Questões ENEM de Português - Interpretação de Textos
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Autobiografia de José Saramago
Nasci numa família de camponeses sem terra, em
Azinhaga, uma pequena povoação situada na província
do Ribatejo, na margem direita do Rio Almonda, a uns
cem quilômetros a nordeste de Lisboa. Meus pais
chamavam-se José de Sousa e Maria da Piedade. José
de Sousa teria sido também o meu nome se o funcionário
do Registro Civil, por sua própria iniciativa, não lhe
tivesse acrescentado a alcunha por que a família de meu
pai era conhecida na aldeia: Saramago. (Cabe esclarecer
que saramago é uma planta herbácea espontânea,
cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência,
serviam como alimento na cozinha dos pobres.) Só
aos sete anos, quando tive de apresentar na escola
primária um documento de identificação, é que se veio
a saber que o meu nome completo era José de Sousa
Saramago… Não foi este, porém, o único problema de
identidade com que fui fadado no berço. Embora tivesse
vindo ao mundo no dia 16 de novembro de 1922, os meus
documentos oficiais referem que nasci dois dias depois,
a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família
escapou ao pagamento da multa por falta de declaração
do nascimento no prazo legal.
Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
LEMINSKI, P. Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2013.
A verdade sobre o envelhecimento das populações
Tem se tornado popular produzir grandes projeções de redução de prosperidade baseada no envelhecimento demográfico. Mas será que isso é realmente um problema?
A média de idade nos Estados Unidos é atualmente de 36 anos. Na Etiópia, a média é de 18 anos. O país com maior número de idosos é a Alemanha, onde a média de idade é de 45 anos. Países em que a população mais jovem domina são mais pobres, e aqueles com a população dominante mais idosa são mais ricos. Então por que temer o envelhecimento da população?
Existem pelo menos duas razões. A primeira é
psicológica: em analogia ao envelhecimento das pessoas,
sugere que, à medida que as populações envelhecem,
tornam-se mais fracas e perdem acuidade mental. A
segunda decorre dos economistas e de um indicador
conhecido como razão de dependência, que pressupõe
que todos os adultos com menos de 65 anos contribuem
para a sociedade, e todos com mais de 65 anos são um
peso. E a proporção de pessoas com mais de 65 anos
tende a aumentar.
LUTZ, W. Azul Magazine, ago. 2017 (adaptado).
O Globo, 12 fev. 2012 (adaptado).
Considerando-se os contextos de uso de “Todas chora”,
essa expressão é um exemplo de variante linguística
De acordo com alguns estudos, uma inovação do português brasileiro é o R caipira, às vezes tão intenso que parece valer por dois ou três, como em porrrta ou carrrne.
Associar o R caipira apenas ao interior paulista é uma
imprecisão geográfica e histórica, embora o R tenha sido
uma das marcas do estilo matuto do ator Mazzaropi em
32 filmes. Seguindo as rotas dos bandeirantes paulistas
em busca de ouro, os linguistas encontraram o R
supostamente típico de São Paulo em cidades de Minas
Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e oeste
de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, formando um
modo de falar similar ao português do século XVIII.
Quem tiver paciência e ouvido apurado poderá encontrar também na região central do Brasil o S chiado, uma característica típica do falar carioca que veio com os portugueses em 1808 e era um sinal de prestígio por representar o falar da Corte.
A história da língua portuguesa no Brasil está revelando as características preservadas do português, como a troca do L pelo R, resultando em pranta em vez de planta. Camões registrou essa troca em Os Lusíadas — lá está um frautas no lugar de flautas —, e o cantor e compositor paulista Adoniran Barbosa a deixou registrada em frases como “frechada do teu olhar”, do samba Tiro ao Álvaro.
FIORAVANTI, C. Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br. Acesso em: 11 dez. 2017.