Questões Militares de Português - Denotação e Conotação
Foram encontradas 164 questões
Texto 5
Sonho meu
José Augusto
Eu posso ir onde eu quiser
Rabiscos em algum papel
Chegar bem perto das estrelas e tocar no céu
Sonhando eu posso ser um rei
Quem sabe até superstar
É só deixar a porta aberta pra ilusão entrar
Eu posso até falar com Deus
De noite em minha oração
E caminhar por entre nuvens feitas de algodão
Eu posso tudo que eu quiser
É só querer acreditar
Se eu fechar bem forte os olhos e quiser sonhar
Sonho meu
Sonho meu
Tudo pode acontecer
É só acreditar na vida, acreditar na sorte e tudo pode ser
Sonho meu
Sonho meu
Eu posso tudo que eu sonhar
Se eu levar a vida a sério e fizer direito, se eu acreditar
Com base no texto, responda a questão.
O texto a seguir é referência para a questão.
Diverti-me imensamente com a história dos imbecis da web. Para quem não acompanhou, foi publicado em alguns jornais e também on-line que no curso de uma chamada lectio magistralis em Turim eu teria dito que a web está cheia de imbecis. É falso. A lectio era sobre um tema completamente diferente, mas isso mostra como as notícias circulam e se deformam entre os jornais e a web. A história dos imbecis surgiu numa conferência de imprensa durante a qual, respondendo a uma pergunta que não me lembro mais, fiz uma observação de puro bom senso. Admitindo que em 7 bilhões de habitantes exista uma taxa inevitável de imbecis, muitíssimos deles costumavam comunicar seus delírios aos íntimos ou aos amigos do bar – e assim suas opiniões permaneciam limitadas a um círculo restrito. Hoje uma parte consistente dessas pessoas tem a possibilidade de expressar as próprias opiniões nas redes sociais e, portanto, tais opiniões alcançam audiências altíssimas e se misturam com tantas outras ideias expressas por pessoas razoáveis.
[...]
É justo que a rede permita que mesmo quem não diz coisas sensatas se expresse, mas o excesso de besteira congestiona as linhas. E algumas reações descompensadas que vi na internet confirmam minha razoabilíssima tese. Alguém chegou a dizer que, para mim, as opiniões de um tolo e aquelas de um ganhador do prêmio Nobel têm a mesma evidência e não demorou para que se difundisse viralmente uma inútil discussão sobre o fato de eu ter ou não recebido um prêmio Nobel – sem que ninguém consultasse sequer a Wikipédia.
(Umberto Eco – Os imbecis e a imprensa responsável, 2017.)
Sobre a reportagem, responda o item.
TEXTO 6
Água pra gente é igual doce pra criança', diz moradora de Itu
Cidade enfrenta crise no abastecimento há sete meses.
Protesto na tarde de segunda (22) terminou em confronto com a polícia.
O problema da falta d'água em Itu (SP), que enfrenta racionamento desde fevereiro, tem afetado profundamente a vida dos moradores da cidade. Muitos relatam que já chegaram a ficar até 20 dias sem água nas torneiras. "Hoje, quando vem água, a gente fica que nem criança quando ganha doce. Ninguém acredita que ela chega”, relata a dona de casa Adriana Augusta Galdeno, de 41 anos, moradora do Jardim Aeroporto.
A insatisfação com o problema culminou em um
protesto na tarde de segunda-feira (22), na frente da
Câmara Municipal, que terminou em conflito com a Tropa
de Choque da Polícia Militar.
Segundo a dona de casa, a família teve que mudar a rotina para se adaptar às torneiras secas. "Quando a água chega, geralmente é de madrugada. Por isso, a gente deixa de dormir para poder lavar roupa, louça e até tomar banho. Tomar banho de caneca já virou um hábito. Faz dez dias que não recebemos água. Não posso lavar roupa e faz uns dez dias que eu não sei o que é tomar banho de chuveiro, porque só temos como fazer isso de caneca”, diz. Para não deixar a louça suja dentro de casa e, assim, atrair insetos, ela optou por colocá-las em uma edícula no fundo da casa. "Não sei mais o que fazer", lamenta.
VOCABULÁRIO:
Edícula: pequena casa anexa a uma construção principal.
Fragmento
http://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/2014/09/
TEXTO 01
O relógio
O relógio de Nasrudin vivia marcando a hora errada.
- Mas será que não dá para tomar uma providência? - alguém comentou.
- Qual providência? - falou Mullá.
- Bem, o relógio nunca marca a hora certa. Qualquer que seja a providência já será uma melhora.
Nasrudin deu uma martelada no relógio. O relógio parou.
- Você tem toda a razão - disse ele. - De fato, já dá para sentir uma melhora.
