Questões de Vestibular PUC-GO 2016 para Vestibular

Foram encontradas 7 questões

Ano: 2016 Banca: PUC - GO Órgão: PUC-GO Prova: PUC - GO - 2016 - PUC-GO - Vestibular |
Q768314 Física

TEXTO 3

                          Escalada para o inferno

Iniciava-se ali, meu estágio no inferno. A ardida solidão corroía cada passo que eu dava. Via crucis vivida aos seis anos de idade, ao sol das duas horas. Vermelhidão por todos os lados daquela rua íngreme e poeirenta. Meus olhos pediam socorro mas só encontravam uma infinitude de terra e desolação. Tentava acompanhar os passos de meu pai. E eles eram enormes. Não só os passos mas as pernas. Meus olhos olhavam duplamente: para os passos e para as pernas e não alcançavam nem um nem outro. Apenas se defrontavam com um vazio empoeirado que entrava no meu ser inteiro. Eu queria chorar mas tinha medo. Tropeçava a cada tentativa de correr para alcançar meu pai. E eu tinha medo de ter medo. E eu tinha medo de chorar. E era um sofrimento com todos os vórtices de agonia. À minha frente, até onde meus olhos conseguiram enxergar, estavam os pés e as pernas de meu pai que iam firmes subindo subindo subindo sem cessar. À minha volta eu podia ver e sentir a terra vermelha e minha vida envolta num turbilhão de desespero. Na verdade eu não sabia muito bem para onde estava indo. Eu era bestializado nos meus próprios passos. Nas minhas próprias pernas. Tinha a impressão que o ponto de chegada era aquele redemoinho em que me encontrava e que dele nunca mais sairia. Na ânsia de ir sem querer ir eu gaguejava no caminhar. E olhava com sofreguidão para os meus pés e via ainda com mais aflição que os bicos de meus sapatos novos estavam sujos daquela poeira impregnante, vasculhante, suja. Eu sempre gostei de sapatos. Eu sempre gostei de sapatos novos. Novos e luzidios. E eles estavam sujos. Cobertos de poeira. E a subida prosseguia inalterada. Tentava olhar para o alto e só conseguia ver os enormes joelhos de meu pai que dobravam num ritmo compassado. Via suas pernas e seus pés. E só. Sentia, lá no fundo, um desejo calado de dizer alguma coisa. De dizer-lhe que parasse. Que fosse mais devagar. Que me amparasse. Mas esse desejo era um calo na minha pequenina garganta que jamais seria curado. E eu prossegui ao extremo de meus limites. Tinha de acontecer: desamarrou o cadarço de meu sapato. A loucura do sol das duas horas parece ter se engraçado pelo meu desatino. Tudo ficou muito mais quente. Tudo ficou mais empoeirado e muito mais vermelho. O desatino me levou ao choro. Não sei se chorei ou se choraminguei. Só sei que dei índices de que eu precisava de meu pai. E ele atendeu. Voltou-se para mim e viu que estava pisando no cadarço. Que estava prestes a cair. Então me socorreu. Olhou-me nos olhos com a expressão casmurra. Levou suas enormes mãos aos meus pés e amarrou o cadarço firmemente com um intrincado nó. A cena me levou a um estado de cegueira anestésica tão intensa que sofri uma espécie de amnésia passageira. Estado de torpor. Quando dei por mim, já tinha chegado ao meu destino: cadeira do barbeiro. Alta, prepotente e giratória. Ele, o barbeiro, cabeça enorme, mãos enormes, enormes unhas, sorriso nos lábios dos quais surgiam grandes caninos. Ele portava enorme máquina que apontava em minha direção. E ouvi a voz do pai: pode tirar quase tudo! deixa só um pouco em cima! Ali, finalmente, para lembrar Rimbaud, ia se encerrar meu estágio no inferno.

(GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas. São Paulo: Nankin, 2013. p. 45-46.)

Nos fragmentos do Texto 3 “Tentava acompanhar os passos de meu pai. [...] dizer-lhe que parasse.” Temos referência a movimento e a repouso. O movimento de um corpo pode ser de translação e/ou rotação. Para que um corpo permaneça em repouso, é necessário que esteja em equilíbrio de translação e rotação. Considere uma gangorra construída com uma tábua rígida, homogênea, de massa igual a 10 kg, com espessura e largura desprezíveis em relação a seu comprimento, que é de 8 m. A tábua pode girar em torno de um eixo de rotação colocado perpendicularmente ao seu comprimento, a 4 m de cada uma das extremidades. Duas pessoas, uma de massa m1 = 85 kg e outra de massa m2 = 40 kg, estão sentadas em cada uma das extremidades da tábua. Para que a tábua fique em equilíbrio horizontal, uma terceira pessoa é colocada entre o eixo de rotação e a pessoa mais leve, a uma distância de 1,5 m desse eixo. A massa da terceira pessoa é de (assinale a resposta correta):
Alternativas
Ano: 2016 Banca: PUC - GO Órgão: PUC-GO Prova: PUC - GO - 2016 - PUC-GO - Vestibular |
Q768317 Física

TEXTO 3

                          Escalada para o inferno

Iniciava-se ali, meu estágio no inferno. A ardida solidão corroía cada passo que eu dava. Via crucis vivida aos seis anos de idade, ao sol das duas horas. Vermelhidão por todos os lados daquela rua íngreme e poeirenta. Meus olhos pediam socorro mas só encontravam uma infinitude de terra e desolação. Tentava acompanhar os passos de meu pai. E eles eram enormes. Não só os passos mas as pernas. Meus olhos olhavam duplamente: para os passos e para as pernas e não alcançavam nem um nem outro. Apenas se defrontavam com um vazio empoeirado que entrava no meu ser inteiro. Eu queria chorar mas tinha medo. Tropeçava a cada tentativa de correr para alcançar meu pai. E eu tinha medo de ter medo. E eu tinha medo de chorar. E era um sofrimento com todos os vórtices de agonia. À minha frente, até onde meus olhos conseguiram enxergar, estavam os pés e as pernas de meu pai que iam firmes subindo subindo subindo sem cessar. À minha volta eu podia ver e sentir a terra vermelha e minha vida envolta num turbilhão de desespero. Na verdade eu não sabia muito bem para onde estava indo. Eu era bestializado nos meus próprios passos. Nas minhas próprias pernas. Tinha a impressão que o ponto de chegada era aquele redemoinho em que me encontrava e que dele nunca mais sairia. Na ânsia de ir sem querer ir eu gaguejava no caminhar. E olhava com sofreguidão para os meus pés e via ainda com mais aflição que os bicos de meus sapatos novos estavam sujos daquela poeira impregnante, vasculhante, suja. Eu sempre gostei de sapatos. Eu sempre gostei de sapatos novos. Novos e luzidios. E eles estavam sujos. Cobertos de poeira. E a subida prosseguia inalterada. Tentava olhar para o alto e só conseguia ver os enormes joelhos de meu pai que dobravam num ritmo compassado. Via suas pernas e seus pés. E só. Sentia, lá no fundo, um desejo calado de dizer alguma coisa. De dizer-lhe que parasse. Que fosse mais devagar. Que me amparasse. Mas esse desejo era um calo na minha pequenina garganta que jamais seria curado. E eu prossegui ao extremo de meus limites. Tinha de acontecer: desamarrou o cadarço de meu sapato. A loucura do sol das duas horas parece ter se engraçado pelo meu desatino. Tudo ficou muito mais quente. Tudo ficou mais empoeirado e muito mais vermelho. O desatino me levou ao choro. Não sei se chorei ou se choraminguei. Só sei que dei índices de que eu precisava de meu pai. E ele atendeu. Voltou-se para mim e viu que estava pisando no cadarço. Que estava prestes a cair. Então me socorreu. Olhou-me nos olhos com a expressão casmurra. Levou suas enormes mãos aos meus pés e amarrou o cadarço firmemente com um intrincado nó. A cena me levou a um estado de cegueira anestésica tão intensa que sofri uma espécie de amnésia passageira. Estado de torpor. Quando dei por mim, já tinha chegado ao meu destino: cadeira do barbeiro. Alta, prepotente e giratória. Ele, o barbeiro, cabeça enorme, mãos enormes, enormes unhas, sorriso nos lábios dos quais surgiam grandes caninos. Ele portava enorme máquina que apontava em minha direção. E ouvi a voz do pai: pode tirar quase tudo! deixa só um pouco em cima! Ali, finalmente, para lembrar Rimbaud, ia se encerrar meu estágio no inferno.

(GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas. São Paulo: Nankin, 2013. p. 45-46.)

