Leia o trecho do livro A dança do universo, do físico brasileiro
Marcelo Gleiser, para responder à questão.
Na dedicatória de seu livro O progresso da sabedoria
(1605) a Jaime I, sir Francis Bacon declara: “de todas as
pessoas ainda vivas que conheci, sua Majestade é o melhor
exemplo de um homem que representa a opinião de Platão,
de que todo conhecimento é apenas memória”. Embora Platão tenha provavelmente escrito essas linhas como uma alegoria à sua crença na imortalidade da alma, e Bacon, como
parte de um astuto plano para obter certos favores do rei,
podemos nos referir a elas como uma alegoria à enorme
importância que o pensamento grego exerceu e exerce no
desenvolvimento da cultura ocidental.
Após derrotar os persas em uma série de conflitos durante
as primeiras décadas do século V a.C., a civilização grega
viveu um século e meio de grande esplendor, inspirada pela
liderança de Péricles, que governou Atenas por 32 anos, de
461 a 429. Nem mesmo as amargas disputas entre Atenas,
Esparta e outros Estados, que acabaram resultando na Guerra
do Peloponeso, entre 431 e 404, conseguiram ofuscar o incrível nível de sofisticação atingido durante esse período. Nas
palavras de H. G. Wells, “durante esse período o pensamento
e o impulso criativo e artístico dos gregos ascenderam a níveis
que os transformaram numa fonte de luz para o resto da História”. Que essa luz tenha continuado a brilhar através dos tempos, sobrevivendo a séculos de intolerância religiosa e muitas
guerras, é a prova concreta de coragem intelectual daqueles
que acreditam que a busca do conhecimento é o antídoto contra a cegueira causada pela repressão e pelo medo.
(A dança do universo, 2006. Adaptado.)