TEXTO 05
Fecho os olhos com insistência e tento resgatar a
veracidade daqueles momentos. Tudo insólito, orvalho matutino, insolitíssimo.
Na infância, corríamos quintal adentro. Subíamos nas grimpas das árvores e lá brincávamos de
morar. Ela sempre no andar de baixo; eu, nas alturas.
[...] O mundo dali era pequeno e ao mesmo tempo
enorme. Eu e o mundo. Um no dentro do outro. Um
além do outro. Tão longe e tão junto. [...] Ficava, eu,
horas e horas, assim, balançando nas grimpas. Esquecia do tempo. Às vezes, brincávamos de impulsionar
forte o galho, no ritmo do balanço até que lançássemos o nosso corpo da copa de uma árvore aos galhos
de outras árvores próximas, feito pássaros: voando de
galho em galho, de árvore em árvore, transpondo os
limites do vazio e do céu.
(RODRIGUES, Maria Aparecida. A Transfiguração de Lúcia In:. _______ . Cinzas da paixão e outras estórias. Goiânia: Ed. da UCG, 2007. p. 19.)