- Eu não quis dizer "qualquer providência”, assim literalmente. Como é que agora o relógio pode estar melhor do que antes?
- Bem, antes ele nunca marcava a hora certa. Agora, pelo menos, duas vezes por dia ele vai estar certo.
AL-DIN, K. N. O relógio. In: Costa, F. M. de. (org.). Os 100 melhores contos de humor da literatura universal. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
Todos os seres humanos necessitam de segurança. Todos os seres humanos têm o direito de serem protegidos do medo, de todas as espécies de medo.
O medo tem raízes profundas na alma dos seres. Radica- -se no inconsciente e é objeto constante da pesquisa científica, com destaque para a Psicanálise.
Temos medo do abandono, de passar necessidade e privações, medo das agressões, da doença, da morte.
Uma sociedade que se funde no “espírito de solidariedade” procurará construir modelos de convivência que afastem o medo do horizonte permanente de expectativas. Numa sociedade fraterna, o homem não será “lobo” do outro homem.
Nossa Constituição determina que a Segurança Pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos. Será exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, mas, antes de tudo, com absoluta prioridade, sem qualquer bem ou valor que se possa assemelhar a este, a Segurança Pública deve preservar a incolumidade das pessoas.
O provimento da Segurança Pública inscreve-se dentro de um quadro de respeito à Cidadania. A Cidadania exige que se viva dentro de um ambiente de Segurança Pública. Não pode haver pleno usufruto da Cidadania, se trabalhamos e dormimos sob o signo do medo, do temor, da ameaça de dano ou lesão a nossa individualidade ou à incolumidade de nossa família.
A busca da Segurança Pública e a busca da Cidadania Plena deverão constituir um projeto solidário do Poder Público e da Sociedade.
(Disponível em: http://www.dhnet.org.br. Acesso em 13.09.2019. Adaptado)
A solidão é a grande ameaça
Quando eu era jovem, eu nunca tive o conceito de “redes”. Eu tinha o conceito de laços humanos, de comunidades, esse tipo de coisa, mas não redes. Qual é a diferença entre comunidade e rede? A comunidade precede você. Você nasce numa comunidade. Por outro lado, temos a rede.
O que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a rede é a que é feita e mantida viva por duas atividades diferentes. Uma é conectar e a outra é desconectar. E eu acho que a atratividade do novo tipo de amizade, o tipo de amizade do Facebook, como eu a chamo, está exatamente aí. Que é tão fácil de desconectar.
É fácil conectar, fazer amigos. Mas o maior atrativo é a facilidade de se desconectar. Imagine que estamos falando não de amigos on-line, conexões on-line, compartilhamento on-line, mas sim de conexões off-line, conexões de verdade, frente a frente, corpo a corpo, olho no olho. Neste caso, romper relações é sempre um evento muito traumático. Você tem que encontrar desculpas, você tem que se explicar, você tem que mentir com frequência e, mesmo assim, você não se sente seguro, porque seu parceiro diz que você não tem direitos, que você é um porco etc. É difícil. Na internet, é tão fácil, você só pressiona delete e pronto. Em vez de 500 amigos, você terá 499, mas isso será apenas temporário, porque amanhã você terá outros 500, e isso corrói muito os laços humanos.
Os laços humanos são uma mistura de bênção e maldição.
Bênção porque é realmente muito prazeroso, é muito satisfatório ter outro parceiro em quem confiar e fazer algo por ele ou ela. É um tipo de experiência indisponível para a amizade no Facebook; então, é uma bênção... E eu acho que muito jovem não tem nem mesmo consciência do que eles realmente perderam, porque eles nunca vivenciaram esse tipo de situação.
Por outro lado, há a maldição, pois quando você entra no laço, você espera ficar lá para sempre. Você jura, você faz um juramento: até que a morte nos separe, para sempre. O que isso significa? Significa que você empenha o seu futuro. Talvez amanhã, ou no mês que vem, ou no ano que vem, haja novas oportunidades. Agora você não consegue prevê-las, porque você ficará preso aos seus antigos compromissos, às suas antigas obrigações.
Então, trata-se de uma situação muito ambivalente e, consequentemente, de um fenômeno curioso dessa pessoa solitária numa multidão de solitários. Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo.
ZIGMUNT BAUMAN. Fronteiras.com/artigos/zygmunt-bauman-la-solidao-e-a-grande-ameaça. (Adaptado)
Google abandona seus ideais de juventude
Todo mundo precisa amadurecer um dia. Para o Google, essa transição do idealismo da juventude para o realismo ranzinza da meia-idade está em curso.
