“A Lei Áurea era mesmo popular e conferia nova visibilidade à princesa Isabel e à Monarquia. No entanto, politicamente, o
Império tinha seus dias contados ao perder o apoio dos fazendeiros do Vale do Paraíba. Apesar do clima de euforia reinante,
parecia ser o último ato do teatro imperial. [...]. Nos jornais e nas imagens da época, Isabel passa a ser retratada como uma
santa a redimir os escravos, que aparecem sempre descalços e ajoelhados, como a rezar e a abençoar a padroeira. Já a
princesa surge de pé e ereta, contrastada com a posição curvada e humilde dos ex-escravos, que parecem manter a sua
situação – se não mais real, ao menos simbólica. Aos escravos recém-libertos só restaria a resposta servil e subserviente,
reconhecedora do tamanho do “presente” recebido. Estava inaugurada uma maneira complicada de lidar com a questão dos
direitos civis. Sem a compreensão de que a abolição era resultado de um movimento coletivo, permaneceríamos atados ao
complicado jogo das relações pessoais, suas contraprestações e deveres: chave do personalismo e do próprio clientelismo.
Nova versão para uma estrutura antiga em que as relações privadas se impõem sobre as esferas públicas de atuação. Como
se fôssemos avessos a qualquer associação com a violência, apenas reproduzimos hierarquias que, de tão assentadas,
pareciam legitimadas pela própria natureza. Péssima lição de cidadania: a liberdade combinada com humildade e servidão,
distante das noções de livre-arbítrio e de responsabilidade individual. ” SCHWARCZ, Lilia. Abolição como Dádiva. In:
FIGUEIREDO, Luciano (org.) A Era da Escravidão. Rio de Janeiro: Sabin, 2009, p. 88-90.
A respeito da Lei Áurea é correto afirmar.