Questões do Enem Comentadas sobre português
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O peru de Natal
O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.
ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000 (fragmento).
No fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom confessional do narrador em primeira pessoa revela uma concepção das relações humanas marcada por
A palavra inglesa "involution" traduz-se como involução ou regressão. A construção da imagem com base
na combinação do verbal com o não verbal revela a
intenção de
TEXTO I
Voluntário
Rosa tecia redes, e os produtos de sua pequena indústria gozavam de boa fama nos arredores. A reputação da tapuia crescera com a feitura de uma maqueira de tucum ornamentada com a coroa brasileira, obra de ingênuo gosto, que lhe valera a admiração de toda a comarca e provocara a inveja da célebre Ana Raimunda, de Óbidos, a qual chegara a formar uma fortunazinha com aquela especialidade, quando a indústria norte-americana reduzira à inatividade os teares rotineiros do Amazonas.
SOUSA, I. Contos amazônicos. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
TEXTO II
Relato de um certo oriente
Emilie, ao contrário de meu pai, de Dorner e dos nossos vizinhos, não tinha vivido no interior do Amazonas. Ela, como eu, jamais atravessara o rio. Manaus era o seu mundo visível. O outro latejava na sua memória. Imantada por uma voz melodiosa, quase encantada, Emilie maravilha-se com a descrição da trepadeira que espanta a inveja, das folhas malhadas de um tajá que reproduz a fortuna de um homem, das receitas de curandeiros que veem em certas ervas da floresta o enigma das doenças mais temíveis, com as infusões de coloração sanguínea aconselhadas para aliviar trinta e seis dores do corpo humano. "E existem ervas que não curam nada ", revelava a lavadeira, “mas assanham a mente da gente. Basta tomar um gole do líquido fervendo para que o cristão sonhe uma única noite muitas vidas diferentes". Esse relato poderia ser de duvidosa veracidade para outras pessoas, mas não para Emilie.
HATOUM, M. São Paulo: Cia. das Letras, 2008.
As representações da Amazônia na literatura brasileira
mantêm relação com o papel atribuído à região na
construção do imaginário nacional. Pertencentes a
contextos históricos distintos, os fragmentos diferenciam-se
ao propor uma representação da realidade amazônica em
que se evidenciam
O mundo das grandes inovações tecnológicas, dos avanços das pesquisas médicas e que já presenciou o envio de homens ao espaço é o mesmo lugar onde 1 bilhão de pessoas dormem e acordam com fome. A desnutrição ocupa o primeiro lugar no ranking dos 10 maiores riscos à saúde e mata mais do que a aids, a malária e a tuberculose combinadas. O equivalente às populações da Europa e da América do Norte, juntas, está de barriga vazia. E um futuro famélico aguarda a raça humana. Em 2050, apenas por razões ligadas às mudanças climáticas, o número de pessoas sem comida no prato vai aumentar em até 20%.
Disponível em: www.correiobraziliense.com.br. Acesso em: 22 jan. 2012.
Considerando a natureza do tema, a forma como está
apresentado e o meio pelo qual é veiculado o texto,
percebe-se que seu principal objetivo é
E: Diva ... tem algumas ... alguma experiência pessoal que você passou e que você poderia me contar ... alguma coisa que marcou você? Uma experiência ... você poderia contar agora...
I: É ... tem uma que eu vivi quando eu estudava o terceiro ano científico lá no Atheneu...né... é:: eu gostava muito do laboratório de química ... eu ... eu ia ajudar os professores a limpar aquele material todo ... aqueles vidros ... eu achava aquilo fantástico ... aquele monte de coisa ... né ... então ... todos os dias eu ia ... quando terminavam as aulas eu ajudava o professor a limpar o laboratório ... nesse dia não houve aula e o professor me chamou pra fazer uma limpeza geral no laboratório ... chegando lá ... ele me fez uma experiência ... ele me mostrou uma coisa bem interessante que ... pegou um béquer com meio d’água e colocou um pouquinho de cloreto de sódio pastoso... então foi aquele fogaréu desfilando... aquele fogaréu ... quando o professor saiu ... eu chamei umas duas colegas minhas pra mostrar a experiência que eu tinha achado fantástico ... só que ... eu achei o seguinte ... se o professor colocou um pouquinho... foi aquele desfile... imagine se eu colocasse mais ... peguei o mesmo béquer ... coloquei uma colher ... uma colher de cloreto de sódio ... foi um fogaréu tão grande ... foi uma explosão ... quebrou todo o material que estava exposto em cima da mesa eu branca... eu fiquei...olha..eu pensei que fosse morrer sabe ... quando ... o colégio inteiro correu pro laboratório pra ver o que tinha sido ...
CUNHA, M. A. F. (Org.) . Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade de Natal. Natal: EdUFRN, 1998.
Na transcrição de fala, especialmente, no trecho “eu branca...eu fiquei...olha...eu pensei que fosse morrer sabe...", há um estrutura sintática fragmentada, embora facilmente interpretável. Sua presença na fala revela
A obra do artista plástico Leonilson (1953-1993) marca
presença no panorama da arte brasileira e internacional.