Para chegar à barbearia, o menino de 6 anos, personagem do Texto 3, percorreu um longo caminho sobre ruas de chão batido. Supondo-se que a distância a percorrer pelo garoto, no intervalo [0, t], forme uma progressão aritmética de termo geral at , com t dado em minutos; supondo-se ainda que a soma das distâncias a percorrer nos instantes de tempo de dois, cinco e seis minutos dê 400 metros, e que a metade desse valor é obtida pela soma das distâncias a serem percorridas nos instantes de três, seis e sete minutos, pode-se afirmar que a distância percorrida pelo menino até a barbearia é de aproximadamente (assinale a resposta correta):
Alternativas
Ano: 2016 Banca: PUC - GO Órgão: PUC-GO Prova: PUC - GO - 2016 - PUC-GO - Vestibular |
Q768319 Física

TEXTO 3

                          Escalada para o inferno

Iniciava-se ali, meu estágio no inferno. A ardida solidão corroía cada passo que eu dava. Via crucis vivida aos seis anos de idade, ao sol das duas horas. Vermelhidão por todos os lados daquela rua íngreme e poeirenta. Meus olhos pediam socorro mas só encontravam uma infinitude de terra e desolação. Tentava acompanhar os passos de meu pai. E eles eram enormes. Não só os passos mas as pernas. Meus olhos olhavam duplamente: para os passos e para as pernas e não alcançavam nem um nem outro. Apenas se defrontavam com um vazio empoeirado que entrava no meu ser inteiro. Eu queria chorar mas tinha medo. Tropeçava a cada tentativa de correr para alcançar meu pai. E eu tinha medo de ter medo. E eu tinha medo de chorar. E era um sofrimento com todos os vórtices de agonia. À minha frente, até onde meus olhos conseguiram enxergar, estavam os pés e as pernas de meu pai que iam firmes subindo subindo subindo sem cessar. À minha volta eu podia ver e sentir a terra vermelha e minha vida envolta num turbilhão de desespero. Na verdade eu não sabia muito bem para onde estava indo. Eu era bestializado nos meus próprios passos. Nas minhas próprias pernas. Tinha a impressão que o ponto de chegada era aquele redemoinho em que me encontrava e que dele nunca mais sairia. Na ânsia de ir sem querer ir eu gaguejava no caminhar. E olhava com sofreguidão para os meus pés e via ainda com mais aflição que os bicos de meus sapatos novos estavam sujos daquela poeira impregnante, vasculhante, suja. Eu sempre gostei de sapatos. Eu sempre gostei de sapatos novos. Novos e luzidios. E eles estavam sujos. Cobertos de poeira. E a subida prosseguia inalterada. Tentava olhar para o alto e só conseguia ver os enormes joelhos de meu pai que dobravam num ritmo compassado. Via suas pernas e seus pés. E só. Sentia, lá no fundo, um desejo calado de dizer alguma coisa. De dizer-lhe que parasse. Que fosse mais devagar. Que me amparasse. Mas esse desejo era um calo na minha pequenina garganta que jamais seria curado. E eu prossegui ao extremo de meus limites. Tinha de acontecer: desamarrou o cadarço de meu sapato. A loucura do sol das duas horas parece ter se engraçado pelo meu desatino. Tudo ficou muito mais quente. Tudo ficou mais empoeirado e muito mais vermelho. O desatino me levou ao choro. Não sei se chorei ou se choraminguei. Só sei que dei índices de que eu precisava de meu pai. E ele atendeu. Voltou-se para mim e viu que estava pisando no cadarço. Que estava prestes a cair. Então me socorreu. Olhou-me nos olhos com a expressão casmurra. Levou suas enormes mãos aos meus pés e amarrou o cadarço firmemente com um intrincado nó. A cena me levou a um estado de cegueira anestésica tão intensa que sofri uma espécie de amnésia passageira. Estado de torpor. Quando dei por mim, já tinha chegado ao meu destino: cadeira do barbeiro. Alta, prepotente e giratória. Ele, o barbeiro, cabeça enorme, mãos enormes, enormes unhas, sorriso nos lábios dos quais surgiam grandes caninos. Ele portava enorme máquina que apontava em minha direção. E ouvi a voz do pai: pode tirar quase tudo! deixa só um pouco em cima! Ali, finalmente, para lembrar Rimbaud, ia se encerrar meu estágio no inferno.

(GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas. São Paulo: Nankin, 2013. p. 45-46.)

