Texto 1A1-I
À primeira vista, a palavra pode sugerir névoa, neblina,
um véu de água se espalhando pela paisagem. Mas, à medida que
os pesquisadores se debruçam sobre documentos como cartas de
sesmarias e livros antigos e escutam a tradição oral, mais
descobrem sobre o verdadeiro significado do nome das cidades,
dos povoados e dos acidentes geográficos de Minas Gerais. Quer
dois exemplos? Os distritos coloniais de Brumal, em Santa
Bárbara, e Cachoeira do Brumado, em Mariana, ganharam essa
denominação não pela bruma à qual remetem, e sim pela broma,
que em castelhano quer dizer enrolar, passar para trás. Nascidas
no século XVIII e criadas na efervescência da mineração, as
localidades teriam sido palco de perdas e enganos na disputa pelo
ouro, pois as lavras não eram tão ricas como supunham os
colonizadores. Bem a propósito, Cachoeira do Brumado, em seus
primórdios, quando o território nem se chamava ainda Capitania
de Minas, era conhecida como Bromado.
Os nomes das cidades apaixonam os pesquisadores e
rendem profundos estudos acadêmicos. “Afinal, eles têm grande
importância para os moradores, sua história, origem e
identidade”, diz a professora da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria Cândida
Trindade Costa de Seabra. Coordenadora do Grupo Mineiro de
Estudos do Léxico, que trata a palavra no contexto sociocultural e
pesquisa neologismos, topônimos (nome próprio de um lugar),
antropônimos (nomes de pessoas) e outros, Maria Cândida e sua
equipe montaram três bancos de dados, um deles com 85 mil
nomes de lugares, entre eles cidades, povoados, fazendas, rios,
córregos e morros do estado listados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Do total pesquisado, a equipe verificou que há 8,4 mil
topônimos de origem indígena, como Buriti e Pindaíba; 1,3 mil
de origem africana, caso de Caxambu, no sul de Minas Gerais;
2,8 mil híbridos ou decorrentes da mistura de português com
indígena (Buriti Grande); de origem indígena com africano
(Capão do Cachimbo) e de africano com português (Quilombo
Baixo), além de 1,2 mil não classificados, como Manjonge. Os
dados alimentam, desde 2005, o Projeto ATEMIG — Atlas
Toponímico do Estado de Minas Gerais, desdobramento do Atlas
Toponímico do Brasil desenvolvido na Universidade de São
Paulo (USP). Os outros dois bancos de dados contêm
informações e mapas antigos do Centro de Cartografia Histórica
da UFMG e relatos orais colhidos em atividades de campo.
Internet: <www.em.com.br> (com adaptações).