Questões de Vestibular UFRGS 2016 para 1º DIA - Física, Espanhol e Literatura
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I - O romance de Machado de Assis, narrado em terceira pessoa, expõe o triângulo amoroso entre Bentinho, Capitu e Escobar. O narrador, que ingressa na consciência de todas as personagens, revela ao leitor a traição de Capitu e a paternidade de seu filho Ezequiel. II - O livro está estruturado em forma de diário, por isso guarda as lembranças mais íntimas de Dom Casmurro. A personagem registra que não quer ter suas memórias reveladas, pois isso macularia sua imagem ante a sociedade fluminense. III- O agregado da família Santiago, José Dias, desempenha funções elevadas de conselheiro e rebaixadas de mandalete. Sua acomodação nessa família dá mostras dos arranjos sociais entre homens livres e classe dominante.
Quais estão corretas?
( ) No final do século XIX e início do XX, a interpretação do romance tende à aderência ao ponto de vista do narrador. Assim, em geral, os leitores aceitam os fatos narrados por Bentinho sem muita desconfiança da sua narração comprometida. ( ) Em torno de 1960, talvez por influência de leituras feministas, críticos problematizam a visão unilateral de Bentinho e passam a ponderar que o ponto de vista de Capitu não vinha sendo considerado e que a sua traição deveria ser ao menos discutida. ( ) Perto de 1980, são comuns as leituras que desviam o foco do debate sentimental para o social, e a diferença de classe entre o filho do deputado (Bentinho) e a filha do vizinho pobre (Capitu) passa a figurar como um dos tópicos do romance. ( ) Atualmente, e por obra das muitas adaptações do romance para o cinema e para a televisão, que revelaram conteúdos da narrativa antes ocultos, é consenso que a traição de Capitu é o centro do enredo e que esta pode ser comprovada pelas pistas deixadas no texto por Machado de Assis.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
No bloco superior, estão listados nomes de personagens de O cortiço e de Dom Casmurro; no inferior, os trechos dos romances em que essas personagens são descritas.
Associe adequadamente o bloco inferior ao bloco superior.
1 - Firmo (O cortiço) 2 - Escobar (Dom Casmurro) 3 - Jerônimo (O cortiço) 4 - José Dias (Dom Casmurro)
( ) [...] viera da terra, com a mulher e uma filhinha ainda pequena, tentar a vida no Brasil, na qualidade de colono de um fazendeiro, em cuja fazenda mourejou durante dois anos, sem nunca levantar a cabeça, e de onde afinal se retirou de mãos vazias e uma grande birra pela lavoura brasileira. Para continuar a servir na roça tinha que sujeitar-se a emparelhar com os negros escravos e viver com eles no mesmo meio degradante, encurralado como uma besta, sem aspirações, nem futuro, trabalhando eternamente para outro. ( ) [...] era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas, e todo ele se quebrando nos seus movimentos de capoeira. Teria seus trinta e tantos anos, mas não parecia ter mais de vinte e poucos. Pernas e braços finos, pescoço estreito, porém forte; não tinha músculos, tinha nervos. ( ) Era um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugitivos, como as mãos, como os pés, como a fala, como tudo. Quem não estivesse acostumado com ele podia acaso sentir-se mal, não sabendo por onde lhe pegasse. Não fitava de rosto, não falava claro nem seguido; as mãos não apertavam as outras, nem se deixavam apertar delas, porque os dedos, sendo delgados e curtos, quando a gente cuidava tê-los entre os seus, já não tinha nada. ( ) [...] apareceu ali vendendo-se por médico homeopata; levava um Manual e uma botica. Havia então um andaço de febres; [...] curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. [...] recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
Leia o poema abaixo, presente em Mensagem, de Fernando Pessoa.
Noite
A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.
Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.
Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o veem, veem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.
Senhor, os dois irmãos do nosso Nome
— O Poder e o Renome —
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não dá licença que partamos.
Considere as seguintes afirmações sobre o poema e suas relações com o livro Mensagem.
I - As três primeiras estrofes estão relacionadas a um episódio real: a história dos irmãos Gaspar e Miguel Corte Real que desapareceram em expedições marítimas, no início do século XVI, para desespero do terceiro irmão, Vasco, que queria procurá-los, mas não obteve a autorização do rei.
II - O sujeito lírico, na quarta e na quinta estrofes, assume a primeira pessoa do plural, sugerindo que o drama individual dos irmãos pode representar um problema coletivo: a perda de poder e renome de Portugal, perda esta já associada à difícil situação do país no início do século XX, momento da escritura do poema.
III- O diagnóstico das perdas de Portugal está ausente em outros poemas de Mensagem, por exemplo, Mar português, Autopsicografia e Nevoeiro, que apresentam a visão eufórica e confiante do sujeito lírico em relação ao futuro de Portugal.
Quais estão corretas?