Questões de Vestibular
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“Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas".
(MEIRELES, 2000, p. 27).
“A matilha dos filhos
fareja o sonho inacabado,
perseguindo tua lapela castanha,
o açúcar do linho,
olor de café aquecido".
(CARPINEJAR, 2008, p. 58-59).
Em ambas as composições, os versos acima revelam que o sujeito lírico tem do mundo uma percepção
“Estávamos em fins de janeiro. Os paus-d'arco, floridos, salpicavam a mata de pontos amarelos; de manhã a serra cachimbava; o riacho, depois das últimas trovoadas, cantava grosso, bancando rio, e a cascata em que se despenha, antes de entrar no açude, enfeitava-se de espuma". (RAMOS, 1977, p. 86).
Embora produzido no contexto da estética modernista, o romance aproxima-se, na citação lida, a outro movimento literário marcado pela valorização e idealização da natureza, qual seja:
Surrealismo: Automatismo psíquico por meio do qual alguém se propõe a exprimir o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de controle exercido pela razão, fora de qualquer preocupação estética ou moral.
O Surrealismo assenta-se na crença da realidade superior de certas formas de associação, negligenciadas até aqui, na onipotência do sonho, no jogo desinteressado do pensamento.
(Apud Gilberto Mendonça Teles. Vanguarda europeia e Modernismo brasileiro, 1992. Adaptado.)
Tendo em vista as considerações de André Breton, assinale a alternativa cujos versos revelam influência do Surrealismo.
A questão abordam um poema do português Eugênio de Castro (1869-1944).
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rochonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.