Nessa obra, ele utilizou a habilidade técnica do bordado
manual para
Da timidez
Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico, só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.
[...]
O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma plateia, o tímido não pensa nos membros da plateia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a plateia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.
VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
Entre as estratégias de progressão textual presentes nesse trecho, identifica-se o emprego de elementos conectores. Os elementos que evidenciam noções semelhantes estão destacados em:
A técnica de jogos teatrais propõe uma aprendizagem não verbal, em que o aluno reúne os seus próprios dados, a partir de uma experimentação direta. Por meio do processo de solução de problemas, ele conquista o conhecimento da matéria.
KOUDELA, I. D. Jogos teatrais. São Paulo: Perspectiva, 1984 (adaptado).
Sob orientação do professor, os jogos teatrais são realizados na escola de forma que o estudante
Há muito se sabe que a Bacia Bauru - depósito de rochas formadas por sedimentos localizado entre os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul - foi habitada, há milhões de anos, por uma abundante fauna de crocodiliformes, um grupo de répteis em que estão inclusos os crocodilos, jacarés e seus parentes pré-históricos extintos. Entre as famílias que por lá viveram está a Baurusuchidae, que, na região, englobava outras seis espécies de crocodiliformes exclusivamente terrestres e com grande capacidade de deslocamento, crânio alto e comprimido lateralmente e com longos dentes serrilhados. Agora, em um artigo publicado na versão on-line da revista Cretaceous Research, um grupo de pesquisadores das universidades federais do Rio de Janeiro e do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, identificaram mais um membro dessa antiga família.
Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br. Acesso em: 2 nov. 2013.
A circulação do conhecimento científico ocorre de diferentes maneiras. Por meio da leitura do trecho, identifica-se que o texto é um artigo de divulgação científica, pois, entre outras características,
É uma partida de futebol
A bandeira no estádio é um estandarte
A flâmula pendurada na parede do quarto
O distintivo na camisa do uniforme
Que coisa linda é uma partida de futebol
Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Posso chorar se ele não ganhar
Mas se ele ganha, não adianta
Não há garganta que não pare de berrar
REIS, N.; ROSA, S. Samba poconé. São Paulo: Sony, 1996 (fragmento).
No Brasil, além de um esporte de competição, o futebol
é um meio de interação social que desperta paixão nas
pessoas. No trecho da letra da canção, esse esporte é
apresentado como um(a)
Brasil: o país dos 100 milhões de raios
Dos 3,15 bilhões de raios que golpeiam a Terra e seus habitantes durante um ano, 100 milhões deles vêm desabar em terras brasileiras. O número, divulgado no ano passado por uma equipe de cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, São Paulo, não é superado por nenhum outro país. E ficou bem acima das estimativas que davam conta de 30 milhões ao ano. Agora, sabemos com segurança: em quantidade de relâmpagos, ninguém segura este país.
FON, A.C.; ZANCHETTA, M.l. Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em:27jan. 2015
Diversos expedientes argumentativos são empregados
nos textos para sustentar as ideias apresentadas. Nesse
texto, a citação de um instituto especializado é uma
estratégia para
É viajando pelo mundo que os dois profissionais do Living Tongues Institute for Endangered Languages reúnem subsídios para formar os chamados “dicionários falantes” de idiomas em fase de extinção, com poucos falantes no planeta. “A maioria das línguas do mundo é oral, o que significa que não estão escritas ou seus falantes não costumam escrevê-las. E, apesar de os projetos tradicionais dos linguistas serem os de escrever gramáticas e dicionários, gostamos de pensar em línguas vivas, e saber que as pessoas as estão falando. Então, se você vai a um dicionário, deve ser capaz de ouvi-lo. Foi com isso em mente que criamos os dicionários para oito de algumas das línguas mais ameaçadas do mundo”, disse o linguista K. David Harrison. Para os ativistas de cada comunidade com idioma ameaçado, esse dicionário é uma ferramenta que pode ser usada para disseminar o conhecimento da língua entre os mais jovens. Para todas as outras pessoas interessadas, é a oportunidade de encontrar sons e formas de discursos humanos desconhecidos para grande parte da população do globo. É a diversidade linguística escondida e que agora pode ser revelada.
Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br. Acesso em: 28jul. 2012 (adaptado).
Considerando o projeto dos “dicionários falantes”, compreende-se que o trabalho dos linguistas apresentado no texto objetiva
Essa história em quadrinhos aborda a padronização da
imagem corporal na contemporaneidade. O fator que pode
ser identificado como influenciador do comportamento
obsessivo retratado nos quadrinhos é o
TEXTO I
280 novos veículos por dia no estado
Frota, que chega a quase 1,4 milhão, deve
dobrarem 13 anos
A cada dia, uma média de 280 novos veículos chega às ruas do Espírito Santo, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-ES). No final do mês passado, a frota já era de 1 395 342 unidades, 105 mil a mais do que no mesmo mês de 2011. Os números incluem automóveis, motocicletas, caminhões e ônibus, entre outros tipos. De dezembro para cá, o crescimento foi de mais de 33 mil veículos. E, se esse ritmo continuar, a frota do Espírito Santo vai dobrar até 2025. O diretor-geral do Detran-ES relaciona o crescimento desses números à facilidade encontrada para se comprar um veículo. “Há toda uma questão econômica, da facilidade de crédito. Como oferecemos um transporte coletivo que ainda precisa ser melhorado, inevitavelmente o cidadão que pode adquire seu próprio veículo”.
