Questões do Enem
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esse cão que me segue
é minha família, minha vida
ele tem frio mas não late nem pede
ele sabe que o que eu tenho
divido com ele, o que eu não tenho
também divido com ele
ele é meu irmão
ele é que é meu dono
bicho se é por destino sina ou sorte
só faltando saber se bicho decente
bicho de casa, bicho de carro, bicho
no trânsito, se bicho sem norte na fila
se bicho no mangue, se bicho na brecha
se bicho na mira, se bicho no sangue
catar papel é profissão, catar papel
revela o segredo das coisas, tem
muita coisa sendo jogada fora
muita pessoa sendo jogada fora
OLIVEIRA, V. L. O músculo amargo do mundo. São Paulo: Escrituras, 2014.
No poema, os elementos presentes do campo de percepção do eu lírico evocam um realinhamento de significados, uma vez que
TEXTO III
A arte pode estar, às vezes, muito mais preparada do
que a ciência para captar o devir e a fluidez do mundo,
pois o artista não quer manipular, mas sim “habitar” as
coisas. O famoso artista francês Rodin, no seu livro
L’Art (A Arte, 1911), comenta que a técnica de fotografia
em série, mostrando todos os momentos do galope de
um cavalo em diversos quadros, apesar de seu grande
realismo, não é capaz de capturar o movimento. O corpo
do animal é fotografado em diferentes posições, mas
ele não parece estar galopando: “na imagem científica
[fotográfica], o tempo é suspenso bruscamente”.
Para Rodin, um pintor é capaz, em única cena, de nos transmitir a experiência de ver um cavalo de corrida, e isso porque ele representa o animal em um movimento ambíguo, em que os membros traseiros e dianteiros parecem estar em instantes diferentes. Rodin diz que essa exposição talvez seja logicamente inconcebível, mas é paradoxalmente muito mais adequada à maneira como o movimento se dá: “o artista é verdadeiro e a fotografia mentirosa, pois na realidade o tempo não para”.
FEITOSA, C. Explicando a filosofia com arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004
Observando-se as imagens (Textos I e II), o paradoxo
apontado por Rodin (Texto III) procede e cria uma maneira
original de perceber a relação entre a arte e a técnica,
porque o(a)
Olhando o gavião no telhado, Hélio fala:
— Esta noite eu sonhei um sonho engraçado.
— Como é que foi? — pergunta o pai.
— Quer dizer, não é bem engraçado não. É sobre uma casa de joão-de-barro que a gente descobriu ali no jacarandá.
— A gente, quem?
— Eu mais o Timinho.
— O que tinha dentro?
— Um ninho.
— Vazio?
— Não.
— Tinha ovo?
— Tinha.
— Quantos? — pergunta a mãe.
Hélio fica na dúvida. Não consegue lembrar direito.
Todos esperam, interessados. Na maior aflição, ele pergunta ao irmão mais novo:
— Quantos ovos tinha mesmo, Timinho? Ocê lembra?
ROMANO, O. O ninho. In: Casos de Minas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
Esse texto pertence ao gênero textual caso ou “causo”, narrativa popular que tem o intuito de
TEXTO II
Os artistas, liberados do peso da história, ficavam livres para fazer arte da maneira que desejassem ou mesmo sem nenhuma finalidade. Essa é a marca da arte contemporânea, e não é para menos que, em contraste com o Modernismo, não existe essa coisa de estilo contemporâneo.
DANTO, A. Após o fim da arte: a arte contemporânea e os limites da história. São Paulo: Odysseus, 2006.
A obra de Ernesto Neto revela a liberdade de criação
abordada no texto ao
Para os chineses da dinastia Ming, talvez as favelas cariocas fossem lugares nobres e seguros: acreditava-se por lá, assim como em boa parte do Oriente, que os espíritos malévolos só viajam em linha reta. Em vielas sinuosas, portanto, estaríamos livres de assombrações malditas. Qualidades sobrenaturais não são as únicas razões para considerarmos as favelas um modelo urbano viável, merecedor de investimentos infraestruturais em escala maciça. Lugares com conhecidos e sérios problemas, elas podem ser também solução para uma série de desafios das cidades hoje. Contanto que não sejam encaradas com olhar pitoresco ou preconceituoso. As favelas são, afinal, produto direto do urbanismo moderno e sua história se confunde com a formação do Brasil.
CARVALHO, B. A favela e sua hora. Piauí, n. 67, abr. 2012.
Os enunciados que compõem os textos encadeiam-se por meio de elementos linguísticos que contribuem para construir diferentes relações de sentido. No trecho “Em vielas sinuosas, portanto, estaríamos livres de assombrações malditas”, o conector “portanto” estabelece a mesma relação semântica que ocorre em