Podemos dizer que Joaquim Murtinho adotou medidas clássicas de combate à inflação, isto
é, bem dentro do receituário monetarista, segundo o qual as questões financeiras podem
ser tratadas de forma separada das questões ligadas à produção. As consequências da
adoção de uma tal política costumam ser catastróficas em países como o Brasil, pobres e
com um péssimo perfil de distribuição de renda. Aceitar a recessão como forma de
combater a inflação significa simplesmente provocar o empobrecimento dos mais pobres,
isto é, a fome. A morte. Observe-se também que políticas de cunho monetarista
continuaram a ser adotadas indiscriminadamente no Brasil até recentemente. [...] Tomando
o governo Campos Sales como um todo, percebe-se que a sua grande preocupação foi
basicamente buscar atrair o capital estrangeiro — o que, aliás, foi perfeitamente conseguido
— através basicamente de demonstrar que a país era “confiável”, ou seja, com um Tesouro
estável e moeda forte. Não se considerava o preço dessa “estabilização”, mas apenas e tão
somente o resultado final. Porém, ao se abster de realizar reformas mais profundas na
economia brasileira, que pudessem envolver, por exemplo, a distribuição de renda ou a
eliminação do caráter dependente de nossa economia, a dupla Campos Sales-Joaquim
Murtinho tornava quase inevitável o reaparecimento dos mesmos problemas num futuro
nem tão distante. (VICENTINO & DORIGO. 1998, p. 293-294).