Madame Clessi – Quer falar comigo?
Alaíde [aproximando-se, fascinada] – Quero, sim. Queria...
Madame Clessi – Vou botar um disco. [dirige-se para a invisível vitrola, com Alaíde atrás.]
Alaíde – A senhora não morreu?
Madame Clessi – Vou botar um samba. Esse aqui não é muito bom. Mas vai assim mesmo.
[Samba surdinando.] Está vendo como estou gorda, velha, cheia de varizes e de dinheiro?
Alaíde – Li o seu diário.
Madame Clessi [céptica] – Leu? Duvido! Onde?
Alaíde [afirmativa] – Li, sim. Quero morrer agora mesmo, se não é verdade!
Madame Clessi – Então diga como é que começa. [Clessi fala de costas para Alaíde.]
Alaíde [recordando] – Quer ver? É assim... [ligeira pausa] “ontem, fui com Paulo a Paineiras”... [feliz] É assim que começa.
Madame Clessi [evocativa] – Assim mesmo. É.
Alaíde [perturbada] – Não sei como a senhora pôde escrever aquilo! Como teve coragem! Eu não tinha!
Madame Clessi [à vontade] – Mas não é só aquilo. Tem outras coisas.
Alaíde [excitada] – Eu sei. Tem muito mais. Fiquei!... [inquieta] Meu Deus! Não sei o que é que eu tenho. É uma coisa –
não sei. Por que é que eu estou aqui?
Madame Clessi – É a mim que você pergunta?
(RODRIGUES, Nelson. Vestido de Noiva. In: Texto Completo de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981.)
Considerando o estudo acerca dos gêneros literários, pode-se afirmar que o texto anterior pertence ao gênero dramático e
que tal classificação justifica-se