O uso de novas marcas de gênero na língua portuguesa
como decorrência de um ativismo social aplicado à linguagem
nos convida a uma análise. Há registro de diversos movimentos
relacionados à busca de usos alternativos aos aceitos
oficialmente. Até recentemente, esses movimentos tinham como
foco principal a adoção de usos que conferissem à língua do
Brasil uma identidade própria. O ativismo atual preocupa-se
menos com estrangeirismos e mais com aspectos ligados às
questões de gênero.
Examinemos os usos de “@”, “x”, “e” como desinências
para identificar conjuntos de pessoas de diferentes gêneros, em
substituição ao plural masculino, previsto nas normas
gramaticais. Segundo essas normas, basta que haja um elemento
masculino para que o plural seja masculino. Ao nos referirmos a
um coletivo em que haja pelo menos uma pessoa do gênero
masculino, escrevemos: Nossas saudações a todos. Nos usos do
ativismo, temos: Nossas saudações a “tod@s”, “todxs”, “todes”
e, mais recentemente, “tods”. Do ponto de vista da
funcionalidade da língua, os dois primeiros, assim como o
último, não se mostram viáveis no caso de sua produção oral, fato
que nos leva a supor que seu uso, enquanto perdurar, continuará
restrito ao contexto da escrita. O terceiro (“e”) não apresenta essa
limitação. Para uso amplo, tanto na fala quanto na escrita, parecenos, então, que só ele tenha alguma perspectiva de incorporação à
língua portuguesa.
Marcelo Correia e Castro. TODAS, TODES, TODOS, TODS, TODXS,
TOD@S: ativismo social, gênero e usos da língua. In: Revista Ciência
Hoje, julho 2021. Internet:<www.cienciahoje.org.br> (com adaptações).