Leia o excerto do livro Violência urbana, de Paulo Sérgio
Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida, para responder a questão.
De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos.
Evite falar com estranhos. À noite, não saia para caminhar,
principalmente se estiver sozinho e seu bairro for
deserto. Quando estacionar, tranque bem as portas do
carro [...]. De madrugada, não pare em sinal vermelho. Se
for assaltado, não reaja – entregue tudo.
É provável que você já esteja exausto de ler e ouvir
várias dessas recomendações. Faz tempo que a ideia de
integrar uma comunidade e sentir-se confiante e seguro
por ser parte de um coletivo deixou de ser um sentimento
comum aos habitantes das grandes cidades brasileiras.
As noções de segurança e de vida comunitária foram
substituídas pelo sentimento de insegurança e pelo isolamento
que o medo impõe. O outro deixa de ser visto
como parceiro ou parceira em potencial; o desconhecido
é encarado como ameaça. O sentimento de insegurança
transforma e desfigura a vida em nossas cidades.
De lugares de encontro, troca, comunidade, participação
coletiva, as moradias e os espaços públicos transformam-se
em palco do horror, do pânico e do medo.
A violência urbana subverte e desvirtua a função
das cidades, drena recursos públicos já escassos, ceifa
vidas – especialmente as dos jovens e dos mais pobres –,
dilacera famílias, modificando nossas existências dramaticamente
para pior. De potenciais cidadãos, passamos
a ser consumidores do medo. O que fazer diante desse
quadro de insegurança e pânico, denunciado diariamente
pelos jornais e alardeado pela mídia eletrônica? Qual
tarefa impõe-se aos cidadãos, na democracia e no Estado
de direito?
(Violência urbana, 2003.)