A fonte do conceito de autonomia da arte é o pensamento
estético de Kant. Praticamente tudo o que fazemos na vida
é o oposto da apreciação estética, pois praticamente tudo
o que fazemos serve para alguma coisa, ainda que apenas
para satisfazer um desejo. Enquanto objeto de apreciação
estética, uma coisa não obedece a essa razão instrumental:
enquanto tal, ela não serve para nada, ela vale por si. As hierarquias
que entram em jogo nas coisas que obedecem à razão
instrumental, isto é, nas coisas de que nos servimos, não
entram em jogo nas obras de arte tomadas enquanto tais.
Sendo assim, a luta contra a autonomia da arte tem por fim
submeter também a arte à razão instrumental, isto é, tem por
fim recusar também à arte a dimensão em virtude da qual,
sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma, da
luta pelo empobrecimento do mundo.
(Antonio Cícero. “A autonomia da arte”.
Folha de S.Paulo, 13.12.2008. Adaptado.)
De acordo com a análise do autor,