Questões da Prova CPCON - 2009 - UEPB - Vestibular - Português - Literatura Brasileira e Inglês
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I - Em Poética, o comportamento extravagante e irônico das vanguardas faculta a crítica ao conservadorismo político e social veiculado pela poesia dos finais do século XIX e das duas primeiras décadas do século XX, propondo um “lirismo que é libertação”.
II - Irene no céu toca na questão étnica, um dos temas fundamentais para os modernistas da primeira geração, a partir do ponto de vista, neste sentido tipicamente modernista, da democracia racial, mais próximo de Gilberto Freyre que dos olhares sobre a questão como colocados por textos contemporâneos como Cidade de Deus, de Paulo Lins, por exemplo.
III - Com Poema tirado de uma notícia de jornal, começa um processo de rebaixamento da produção literária ao fato comum e vulgar, que terá contribuído em muito para a baixa qualidade da produção poética ao longo da segunda metade do século.
A partir do fragmento pode-se afirmar que em Boca do inferno:
I - Antonio Vieira rememora, aos setenta anos, sua trajetória no Brasil, seu envolvimento em questões que lhe trouxeram muitos inimigos. Sua luta em defesa de índios e de judeus o havia indisposto com muitos poderosos. Na cidade, muitos o insultavam às escondidas. Depois de tantos esforços, pouca coisa mudara, e nada indicava que mudaria, mas era preciso continuar lutando.
II - O fragmento é bom exemplo dos momentos em que o narrador parece incluir no texto um ponto de vista de cuja impessoalidade depende a denúncia de injustiças cometidas no Brasil ao longo de sua história e que tem sua origem no funcionamento desigual da sociedade baiana do século XVII.
III - No fragmento “e dessas mortes e destruição, nunca se veria castigo”, ao evocar o tempo futuro, para além do período em que se passa a narrativa, o narrador demonstra o viés contemporâneo de seu ponto de vista, como acontecerá em várias outras passagens do romance.
Veio a sua mente a figura de Gongora e Argote, o poeta
espanhol que tanto admirava, vestido como nos retratos em seu hábito eclesiástico
de capelão do rei: o rosto longo e duro, o queixo partido ao meio, as têmporas
rapadas até detrás das orelhas. Gongora tinha-se ordenado sacerdote aos cinqüenta
e seis anos. Usava um anel de Rubi no dedo anular da mão esquerda, que todos
beijavam. Gregório Matos queria, como o poeta espanhol, escrever coisas que não
fossem vulgares, alcançar o culteranismo. Saberia escrever assim? Seria dentro
de si um abismo. Se ali caísse, aonde o levaria? Não estivera Gongora tentando
unir a alma elevada do homem à terra e seus sofrimentos carnais? Gregório de
Matos estava no lado escuro do mundo, comendo
a parte podre do banquete. Sobre
o que poderia falar? Goza, goza el color,
da luz, el oro. Teria sido bom para Gregório se tivesse nascido na Espanha?
Teria sido diferente? “Ah, Gregório”, pensou o poeta, “Porque em cullis mundi te meteste?”
(Miranda,
2006, p. 9).
I - O narrador, que intencionalmente oscila entre a referência histórica imparcial e um olhar contemporâneo de certo estrato do período colonial, a Bahia do século XVII, expõe o paradoxo que há entre a suposta nobreza, “el oro”, da metrópole colonizadora e a vulgaridade de uma realidade em nada poética, “por que em culis mundi te meteste?”.
II - As angustiantes questões que o personagem Gregório se propõe, não só poéticas, também políticas, étnicas, sociais, refletem o declínio de uma certa aristocracia intelectual, e sua correlata visão de mundo, com o advento do capitalismo e de novas relações sociais. Do conflito entre uma consciência ainda presa a valores morais e religiosos do Classicismo e uma realidade que passa a funcionar à revelia de tais valores, estará repleta a obra e o projeto de vida do Gregório de Matos poeta.
III - As expressões vulgares com as quais o poeta se refere ao Brasil ao longo de toda a narrativa, de certo modo, refletem a visão sobre o país dos personagens principais do romance, ainda presos a uma hierarquização colonialista entre metrópole e colônia, como observado nestas palavras de Antonio Vieira, “o mundo está cheio de ladrões e a coisa aqui parece pior” (p. 58), e de personagens secundários como o vereador Luiz Bonicho, “qualquer lugar é melhor do que esta triste tafularia” (p. 34) ou da imigrante Anica de Melo, “escolhi o Brasil porque aqui todos se sentem labregos” (p. 143).