Disponível em: http://gazetaonline.globo.com. Acesso em: 10 ago. 2012 (adaptado).
TEXTO II
Os textos I e II tratam do mesmo tema, embora sejam
de gêneros diferentes. Estabelecendo-se as relações
entre os dois textos, entende-se que o Texto II tem a
função de
Se o dançarino já preparou toda a sensação antes, ele não está no vazio... já está acabado. Nesse momento (vazio) é o seu corpo que está dizendo algo, não é você. Quando o ator está nesse momento de desistir, é nesse momento que ele deve continuar; é nesse momento que chega algo para quem está assistindo. Não importa tanto a coreografia e todo esse trabalho. O mais importante é isso, o vazio, e como você continua com isso...
COLLA, A. C. Caminhante, não há caminhos, só rastros. São Paulo: Perspectiva, 2013.
O texto considera que um corpo vazio (de som, sentimento e pensamento) pode fazer qualquer coisa. Nessa concepção, a atuação do dançarino alcança o ápice de
Maria Diamba
Para não apanhar mais
falou que sabia fazer bolos:
virou cozinha.
Foi outras coisas para que tinha jeito.
Não falou mais:
Viram que sabia fazer tudo,
até molecas para a Casa-Grande.
Depois falou só,
só diante da ventania
que ainda vem do Sudão;
falou que queria fugir
dos senhores e das judiarias deste mundo
para o sumidouro.
LIMA, J. Poemas negros. Rio de Janeiro: Record, 2007.
O poema de Jorge de Lima sintetiza o percurso de vida de Maria Diamba e sua reação ao sistema opressivo da escravidão. A resistência dessa figura feminina é assinalada no texto pela relação que se faz entre
O adolescente
A vida é tão bela que chega a dar medo.
Não o medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas
esse medo fascinante e fremente de curiosidade
[que faz
o jovem felino seguir para frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.
Medo que ofusca: luz!
Cumplicentemente,
as folhas contam-te um segredo
velho como o mundo:
Adolescente, olha! A vida é nova...
A vida é nova e anda nua
— vestida apenas com o teu desejo!
QUINTANA, M. Nariz de vidro. São Paulo: Moderna, 1998.
Ao abordar uma etapa do desenvolvimento humano, o poema mobiliza diferentes estratégias de composição. O principal recurso expressivo empregado para a construção de uma imagem da adolescência é a
Quinze de Novembro
Deodoro todo nos trinques
Bate na porta de Dão Pedro Segundo.
— Seu imperado, dê o fora que nós queremos tomar conta desta bugiganga.
Mande vir os músicos.
O imperador bocejando responde:
— Pois não meus filhos não se vexem
me deixem calçar as chinelas
podem entrar à vontade:
só peço que não me bulam nas obras completas de
[Victor Hugo.
MENDES, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
A poesia de Murilo Mendes dialoga com o ideário poético
dos primeiros modernistas. No poema, essa atitude
manifesta-se na
As lutas podem ser classificadas de diferentes formas, de acordo com a relação espacial entre os oponentes. As lutas de contato direto são caracterizadas pela manutenção do contato direto entre os adversários, os quais procuram empurrar, desequilibrar, projetar ou imobilizar o oponente. Já as lutas que mantêm o adversário a distância são caracterizadas pela manutenção de uma distância segura em relação ao adversário, para não ser atingido pelo oponente, procurando o contato apenas no momento da aplicação de uma técnica (golpe).
Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares de educação física para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio. Curitiba: SEED, 2008 (adaptado).
Com base na classificação presente no texto, são exemplos de luta de contato direto e de luta que mantém o adversário a distância, respectivamente,
Árvore é cortada para dar lugar à propaganda
sobre preservação ambiental
“Uma criança abraça uma árvore com o sorriso no rosto. No fundo verde, uma mensagem exalta a importância da preservação da natureza e lembra o Dia da Árvore”. O que seria um roteiro padrão para uma peça publicitária virou motivo de revolta e indignação em uma cidade do interior de São Paulo. Isso porque uma empresa de outdoor derrubou uma árvore centenária em um terreno para a instalação de suas placas.
A empresa teria informado que tinha autorização da prefeitura e da polícia ambiental para cortar a árvore. Sobre a propaganda, a empresa disse que foi “uma infeliz coincidência”, já que não sabia o que iria ser anunciado.
Em nota, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista, informou que não há nenhuma autorização em nome da empresa para o corte da árvore.
A multa, segundo a polícia ambiental, varia entre R$100 e R$ 1 000 por árvore ou planta cortada.
Disponível em: http://oglobo.globo.com. Acesso em: 21 set. 2015 (adaptado).
O texto apresenta uma crítica ao uso social de um outdoor. Essa crítica está associada ao fato de