito com adversários, quanto em momentos de elaboração e confraternização com os meus da “esquerda”, uma coisa nunca mudou: sou um homem negro. E como um negro no país da democracia racial, sempre soube que o tratamento gentil e tolerante a mim dispensado sempre esteve condicionado a que eu soubesse o meu lugar e que não me atrevesse a sair dele.
Fui candidato a deputado federal nas eleições de 2014. Alcancei quase 12 mil votos, alcançando posição de segundo suplente à câmara federal. Como liderança política do diverso e confuso movimento negro brasileiro, me dediquei ao enfrentamento ao racismo, à denúncia do genocídio negro e à luta por direitos sociais para o povo negro, sobretudo no que diz respeito à educação e aos direitos humanos, temas em que atuo com mais profundidade. Ainda assim, sempre enfrentei olhares desconfiados, posturas desencorajadoras e a impressão de eterna dúvida quanto à minha capacidade política ou profissional. Depois da candidatura em 2014, essa impressão só aumentou. E agora finalmente transpareceu, verbalizada, em uma destas conversas de internet, na última semana: “A política não é lugar pra preto vagabundo feito você!”
Um fato é inquestionável: negros não são tolerados na política, senão como serviçais, cabos eleitorais ou, no máximo, assistentes. No campo da esquerda isso não muda. E se for mulher é ainda mais difícil. Só que desta vez consegui reverter o efeito desestimulante. Diante da cultura racista dominante na ocupação dos espaços do poder político, dou aqui a minha resposta: “Vamos enfrentar, vamos disputar e vamos vencer! Lugar de preto é onde ele quiser – inclusive na política! "
(http://negrobelchior.cartacapital.com.br/politica-nao-elugar-pra-preto-vagabundo-feito-voce/. Texto adaptado)
(Gazeta do Povo, 06.11.2012.)
Na charge, para efeito de humor, faz-se um jogo de palavras
Texto 3
Minha vida
Minha vida
não é tempo que corre
do meu natal
à minha morte
Minha vida é o meu dia de natal
- Dia da minha morte
In: COOPER, Jorge. Poesia Completa.
Maceió: Cepal, 2010, p. 41.
Leia o poema abaixo, de Valéria Paz de Almeida, para responder à questão.
Metaformose
A palavra atravessa
a máscara pálida da emoção
e instiga o reflexo ofuscante da criação.
Através da forma formosa
da disforme forma
da alomorfia da metáfora
crio e recrio
o empírico
o impuro
o imperene.
Até o nada
me alucina
me fertiliza.
Niilismo lírico
da existência metamórfica
que me desgasta
e se engasta na palavra.
Essa palavra que atravessa
o corpo silente
e explode e se expande
como o cosmo
metaformoso.
meta (prefixo grego, “mudança) + morfo (radical grego, “forma”) + ose (sufixo grego, “ação, processo”)
A partir das informações acima e do significado da palavra formoso, o sentido provável do neologismo metaformose é:
TEXTO III
Todos os homens são iguais perante Deus
E sem uma boa agência de propaganda,
todas as margarinas também.
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGÊNCIAS DE PROPAGANDA 20º Anuário do Clube de Criação de São Paulo)
(Disponível em: <coisasdamiroca.centerblog.net/6775-tirinha-adoramos-cestas-sestas-sextas-74>. Acesso em: 18 jul. 2017.)
I. As duas palavras pertencem à mesma classe gramatical. II. São paroxítonas e pronunciadas com “e” fechado. III. Apresentam a mesma pronúncia, mas grafia e significado diferentes. IV. A substituição de uma palavra pela outra não altera o significado.
Assinale a alternativa correta.
Texto IV
Felicidade clandestina
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós, menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disseme que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente
nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. In: Felicidade Clandestina: contos. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1998 (adaptado).
Texto V
A busca pela felicidade está nos tornando infelizes e as redes sociais não estão ajudando
A opinião é do pianista James Rhodes, "Não somos destinados a ser felizes o tempo inteiro", diz ele no quadro opinativo Viewsnight, do programa da BBC Newsnight, afirmando que a busca pela felicidade a todo custo está nos tornando infelizes.
Na visão do pianista, "a busca pela felicidade parece nobre, mas é fundamentalmente falha".
Ele considera que "a felicidade não é algo a se perseguir mais do que a tristeza, a raiva, a esperança ou o amor".
A felicidade "é, simplesmente, um estado de ser, que é fluido, passageiro e às vezes inatingível".
Negar a existência de outros sentimentos, nem sempre considerados positivos, afirma, não é o melhor caminho. [...]
Rhodes observa que estamos em uma era de ritmo sem precedentes no dia a dia e que "nossa mentalidade 'sempre ligada' criou um ambiente impraticável e insustentável".
"Estamos em apuros", diz ele. "E as selfies cuidadosamente escolhidas e postadas no
Instagram; a perfeição física espalhada por todas as mídias – inalcançável e extremamente
'photoshopada' – e o anonimato das redes sociais, onde descarregamos nossa ira, não
estão ajudando".
"Sentimentos desafiadores"
Rhodes chama a atenção para os diferentes tipos de sentimento que permeiam a vida e
nem todos têm a ver com satisfação ou alegrias. Há também o outro lado.
"Todos nos sentimos alternadamente ansiosos, para baixo, tranquilos, aflitos, contentes. Ocasionalmente, alguns de nós podemos nos perder no continuum em direção a depressão, ao transtorno de estresse pós-traumático e a pensamentos suicidas", diz.
Mas pondera: "Só porque não estamos felizes não significa que estamos infelizes".
Para o pianista, assim é a complexidade da vida: "repleta de sentimentos e situações tumultuados, desafiadores e difíceis".
"Negá-los, resistir a eles, se desculpar por eles ou fingir que não existem é contraintuitivo e contraproducente".
Foi justamente o caminho contrário, o do reconhecimento de que "coisas ruins também acontecem" e de que é preciso falar sobre elas que ele decidiu trilhar há alguns anos – quando resolveu contar em livro problemas que enfrentou ao longo da vida.
Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/salasocial-42680542. Acesso em: 06 abr. 2018 (adaptado).
Assinale a alternativa que avalia CORRETAMENTE as assertivas seguintes:
I. No texto IV, caso seja retirado o acento gráfico de “histórias”, não haverá alteração semântica tampouco morfológica, o que comprova a acentuação gráfica ser fundamental para a coerência textual.
II. Corroborando ser a ortografia recurso importante para se manter a coerência de um enunciado, no texto IV, em “...espiava em silêncio...”, se a palavra em negrito for substituída por seu homônimo homófono “expiava”, manter-se-á o sentido original da expressão.
III. “Rhodes chama a atenção para os diferentes tipos de sentimento que permeiam a vida...” (texto V) – No período transcrito, o acréscimo de uma vírgula antes do pronome relativo “que” mudará o caráter restritivo da oração. Isso demonstra que a pontuação contribui para a coerência do texto.
Texto 1
O texto I é um excerto de Baú de Ossos (volume 1), do médico e escritor mineiro Pedro Nava. Inclui-se essa obra no gênero memorialístico, que é predominantemente narrativo. Nesse gênero, são contados episódios verídicos ou baseadas em fatos reais, que ficaram na memória do autor. Isso o distingue da biografia, que se propõe contar a história de uma pessoa específica.
(Pedro Nava. Baú de ossos. Memórias 1. p. 308 a
310.)