Uma análise mais atenta do livro mostra que ele foi construído a partir da combinação de uma infinidade de textos
preexistentes, elaborados pela tradição oral ou escrita, popular ou erudita, europeia ou brasileira. A originalidade estrutural deriva, deste modo, do fato de o livro não se basear na
mímesis, isto é, na dependência constante que a arte estabelece entre o mundo objetivo e a ficção; mas em ligar-se quase
sempre a outros mundos imaginários, a sistemas fechados
de sinais, já regidos por significação autônoma. Esse processo, parasitário na aparência, é no entanto curiosamente inventivo; pois, em vez de recortar com neutralidade nos entrechos originais as partes de que necessita para reagrupá-las,
intactas, numa ordem nova, atua quase sempre sobre cada
fragmento, alterando-o em profundidade.
(Gilda de Mello e Souza. O tupi e o alaúde, 1979. Adaptado.)
Tal comentário aplica-se ao livro