Ana Terra descia a coxilha no alto da qual ficava o rancho
da estância, e dirigia-se para a sanga, equilibrando sobre a
cabeça uma cesta cheia de roupa suja. Tinha vinte e cinco
anos e ainda esperava casar. Não que sentisse muita falta de
homem, mas acontecia que casando poderia ao menos ter
alguma esperança de sair daquele cafundó, ir morar no Rio
Pardo, em Viamão ou até mesmo voltar para a Capitania de
São Paulo, onde nascera. Ali na estância a vida era triste e
dura. Moravam num rancho de paredes de taquaraçu e barro, coberto de palha e com chão de terra batida. Em certas
noites Ana ficava acordada debaixo das cobertas, escutando
o vento, eterno viajante que passava pela estância gemendo
ou assobiando, mas nunca apeava do seu cavalo.
(Erico Veríssimo. O tempo e o vento – o continente, 1997. Adaptado.)
O trecho descreve o cotidiano e as vivências da personagem
Ana Terra. Do ponto de vista geográfico, o excerto apresenta
características do espaço rural do Rio Grande do Sul e ainda
destaca