O fragmento do Texto 3, “era aquele redemoinho”, pode nos levar a pensar na alteração, para circular, do movimento retilíneo de uma partícula carregada que entra perpendicularmente em um campo magnético uniforme. A presença de outros campos pode evitar esse movimento circular. Considere uma partícula de massa m = 3 × 10–3 kg e carga positiva q = 5 × 10–4 C se deslocando horizontalmente para a direita a uma velocidade v = 100 m/s, sob a ação apenas de três campos uniformes: um campo elétrico de 200 N/C verticalmente para cima, um campo gravitacional verticalmente para baixo e um campo magnético. Para que a partícula permaneça se movendo num movimento retilíneo e uniforme, o campo magnético deve ser?

Dado: aceleração da gravidade g = 10 m/s2

Assinale a alternativa correta:

Alternativas
Ano: 2016 Banca: PUC - GO Órgão: PUC-GO Prova: PUC - GO - 2016 - PUC-GO - Vestibular |
Q768322 Física

TEXTO 4

Não desejei a morte de minha filha. Ou desejei? Aí é que reside a dúvida, é onde habita o nó que nada nem ninguém no mundo tem o poder de desatar. O inconsciente, desculpe-me a vulgaridade do termo, minha filha, é uma merda. Sendo autônomo, o inconsciente age por si, sem pedir licença nem se revelar. Desejei ou não a morte de minha filha, hein? Você pode responder a essa pergunta? Alguém pode? Eu não posso. Busquei na fonte a resposta e ela não veio. Como minha filha havia feito, busquei nas águas do Cristal a cura imediata para uma dor que parecia infinda. A ferida tinha sido cavada pelas águas, então elas que tratassem de cicatrizá-la. O rio recusou meu corpo, mas não a dor. Nem o aconselhamento. Pediu tempo, apenas. Permaneci plantada no barranco, juntando ao seu caudal minhas lágrimas secas. Disseram que eu tinha enlouquecido, talvez tivesse mesmo. Em diálogo profundo, as águas me fizeram compreender verdades para as quais eu nunca havia me atinado. Todo rio tem seu leito, suas margens, seu limite, toda vez que ele avança além de seu leito original provoca estragos, descalabros. O rio de nossa vida não é diferente. Ele também está sujeito a limitações intransponíveis. Existe você e você; seu campo de visão, a capacidade de administrar o próprio caudal. Tem a hora de abrir e a hora de fechar as comportas. Felicidade ou dor, a escolha é sua, depende do grau de intensidade que você der a cada coisa. Hoje posso dizer que me conheço um pouquinho, mesmo assim, perguntas continuam sem resposta.

(BARROS, Adelice da Silveira. Mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)

O fragmento do Texto 4 “Todo rio tem seu leito, suas margens, seu limite, toda vez que ele avança além de seu leito original provoca estragos [...] Tem a hora de abrir e a hora de fechar as comportas.” pode nos remeter à necessidade de uso racional de energia hidrelétrica, para evitar a construção de novas usinas geradoras desse tipo de energia. Uma das maneiras de se economizar energia é a substituição de lâmpadas por outras equivalentes e mais econômicas. Um fabricante informa que uma lâmpada de LED de 10 W equivale a uma eletrônica de 20 W ou a uma incandescente de 60 W. Suponha que em uma residência sejam necessárias 50 lâmpadas com qualquer das especificações citadas e que cada lâmpada fique ligada 8 horas por dia. O dono da residência deseja saber em quanto tempo a economia gerada por lâmpadas de consumo mais econômico equivalerá à diferença do valor usado na compra das 50 lâmpadas. Considere que o valor unitário das lâmpadas seja de R$ 18,00 para as de LED com 10 W, R$ 15,00 para as eletrônicas de 20 W e R$ 8,00 para as incandescentes de 60 W, e que cada kWh custe R$ 0,50. Em relação a essa questão, analise os itens a seguir: I - Seriam necessários 50 dias para as lâmpadas de LED em relação às incandescentes. II - Seriam necessários 75 dias para as lâmpadas de LED em relação às eletrônicas III - Seriam necessários 40 dias para as lâmpadas eletrônicas em relação às incandescentes
Marque a alternativa que contém todos os itens corretos:
Alternativas
Ano: 2016 Banca: PUC - GO Órgão: PUC-GO Prova: PUC - GO - 2016 - PUC-GO - Vestibular |
Q768338 Física

TEXTO 6

Arandir — Posso ir?

Comissário Barros — Pode.

Arandir (recuando, com sofrida humildade) — Então, boa tarde, boa tarde.

Cunha — Um minutinho.

Arandir (incerto) — Comigo?

Cunha — Um momento.

Barros — Já prestou declarações.

Cunha (entre divertido e ameaçador) — Sei. Agora vai conversar comigo.

Aruba (baixo e veemente para Arandir) — O delegado.

Amado — Senta.

Arandir (sentindo a pressão de novo ambiente) — Mas é que eu estou com um pouquinho de pressa. (Arandir começa a ter medo. Ele próprio não sabe de quê.)

Cunha (com o riso ofegante) — Rapaz, a polícia não tem pressa.

Amado — Mas senta. (Arandir olha em torno, como um bicho apavorado. Senta-se, finalmente.)

Arandir (sem ter de quê) — Obrigado.

Barros (baixo e reverente, para o delegado) — Ele é apenas testemunha.

Cunha — Não te mete.

(Arandir ergue-se, sôfrego.)

Arandir — Posso telefonar?

Cunha — Mais tarde.

(Amado cutuca o fotógrafo.)

Amado — Bate agora! (flash estoura. Arandir toma um choque.)

Arandir — Retrato?

Amado — Nervoso, rapaz?

(Arandir senta-se, une os joelhos.)

Arandir — Absolutamente!

Cunha (lançando a pergunta como uma chicotada)

— Você é casado, rapaz?

Arandir — Não ouvi.

Cunha (num berro) — Tira a cera dos ouvidos!

Amado (inclinando-se para o rapaz) — Casado ou solteiro?

Arandir — Casado.

Cunha — Casado. Muito bem. (vira-se para Amado, com segunda intenção) O homem é casado. (para o Comissário Barros) Casado.

Barros — Eu sabia.

Arandir (com sofrida humildade) — O senhor deixa dar um telefonema rápido para minha mulher?

Cunha (rápido e incisivo) — Gosta de sua mulher, rapaz?

(Arandir, por um momento, acompanha o movimento do fotógrafo que se prepara para bater uma nova fotografia.)

Arandir — Naturalmente!

Cunha (com agressividade policial) — E não usa nada no dedo, por quê?

Arandir (atarantado) — Um dia, no banheiro, caiu. Caiu a aliança. No ralo do banheiro.

Amado — O que é que você estava fazendo na praça da Bandeira?

Arandir — Bem. Fui lá e...

Cunha (num berro) — Não gagueja, rapaz!

Arandir (falando rápido) — Fui levar uma joia.

Cunha (alto) — Joia!

Arandir — Joia. Aliás, empenhar uma joia na Caixa Econômica. (Amado e Cunha cruzam as perguntas para confundir e levar Arandir ao desespero.)

Amado — Casado há quanto tempo?

Arandir — Eu?

Cunha — Gosta de mulher, rapaz?

ARANDIR (desesperado) — Quase um ano!

Cunha (mais forte) — Gosta de mulher?

Arandir (quase chorando) — Casado há um ano. (Cunha muda de voz, sem transição. Põe a mão no joelho do rapaz.)

Cunha (caricioso e ignóbil) — Escuta. O que significa para ti. Sim, o que significa para “você” uma mulher!?

Arandir (lento e olhando em torno) — Mas eu estou preso?

Cunha (sem ouvi-lo e sempre melífluo) — Rapaz, escuta! Uma hipótese. Se aparecesse, aqui, agora, uma mulher, uma “boa”. Nua. Completamente nua. Qual seria. É uma curiosidade. Seria a tua reação? (Arandir olha, ora o Cunha, ora o Amado. Silêncio.)

(RODRIGUES, Nelson. O beijo no asfalto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p. 23-27.)

No Texto 6, Arandir afirma não ter ouvido uma das perguntas do delegado Cunha. O aparelho auditivo humano pode se sensibilizar com muita facilidade. Somos capazes de captar sons com uma intensidade de 10–12 W/m2 (limiar de audição) e escutamos em uma faixa de frequência que vai de 20 Hz a 20000 Hz. Considere a velocidade do som no ar de 340 m/s e analise as afirmativas a seguir: I - Se o delegado Cunha emitir um som de 60 dB (conversa comum), a intensidade sonora produzida por ele será de 10–6 W/m2. II - Arandir poderia ouvir melhor o delegado Cunha se seus ouvidos estivessem submersos em água, uma vez que a frequência do som emitido seria modificada. III - A velocidade do som emitido por Cunha é a mesma, independentemente do meio físico em que ele se encontre. IV - O comprimento de onda do som emitido no ar por uma pessoa, equivalente à menor frequência audível, é de 17 m.
Em relação às proposições analisadas, assinale a única alternativa cujos itens estão todos corretos:
Alternativas
Respostas
1: D
2: A
3: D
4: B
5: B