Questões de Vestibular
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DR. FLORISMAL
Florismal!... Para Eugênio, aquele nome tinha um secreto encanto. Florismal aparecia quase todas as noites, chegava muito calmo, fumando o seu charuto de tostão e ia logo sentando na cadeira de balanço. Era um homem baixo, de cabelos ralos, quase calvo. No rosto gorducho e redondo, a barba forte era sempre uma sombra azulada, mesmo quando ele se escanhoava. Os dentes eram maus e miúdos. Florismal tinha uma voz macia e uma certa dignidade de estadista. Era um espírito conciliador e gabava-se de ter muita lábia. Nasci para advogado dizia. Se eu tivesse tido mais um pouco de juízo quando moço ... Calava-se, entortava a cabeça, batia a cinza do charuto e ficava em atitude sonhadora. Decerto a ver mentalmente o seu passado, os seus erros e uma carreira perdida. Ou então pensava apenas no efeito que aquelas palavras e aquela postura podiam estar produzindo nos interlocutores. A verdade era que amigos e conhecidos de Florismal sempre o chamavam para dar sentenças, e resolver questões. Diziase que o homenzinho arranjava causas para advogados sem clientela e ganhava com isso gordas comissões. Muito figurão tirava o chapéu ao cumprimentá-lo na rua. Florismal fazia até discursos políticos. Por isso tudo, os amigos lhe chamavam Dr. Florismal. A princípio, diziam doutor com uma pontinha de ironia. Florismal aceitava o título sorrindo, entre lisonjeado e divertido. Acabou ficando mesmo Dr. Florismal. Com o tempo, os amigos que gostavam dele esqueceram que aquilo era uma brincadeira e acabaram acreditando no título.
VERÍSSIMO, Érico. Olhai os lírios do campo. Rio de Janeiro:
Editora José Aguilar, 1966
I A concordância verbal não está correta em Fazem anos que Eugênio não vê Florismal.
II No período Com o tempo, os amigos que gostavam dele..., a palavra sublinhada é um pronome relativo.
III Em A verdade era que amigos e conhecidos de Florismal sempre o chamavam para dar sentenças..., o termo destacado é um objeto direto.
Texto para a questão
Consideração do poema
Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.
Considere as seguintes afirmações sobre diferentes elementos do texto:
I O verbo “rimarei”, empregado duas vezes no início do texto, pode ser entendido em seu sentido literal nas duas ocorrências.
II No verso “nem deslizar de lancha entre camélias” (2ª. estrofe), a palavra “deslizar” deve ser lida como substantivo e não como verbo.
III O pronome que ocorre na frase “se ainda as há” (3ª. estrofe), embora esteja no plural, relaciona-se, quanto ao sentido, com uma palavra no singular.
Está correto apenas o que se afirma em
Texto para a questão
CHEGANDO AO RECIFE, O RETIRANTE SENTA-SE PARA DESCANSAR AO PÉ DE UM MURO ALTO E CAIADO E
OUVE, SEM SER NOTADO, A CONVERSA DE DOIS COVEIROS
— O dia hoje está difícil;
não sei onde vamos parar.
Deviam dar um aumento,
ao menos aos deste setor de cá.
As avenidas do centro são melhores,
mas são para os protegidos:
há sempre menos trabalho
e gorjetas pelo serviço;
e é mais numeroso o pessoal
(toma mais tempo enterrar os ricos).
— pois eu me daria por contente
se me mandassem para cá.
Se trabalhasses no de Casa Amarela
não estarias a reclamar.
De trabalhar no de Santo Amaro
deve alegrar-se o colega
porque parece que a gente
que se enterra no de Casa Amarela
está decidida a mudar-se
toda para debaixo da terra.
João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina.