Instrução: Para responder a questão,
leia um trecho de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, em que
Fabiano e sua família encontram-se famintos em meio à estrada e à terrível seca.
Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que
trazia nos dentes um preá. Levantaram-se todos gritando. O
menino mais velho esfregou as pálpebras, afastando pedaços
de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o
focinho estava ensanguentado, lambia o sangue e tirava proveito do beijo.
Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do
grupo. E Fabiano queria viver. Olhou o céu com resolução. A
nuvem tinha crescido, agora cobria o morro inteiro. Fabiano
pisou com segurança, esquecendo as rachaduras que lhe estragavam os dedos e os calcanhares.
Sinhá Vitória remexeu no baú, os meninos foram quebrar
uma haste de alecrim para fazer um espeto. Baleia, o ouvido
atento, o traseiro em repouso e as pernas da frente erguidas,
vigiava, aguardando a parte que lhe iria tocar, provavelmente
os ossos do bicho e talvez o couro.
Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira, encaminhou-se
ao rio seco, achou no bebedouro dos animais um pouco de
lama. Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no chão, bebeu muito. Saciado, caiu de
papo para cima, olhando as estrelas, que vinham nascendo.
Uma, duas, três, quatro, havia muitas estrelas, havia mais de
cinco estrelas no céu. O poente cobria-se de cirros – e uma
alegria doida enchia o coração de Fabiano.
Pensou na família, sentiu fome. [...]
Lembrou-se dos filhos, da mulher e da cachorra, que estavam lá em cima, debaixo de um juazeiro, com sede. Lembrou-se
do preá morto. Encheu a cuia, ergueu-se, afastou-se, lento, para
não derramar a água salobra. Subiu a ladeira. A aragem morna
acudia os xiquexiques e os mandacarus. Uma palpitação nova.
Sentiu um arrepio na catinga, uma ressurreição de garranchos
e de folhas secas.