Questões de Vestibular UFAC 2008 para Vestibular - Prova 1
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O autor do artigo estabelece, logo no início do texto, uma qualidade de exceção ao ex-prefeito de Juiz de Fora. Como estratégica de construção do artigo, a palavra “fenômeno” ganha um sentido irônico ao longo do próprio parágrafo que acaba nos revelando:
Observe o parágrafo abaixo:
“O ex-prefeito de Juiz de Fora Carlos Alberto
Bejani é mesmo um fenômeno. Em pleno Brasil do
ano de 2008, onde tão pouca gente chega a se meter
em algum problema mais sério, de verdade, por
cometer atos de delinqüência na vida pública, ele
conseguiu ser preso duas vezes seguidas, entre abril
e junho. Para começar, deixou-se pegar em
flagrante, naquele tipo de cena que hoje em dia se
tornou um clássico da nossa política: recebendo
pacotes de dinheiro vivo, em valor um pouco acima
de 1,1 milhão de reais, numa gravação com imagem
e som. Ficou catorze dias na cadeia e foi solto, como
acontece sempre: e, como acontece sempre, tudo
deveria ir acabando por aí. Neste caso, porém, nem
mesmo a incomparável proteção que as leis e a
justiça brasileira oferecem a gente como o exprefeito foi suficiente para mantê-lo solto. O
documento que ele apresentou para justificar a
origem do dinheiro – a já tradicional venda de uma
‘fazenda’, variante da venda de bois, cavalos etc. –
foi considerado falso. Diante de sua absoluta falta de
cuidado com o que dizia enquanto era gravado,
ficou claro que o dinheiro lhe fora entregue em troca
da concessão de diversos aumentos no preço das
passagens municipais de ônibus. Contra todas as
expectativas, o homem teve de voltar ao presídio.”
(GUZZO, J. R. Agravo x embargo. Veja, São Paulo,
25 jun. 2008. Seções, p. 140)
O autor utiliza um recurso de repetição no meio do parágrafo (como acontece sempre) que enfatiza um aspecto importante para o reforço da idéia a ser desenvolvida. Isso demonstra, na seqüência, que ele:
“Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos. Ao mesmo tempo que imaginário – era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudos, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega – era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante. As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos, enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheio adocicado...
O jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.” (LISPECTOR, C. Amor. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. P. 25)
A personagem Ana, uma dona de casa comum, tem um momento privilegiado de revelação quando desce errado do ponto e acaba indo parar quase sem querer no Jardim Botânico. Neste momento, várias imagens vão configurando um universo de sensações inesperadas em contato com uma natureza que sempre esteve no mesmo lugar. Por que agora a percepção desse mundo se torna diferente?