A mais recente prova do pragmatismo do Google é o projeto Dragonfly, uma versão do serviço de buscas que pode se enquadrar às normas de censura da China para que a empresa volte a oferecer esse produto no país, depois de suspendê-lo em 2010. Esse não é o primeiro exemplo de transformação do lema da empresa, “não seja mau”, para algo mais parecido com “caia na real”.
Além de irritar o público e legisladores, essas práticas de negócios inspiraram reações adversas de parte dos empregados da companhia e colocaram em risco a capacidade de o Google recrutar os grandes talentos da tecnologia.
Os críticos internos e externos afirmam que abandonar a missão idealista que a empresa um dia se atribuiu poderia conduzir a usos ainda menos éticos de sua poderosa tecnologia. Se a empresa não administrar bem as prioridades, a disposição de confiar nela, da parte de seus empregados e clientes, poderia erodir, o que colocaria em risco seu crescimento.
“Quando você começa com uma empresa ética, apegada à sua missão, e remove a ética, isso cria um problema”, disse Tiffany Li, pesquisadora da escola de direito da Universidade Yale. “Se o Google tiver uma versão de seu serviço de buscas aberta à censura, para a China, outros países pedirão a mesma coisa”, afirmou.
Em um setor no qual as maiores empresas crescem ao investir nelas mesmas e em sua tecnologia, a tentativa do Google de amadurecer significa entrar em um jogo perigoso, não só para a democracia mundial, mas para os lucros da empresa.
(Christopher Mims. The Wall Street Journal. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/ 28.08.18. Adaptado)
Mais ócio, por favor
Quando o sociólogo italiano Domenico De Masi lançou o conceito de “ócio criativo”, em seu livro homônimo de 2000, foi alçado à condição de pensador revolucionário e à lista dos mais vendidos.
O sucesso se deveu à explicação do espírito daquele tempo, ao apontar que tão essencial ao crescimento profissional quanto o estudo e o trabalho eram os momentos de desconexão com a labuta que abririam as portas para a criatividade e para “pensar fora da caixinha”. A intenção era alcançar uma fusão entre estudo, trabalho e lazer para aprimorar o conhecimento, vivenciar diferentes experiências e instigar a criatividade.
Com o lançamento de “Uma Simples Revolução”, um best-seller, o sociólogo prega uma nova guinada no pensamento empresarial.
Ao analisar as taxas de desemprego e de desocupação, para De Masi, a única saída é reduzir a carga de trabalho individual e abrir novas vagas. “Se as regras do jogo não mudarem, o desemprego – aberto ou oculto – está destinado a crescer em dimensão patológica”, escreve.
O Brasil é um dos países que vivem essa realidade, com um desemprego de mais de 13 milhões de pessoas, segundo dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mais de 5 milhões de pessoas procuram trabalho no país há um ano ou mais, o que representa quase 40% desse total.
A lógica do mercado não ajuda a melhorar esses números. As empresas tentam reduzir suas folhas de pagamento, mesmo que isso signifique mais horas extras.
Só que, de acordo com o sociólogo, quanto mais horas um indivíduo trabalha, mais ele contribui para a taxa de desocupação. “Na Alemanha, onde todos trabalham, em média, 1400 horas, o desemprego está em 3,8% e o emprego está em 79%. Já na Itália, onde um italiano trabalha em média 1800 horas, o desemprego está em 11% e o emprego está em 58%”, detalha.
“Para eliminar o desemprego, o único remédio válido é reduzir as horas de trabalho, mantendo o salário e aumentando o número de vagas”, diz, em entrevista ao UOL.
(Lúcia Valentim Rodrigues, “Mais ócio, por favor”. https://noticias.uol.com.br. Adaptado)
Nem sempre, num dado texto, as palavras apresentam um único sentido, aquele encontrado no dicionário. Empregadas em determinados contextos, elas ganham novos sentidos, figurados, carregados de valores afetivos ou sociais. A comunicação é feita através das várias significações dos signos linguísticos. Quando transmitimos ou recebemos uma mensagem, seja por linguagem oral, escrita ou não verbal, estabelecemos comunicação. Sintonizados com esses conceitos, concluímos que, em uma língua, a conotação e a denotação são as variações de significados que ocorrem no signo linguístico.
A esse respeito, releia os dois primeiros parágrafos do texto. Sobre eles, é correto afirmar que as palavras ou expressões estão empregadas denotativamente em
Alfabeto de emojis
Antônio Prata*
1. “Paradoxalmente” – escreverá um historiador em 2218 – “foi a disseminação da escrita como principal forma de comunicação o que criou as condições para a sua própria morte”. O alfabeto latino, este fantástico conjunto de 26 letras que, combinadas infinitamente, podem nomear realidades tão distintas quanto “sol”, “schadenfreud” e “Argamassa Cimentcola Quartzolite”, começou sua lenta caminhada em direção ao brejo em setembro de 1982.
