Questões de Vestibular UNICAMP 2017 para Vestibular
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Estrangeirismos são palavras e expressões de outras línguas usadas correntemente em nosso cotidiano. Sobre o emprego de palavras estrangeiras no português, o linguista Sírio Possenti comenta:
Tomamos alguns verbos do inglês e os adaptamos a nosso sistema verbal exclusivamente segundo regras do português. Se adotarmos start, logo teremos estartar (e todas as suas flexões), pois nossa língua não tem sílabas iniciais como st-, que imediatamente se tornam est-. A forma nunca será startar, nem ostartar ou ustartar, nem estarter ou estartir, nem printer ou printir, nem atacher ou atachir etc., etc., etc.
(Adaptado de Sírio Possenti, “A questão dos estrangeirismos”, em Carlos Alberto Faraco, Estrangeirismos: guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2001, p. 173-174.)
As alternativas abaixo reproduzem trechos de um fórum de discussão na Internet sobre um jogo eletrônico. Nessa discussão, um jogador queixa-se por não ter conseguido se conectar a uma partida e ter perdido pontos. Escolha a alternativa que contém um exemplo do processo de adaptação de verbos do inglês para o sistema verbal do português, como descreve Sírio Possenti.
(Adaptado de
http://forums.br.leagueoflegends.com/board/showthread.php?t=187120.
Acessado em 15/07/2017.)
Leia, a seguir, um excerto de “Terrorismo Literário”, um manifesto do escritor Ferréz.
A capoeira não vem mais, agora reagimos com a palavra,porque pouca coisa mudou, principalmente para nós. A literatura marginal se faz presente para representar a cultura de um povo composto de minorias, mas em seu todo uma maioria.
A Literatura Marginal, sempre é bom frisar, é uma literatura feita por minorias, sejam elas raciais ou socioeconômicas.Literatura feita à margem dos núcleos centrais do saber e da grande cultura nacional, isto é, de grande poder aquisitivo. Mas alguns dizem que sua principal característica é a linguagem, é o jeito que falamos, que contamos a história, bom, isso fica para os estudiosos.
Cansei de ouvir:— “Mas o que cês tão fazendo é separar a literatura, a do gueto e a do centro”. E nunca cansarei de responder: — “O barato já tá separado há muito tempo, foi feito todo um mundo de teses e de estudos do lado de lá, e do de cá mal terminamos o ensino dito básico.”
(Adaptado de Ferréz, “Terrorismo literário”, em Ferréz (Org.), Literatura marginal: talentos da escrita periférica. Rio de Janeiro: Agir, 2005, p. 9,12,13.)
Ferréz defende sua proposta literária como uma
No contexto deste grafite, as frases “menos presos
políticos” e “mais políticos presos” expressam
Numa entrevista ao jornal El País em 26 de agosto de 2016, o jornalista Caco Barcellos comenta uma afirmação sua anterior, feita em um congresso de jornalistas investigativos, de que novos profissionais não deveriam “atuar como porta-vozes de autoridades”.
“Tenho o maior encanto e admiração e respeito pelo jornalismo de opinião. O que critiquei lá é quando isso vai para a reportagem. Não acho legítimo. O repórter tem o dever de ser preciso. Pode ser até analítico, mas não emitir juízo. Na reportagem de rua, fico imbuído, inclusive, de melhor informar o meu colega de opinião. Se eu não fizer isso de modo preciso e correto, ele vai emitir um juízo errado sobre aquele universo que estou retratando. E não só ele, mas também o advogado, o sociólogo, o antropólogo e mais para frente o historiador (...) Por exemplo, essa matança que a polícia militar provoca no cotidiano das grandes cidades brasileiras – isso é muito mal reportado pela mídia no seu conjunto. Quem sabe, lá no futuro, o historiador não passe em branco por esse momento da história. Não vai poder dizer ‘olha, os negros pobres do estado mais rico da federação estão sendo eliminados com a frequência de três por dia, um a cada oito horas’. Se o repórter não fizer esse registro preciso e contundente, a cadeia toda pode falhar, a começar pelo jornalista de opinião.”
(“Caco Barcelos: ‘Erros históricos nascem da imprecisão jornalística’ ”. El País.
26/08/2016. Entrevista concedida a Camila Moraes. Disponível em
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/19/cultura/1468956578_924541.html.
Acessado em 13/07/2017.)
De acordo com a posição defendida por Caco Barcellos
com relação a seus leitores, uma reportagem exige do
jornalista
Considerando os sentidos produzidos pela tirinha, é correto
afirmar que o autor explora o fato de que palavras como
“ontem”, “hoje” e “amanhã”
(“Caneta Desmanipuladora.” Facebook. 17/10/2016. Disponível em
https://www.facebook.com/canetadesmanipuladora/. Acessado em
15/07/2017.)
Em relação ao post adaptado da página do Facebook
“Caneta Desmanipuladora”, é correto afirmar que a
“desmanipulação” (substituição de “já” por “só” e acréscimo
de “até agora”) explicita a tentativa do jornal de levar o
leitor a pensar que
Em maio deste ano, uma festa do 3º ano do Ensino Médio de uma escola do Rio Grande do Sul propôs aos alunos que se preparavam para o vestibular uma atividade chamada “Se nada der certo”. O objetivo era “trabalhar o cenário de não aprovação no vestibular”, e como “lidar melhor com essa fase”. Os alunos compareceram à festa “fantasiados” de faxineiros, garis, domésticas, agricultores, entre outras profissões consideradas de pessoas “fracassadas”. O evento teve repercussão nacional e acirrou o debate sobre a meritocracia. Para Luis Felipe Miguel, professor de ciência política, “o tom de chacota da festa-recreio era óbvio”, e teria sido mais interessante “discutir como se constrói a hierarquia que define algumas ocupações como subalternas e outras como superiores; discutir como alguns podem desprezar os saberes incorporados nas práticas dessas profissões (subalternas apenas porque contam com quem as faça por eles); discutir como o que realmente ‘deu certo’ para eles foi a loteria do nascimento, que, na nossa sociedade, determina a parte do leão das trajetórias individuais”.
(Adaptado de Fernanda Valente, Dia do ’se nada der certo’ acende debate sobre meritocracia e privilégio. Carta Capital, 06/06/2017. Disponível em http://justificando.cartacapital.com.br/2017/06/06/dia-do-se-nada-der-certoacende-debate-sobre-meritocracia-e-privilegio/. Acessado em 08/06/2017.)
As alternativas a seguir reproduzem trechos de uma entrevista do professor Sidney Chalhoub (Unicamp e Harvard) sobre o mito da meritocracia.
(Manuel Alves Filho, A meritocracia é um mito que alimenta as desigualdades, diz Sidney Chalhoub. Jornal da Unicamp, 07/06/2017.)
Assinale aquela que dialoga diretamente com a notícia
acima.
“Sapo não pula por boniteza, mas porém por percisão.”
(“Provérbio capiau” citado em epígrafe no conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, em João Guimarães Rosa, Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015, p.287.)
Elementos textuais que antecedem a narrativa como, por
exemplo, o provérbio citado, funcionam, em alguns
autores, como pista para se entender o sentido das ações
ficcionais. No excerto acima, as ideias de beleza e
necessidade são contrapostas com vistas à produção de
um sentido de ordem moral. Considerando-se a jornada
heroica de Augusto Matraga, é correto afirmar que a
narrativa
A fim de dar exemplos de sua teoria da “alma exterior”, o narrador-personagem do conto “O espelho”, de Machado de Assis, refere-se a uma senhora conhecida sua “que muda de alma exterior cinco, seis vezes por ano”.
E, questionado sobre a identidade dessa mulher, afirma: “Essa senhora é parenta do diabo, e tem o mesmo nome: chama-se Legião...” Considerando o contexto dessa frase no conto, pode-se dizer que ela constitui
Leia abaixo duas passagens do poema “Olá! Negro”, de Jorge de Lima.
“A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
E és tu que a alegras ainda com os teus jazzes.
Com os teus songs, com os teus lundus!”
(...)
“Não basta iluminares hoje as noites dos brancos com teus jazzes.
Olá, Negro! O dia está nascendo!
O dia está nascendo ou será a tua gargalhada que vem vindo?”
(Jorge de Lima, Poesias completas. v. I, Rio de Janeiro / Brasília: J. Aguilar / INL, 1974, p.180-181.)
Considerando o livro Poemas negros como um todo e a poética de Jorge de Lima, é correto afirmar que o último verso citado
Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
(Luís de Camões, Lírica: redondilhas e sonetos, Rio de Janeiro: Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997, p. 85.)
Um dos aspectos mais importantes da lírica de Camões é a
retomada renascentista de ideias do filósofo grego Platão.
Considerando o soneto citado, pode-se dizer que o
chamado “neoplatonismo” camoniano
Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa (...).
À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito.
(Aluísio de Azevedo, O cortiço. 14. ed. São Paulo: Ática, 1983, p. 22.)
Levando em conta o excerto, bem como o texto integral do
romance, é correto afirmar que
O brasileiro João Guimarães Rosa e o irlandês James Joyce são autores reverenciados pela inventividade de sua linguagem literária, em que abundam neologismos. Muitas vezes, por essa razão, Guimarães Rosa e Joyce são citados como exemplos de autores "praticamente intraduzíveis". Mesmo sem ter lido os autores, é possível identificar alguns dos seus neologismos, pois são baseados em processos de formação de palavras comuns ao português e ao inglês.
Entre os recursos comuns aos neologismos de Guimarães Rosa e de James Joyce, estão:
i. Onomatopeia (formação de uma palavra a partir de uma reprodução aproximada de um som natural, utilizando-se os recursos da língua); e
ii. Derivação (formação de novas palavras pelo acréscimo de prefixos ou sufixos a palavras já existentes na língua).
Os neologismos que aparecem nas opções abaixo foram
extraídos de obras de Guimarães Rosa (GR) e James Joyce
(JJ). Assinale a opção em que os processos (i) e (ii) estão
presentes:
O poema abaixo é de autoria do poeta Augusto de Campos, integrante do movimento concretista.
Nesse poema, nota-se uma técnica de composição que
consiste
“ODORICO
Eu sei. É um movimento subversivo procurando me intrigar com a opinião pública e criar problemas à minha administração. Sei, sim. É uma conspiração. Eles não queriam o cemitério. Desde o princípio foram contra. E agora que o cemitério está pronto caem de pau em cima de mim, me chamam de demagogo, de tudo..”
(...)
“ODORICO
Pois eu quero que depois o senhor soletre esta gazeta de ponta a ponta. Neco Pedreira o senhor conhece?
ZECA
Conheço não sinhô.
ODORICO
É o dono do jornal. Elemento perigoso. Sua primeira missão como delegado é dar uma batida na redação dessa gazeta subversiva e sacudir a marreta em nome da lei e da democracia...”
(Dias Gomes, O bem amado. 12.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014, p. 40 e 68.)
A peça de Dias Gomes é uma crítica a um momento
histórico e político da sociedade brasileira. Odorico
Paraguassu tornou-se um personagem emblemático desse
período porque por meio dele