2. Foi ali, não muito depois da derrota do Brasil para a Itália de Paolo Rossi, que o cientista da computação Scott Fahlman sugeriu a colegas de Carnegie Mellon University, com os quais se comunicava online, usarem :) para distinguirem as piadas dos assuntos sérios. Mal sabia o tal Scott, criando essa possibilidade, que aquela inocente boca de parêntese era o protótipo da goela que viria a engolir quase 3.000 anos de alfabeto como se fosse uma sopa de letrinhas.
3. Os emoticons se espalharam pelo mundo de tal maneira que inundaram o ICQ, os chats e, principalmente, os celulares, mas nem todos os seres humanos aderiram imediatamente à moda. Alguns se recusaram por conservadorismo, alguns por uma burrice gráfica atávica que os impedia de compreender as imagens. [...]
4. Emoticons foram o início do fim, mas só o início. O coaxar dos sapos no brejo começou a incomodar mesmo com a chegada dos emojis. Confesso que, de novo, demorei pra entrar na onda. Desta vez não por desconhecimento, nem por burrice, mas por senso do ridículo. Quando que um adulto como eu iria mandar pra outro adulto um “smile” bicudo soltando um coração pelo canto da boca, como se fosse uma bola de chiclete? Nunca! “Nunca”, no caso, revelou-se estar a apenas uns cinco anos de distância da minha indignação.
5. Hoje eu mando coração pulsante pra contadora que me lembrou dos documentos do IR, mando John Travolta de roxo pro amigo que me pergunta se está confirmado o jantar na quinta e, se eu pagasse imposto sobre cada joia que envio daquele mãozão amarelo, não ia ter coração pulsante capaz de fazer minha contadora resolver a situação.
6. “Em meados do século 21” – escreverá o historiador de 2218 – “a humanidade abandonou o alfabeto e passou a se comunicar só por emojis”. A frase, claro, será toda escrita com emojis. Haverá tantos, iguaizinhos e tão variados, que será possível citar Shakespeare usando apenas desenhinhos. (Shakespeare, aliás, dá pra escrever. Imagem de milk-shake + duas chaves (keys) + pera (pear). Shake + keys + pear).
7. Teremos voltado ao tempo dos hieróglifos e não me assombra se as condições de vida regredirem às do antigo Egito, mas ninguém se importará, cada um de nós, hipnotizado pela tela que tantos apregoaram ser uma nova pedra de Roseta capaz de traduzir o mundo em nossas mãos, mas que no fim se revelou só um infernal e escravizante pergaminho. :-(
* Escritor e roteirista.
(Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2018/04/alfabeto-de-emojis.shtml>
Nem sempre, num dado texto, as palavras apresentam um único sentido, aquele encontrado no dicionário. Empregadas em determinados contextos, elas ganham novos sentidos, figurados, carregados de valores afetivos ou sociais. A comunicação é feita através das várias significações dos signos linguísticos. Quando transmitimos ou recebemos uma mensagem, seja por linguagem oral, escrita ou não verbal, estabelecemos comunicação. Sintonizados com esses conceitos, concluímos que, em uma língua, a conotação e a denotação são as variações de significados que ocorrem no signo linguístico.
A esse respeito, releia os dois primeiros parágrafos do texto. Sobre eles, é correto afirmar que as palavras ou expressões estão empregadas denotativamente em
Sobre as diferenças entre a redação técnica e a estilística, está correto o que se afirma em
I. A linguagem de uma é denotativa por excelência, já a da outra è marcada pela predominância da conotação.
II. A comunicação inequívoca faz parte das características desta última, de modo que construções dúbias podem marcar presença apenas naquela.
III. A finalidade discursiva se volta para a informação e o esclarecimento naquela e para a expressão artística por meio da escrita e para o entretenimento nesta.
IV. A clareza e a objetividade são marcas peculiares da primeira, enquanto o uso de recursos voltados para a estética, possibilitando múltiplas interpretações, identifica a segunda.
V Uma se respalda em um conjunto de normas utilizadas pelo poder público para redigir seus documentos, e a outra tem por objetivo convencer o interlocutor sobre alguma temática enfocada.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão
corretas é a
A grama do vizinho
Ao amadurecermos, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem.
Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim. Ao amadurecermos, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos para dançar pela sala e também motivos para nos refugiarmos no escuro, alternadamente. Só que os motivos para nos refugiarmos no escuro raramente são divulgados.
Nesta era de exaltação de celebridades, fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas, tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes? Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista.
As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento.
(Martha Medeiros,www.refletirpararefletir.com.br/cronicas -de-martha-medeiros/ Adaptado. Acessado em 09.08.2018)